Um minuto. É o tempo da verdade para as 16 equipas de estudantes que participam na 5.ª edição do CanSat Portugal. O concurso de construção de satélites do tamanho de latas de refrigerantes - daí o nome Can (lata, em inglês) e Sat, de satélite - promovido pela ESA (Agência Espacial Europeia) em colaboração com a Ciência Viva, termina hoje na ilha de Santa Maria, nos Açores, com as apresentações dos resultados dos voos e a eleição do vencedor. É durante aproximadamente os 60 segundos da queda do CanSat que os alunos põem à prova o projeto que estiveram a preparar nos últimos meses. Isto, quando as coisas correm bem: nem todos os satélites caíram do lançador, que a bordo de um ultraleve deixa cair os aparelhos a 1000 metros de altitude. Falhar um lançamento é sinónimo de desclassificação. Mas nem por isso os alunos perdem o entusiasmo pela iniciativa..Foi isso que aconteceu à equipa Procyon. Cristiana Montana até se portou bem a bordo do pequeno satélite e os alunos conseguiram captar do solo os seus sinais de vida e ver como se comportou a bordo, mas a lata não chegou a sair do lançador. Cristiana Montana é uma barata, trazida de Leiria, pela equipa da Escola Secundária de Domingos Sequeira. Tendo por base "a história de um planeta genérico, queremos perceber se a barata sobrevive, dentro de um invólucro, com sensor UV, de oxigénio e com um sistema de vídeo", explicava antes do lançamento final o estudante João Monteiro. O objetivo era ambicioso e, para tristeza de todos, acabou por não resultar para esta equipa que participa pela primeira vez no CanSat Portugal..Entre os CanSat que não saíram na final - dois no total dos 15 lançados, uma equipa acabaria por desistir antes do lançamento -, contam--se ainda dificuldades como as de encontrar os pequenos satélites no solo próximo da pista do aeroporto de Santa Maria. O vento forte foi afastando alguns para mais longe, enquanto uma equipa de cinco pessoas corre para os recolher. Se do lado de lá da rede (onde parte o ultraleve e caem os CanSat) a correria é muita, do lado de cá, o vasto piso que outrora foi um kartódromo é polvilhado aqui e além pelas equipas que tentam seguir a trajetória do seu satélite e captar os sinais através das antenas. Tudo isto conjugado com a ansiedade de se saber se vai ou não resultar, sob o olhar atento do ministro da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor, e dos vários elementos do júri que vão questionando as equipas..Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de Lisboa, é um dos que vai avaliar os projetos e segue atentamente a trajetória dos CanSat, munido de binóculo, lá vai calculando o tempo que demoram a chegar a terra e a distância a que são lançados. Mostra-se ainda satisfeito com a constante renovação das equipas. "Nos primeiros anos havia aí equipas que já eram quase profissionais e isso também não era justo para os outros", confessa..Para quem está na pista à espera de ouvir pelas colunas as indicações vindas do avião, e à procura de sinal com as antenas em riste, a primeira vitória é: "Estamos a captar no avião"; segue-se a segunda: "Caiu, caiu". Depois é apanhar o sinal - "estamos a receber" - e por fim, quando tudo corre bem: "Recuperámos o CanSat". Foi por estas etapas que passou a equipa Gsat, do Colégio Guadalupe, da Verdizela, concelho do Seixal. A equipa tinha duas antenas: uma manual e outra que seguia o percurso do CanSat de forma automática e tudo funcionou. "Queremos medir a humidade, o magnetismo e altitude, para no fundo determinar se num determinado planeta há condições propícias à vida", resume o professor Dario Zabumba, que até agora fez o pleno de todas as edições da competição. "Os alunos é que vão mudando", refere..De concorrente a trabalhador.No concurso todos os projetos têm duas missões obrigatórias. A primeira é igual para todos e consiste na medição da temperatura do ar e da pressão atmosférica com transmissão por telemetria dos parâmetros medidos para a estação terrestre, pelo menos uma vez por segundo, refere o regulamento. A missão secundária é definida por cada equipa e tem por base testar aplicações práticas dos satélites..Alguns querem testar se há vida noutros planetas, outros influenciados pelos problemas recentes do país testam a libertação de sementes para reflorestação ou alternativas às comunicações SIRESP, e há ainda quem queira apanhar microplásticos ou detetar lixeiras a céu aberto (ver caixa). Missões que obrigam a juntar várias especialidades num só grupo: há os que dominam a mecânica, outros a programação e outros a ciência. Tudo a que o CanSat se propõe, que é despertar o interesse pelas áreas das ciências, tecnologia, matemática e engenharia..Um desenvolvimento que já deu frutos. Ricardo Sousa fez parte da equipa que já ganhou duas vezes a edição nacional e que em 2016 venceu também a final europeia. Hoje trabalha na Edisoft que dá apoio técnico ao concurso e opera a estação de rastreio da ESA, na ilha. O jovem de 21 anos, que terminou o curso profissional em Ciência da Informação, na Escola de Novas Tecnologias dos Açores, tinha como sonho voltar para a sua ilha. "Surgiu a oportunidade de estagiar na Edisoft, decidi aproveitar, fiquei. Foi a cereja no topo do bolo porque eu queria voltar e tive a oportunidade de vir para um sítio que me permite crescer profissionalmente", conta. É gestor de redes e não tem dúvidas de que o CanSat lhe abriu portas..Os microssatélites voltam a rasgar os céus de Santa Maria entre 28 de junho e 1 de julho para a final europeia..A jornalista viajou a convite da Ciência Viva