Cuidado com a alimentação do cão: o melhor amigo do homem pode estar a espalhar superbactérias
As refeições cruas para cães estão cheias de bactérias resistentes a vários medicamentos, incluindo a antibióticos de última geração, e por isso representam "um sério risco para a saúde pública". Quem o diz é um estudo da Universidade do Porto, apresentado no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosa.
Como? Com uma simples festa, ou lambidela, ou má higiene.
Os investigadores analisaram 55 amostras de alimentos para cães, de 25 marcas, incluindo 14 tipos de crus congelados, à procura de bactérias Enterococci - capazes de viver inofensivamente no intestino humano e animal, mas que podem ser perigosas em outras partes do corpo e, pior, podem ser resistentes a antibióticos.
Segundo o estudo, todas as amostras de alimentos crus para cães continham Enterococci. E o sequenciamento genético revelou que algumas dessas bactérias resistentes eram do mesmo tipo encontrado em pacientes de hospitais no Reino Unido, Alemanha e Holanda.
"A tendência de alimentar cães com comida crua pode estar a ajudar à disseminação de bactérias resistentes a antibióticos", concluiu a pesquisa, que estabelece uma relação entre os animais e os donos. Um simples corte ou arranhão na mão basta para a transição ser feita através de uma festinha ou uma carinhosa lambidela.
Por isso, a investigadora Ana Freitas pede à União Europeia maior "consciencialização sobre os riscos potenciais para a saúde na comercialização de dietas de crus para animais de estimação" e uma revisão das medidas de higiene.
Ainda segundo a investigadora, os donos devem lavar sempre as mãos após manusear a ração e eliminar as fezes.
As conclusões não são uma surpresa para a comunidade científica. Em 2019 um estudo da Universidade de Zurique chegou à mesma conclusão numa pesquisa alargada a cães e gatos. Há ainda outra pesquisa portuguesa, que testou donos de animais de estimação de 80 famílias em busca de bactérias com o gene mcr-1, com resistência ao antibiótico de último recurso colistina.
Todos os 126 humanos eram saudáveis, enquanto metade dos 102 animais tinham infeções de pele ou do trato urinário. Resultado? Quatro humanos e oito cães testaram positivo para bactérias e em duas casas o gene foi encontrado tanto no cão como no dono. "A análise genética das amostras sugeriu que, em um desses dois casos, o gene foi transmitido entre o animal de estimação e o dono", explicaram em comunicado.