Consumo de droga em Lisboa supera níveis pré-pandemia
Cocaína é a substância mais detetada nas águas residuais do país, mostra estudo europeu. Consumo dispara em Lisboa e Almada, Porto resiste.
Houve uma subida desenfreada do consumo de drogas estimulantes ilícitas na Área Metropolitana de Lisboa, mostra um estudo realizado pelo grupo europeu SCORE, em associação com o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês). O projeto, que analisou águas residuais em 75 cidades de 25 países europeus, revela que o consumo disparou em 2021 para níveis superiores até aos registados na pré-pandemia, em duas das três cidades portuguesas analisadas: Lisboa e Almada. Já no Porto, a pandemia moderou os hábitos de consumo, que foram este ano inferiores ainda aos de 2020.
Relacionados
Segundo os dados revelados pelo EMCDDA, as amostras de águas residuais de Lisboa e Almada mostraram um aumento de vestígios da presença de todas as substâncias analisadas: anfetaminas, metanfetaminas, canábis, MDMA (ecstasy) e cocaína. Esta última é, de longe, a mais consumida, tendo disparado para níveis superiores aos 500 miligramas diários por 1.000 habitantes em Lisboa (500.48 mg) e para 404.51 mg diários em Almada.
Ora, esses são valores bem acima dos registados em 2020 - primeiro ano da pandemia -, que foram de 365.8 em Lisboa e de 233.14 em Almada. E acima também dos registados no último ano pré-pandémico, 2019. Nessa altura, as águas residuais de Lisboa mostravam níveis de cocaína nos 453.34 mg diários e Almada apenas 162.54.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Quanto às outras substâncias analisadas neste estudo, a canábis foi a segunda mais detetada, com 109.35 mg diários em Almada (107.07 no ano de 2020) e 101.77 em Lisboa (91.24 no ano anterior). Segue-se o MDMA (ecstasy), com 48.68 mg diários em Lisboa (44.68 há um ano) e 20.39 em Almada (17.24 em 2020). Anfetaminas subiram para 5.66 mg diários em Lisboa e 3.47 em Almada e metanfetaminas para 7.92 em Lisboa e 1.03 em Almada.
No Porto, a tendência é contrária e o consumo desceu em todas as substâncias. A cocaína também foi a droga mais detetada nas águas residuais portuenses, com 237.8 mg diários, uma redução face aos 329.85 do ano de 2020. Os vestígios de canábis baixaram de 63.21 para 47.55, e o MDMA de 21.33 para 8.04. A presença de anfetaminas e metanfetaminas no Porto foi abaixo do nível de quantificação.
Este estudo europeu analisou amostras diárias de águas residuais nas zonas de afetação das estações de tratamento de águas residuais entre março e maio de 2021 e aponta para um aumento global no consumo de quatro das cinco drogas estudadas. A MDMA/ecstasy foi a única droga que registou diminuições na maioria das 75 cidades analisadas.
Os dados mais recentes mostram que a cocaína, embora continue a ser mais proeminente nas cidades da Europa Ocidental e do Sul, está cada vez mais presente nas cidades da Europa Oriental. Do mesmo modo, as metanfetaminas, tradicionalmente concentradas na República Checa e na Eslováquia, encontram-se atualmente presentes em cidades um pouco por toda a Europa.
"Os resultados mostram um aumento e uma propagação da maioria das substâncias estudadas, refletindo um problema das drogas simultaneamente generalizado e complexo. Ao longo da última década, a análise de águas residuais evoluiu de uma técnica experimental para uma ferramenta consolidada de monitorização do consumo de drogas ilícitas na Europa. Este último estudo explora o potencial futuro de investigação sobre as águas residuais, desde a identificação de novas substâncias psicoativas à avaliação das intervenções destinadas a programas de saúde pública e ao reforço da capacidade de preparação e resposta", refere Alexis Goosdeel, diretor do EMCDDA.