Consumo de droga aumenta na Europa. E as incertezas na Ucrânia e Afeganistão
Com a flexibilização das regras impostas devido à covid-19, o consumo e tráfico de droga aumentaram e já estão em níveis pré-pandémicos. Na Europa há cada vez mais substâncias ilícitas, nomeadamente sintéticas. Afeganistão aumenta produção de papoila.
A produção de drogas sintéticas na Europa está a aumentar, existem cada vez mais estupefacientes deste tipo disponíveis na União Europeia e o consumo de cocaína, crack, anfetaminas e metanfetaminas aumentou em algumas cidades europeias entre 2020 e 2021.
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A este cenário cada vez mais complexo relacionado com o consumo, produção e distribuição de droga no continente europeu acrescente-se a incerteza sobre o impacte que terá a atual guerra na Ucrânia nesta "mundo", com destaque para a situação dos ucranianos toxicodependentes que estavam em tratamento ou a necessitar dele.
Este retrato e os alertas/chamadas de atenção sobre a situação do Velho Continente no que diz respeito ao consumo de drogas são o tema do relatório divulgado na manhã desta terça-feira (14 de junho) pelo Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (EMCDDA na sigla em ingês).
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Nas 60 páginas do Relatório Europeu sobre Drogas 2022: Tendências e Evoluções é feito o retrato de cada droga disponível na Europa (idade dos consumidores, preços máximos e médios da venda no mercado, médias de consumo, mortalidade, tratamentos etc) e deixados diversos avisos.
É referida, por exemplo, a estimativa de que 83,5 milhões de pessoas --29% dos adultos (entre os 15 e os 64 anos) -- na União Europeia tenham consumido pelo menos uma vez uma droga ilícita, sendo que os homens (50,5 milhões) reconheceram mais esse consumo que as mulheres (30 milhões).
Quanto à droga mais escolhida, essa continua a ser a canábis (22 milhões de adultos disseram ter consumido no último ano), seguindo-se os estimulantes.
Na análise às tendências de consumo do último ano o documento do EMCDDA destaca o facto de conforme foram sendo flexibilizadas as restrições motivada pela pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 foi aumentando o consumo de drogas, estando já a par do período pré-pandémico.
Situação também reportada pelos serviços de tratamento da toxicodependência e outros que também já estão ao ritmo da situação antes da covid-19.
Uma nova droga por semana
O mercado está a funcionar a um ritmo tal que o Observatório chama a atenção para o facto de semanalmente estar a surgir uma nova substância psicoativa (NSP) - atualmente existem 880 NSP monitorizadas por esta agência.
Uma novidade referida no documento é que em 2020 a maioria das cantinonas sintéticas (um estimulante derivada da planta Catha edulis) que foram distribuídas na Europa tiveram origem na Índia. Um local de produção novo e que poderá indicar, segundo o Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência, uma adaptação do mercado aos controlos que os países fazem, o que leva a problemas no abastecimento dos mercados.
Em adaptação parece estar igualmente o mercado da canábis. A droga mais consumida na Europa apresenta produtos cada vez mais diversificados (incluindo produtos comestíveis). Além disso ao nível político também há -- ou estão a ser preparadas/analisadas -- cada vez mais regulamentação ao nível da sua utilização para fins médicos, por exemplo.
Em crescendo está a disponibilização da cocaína e das anfetaminas. A ação autoridades policiais levou ao desmantelamento de 350 laboratórios de produção de drogas ilegais.
No comunicado que acompanha o documento, Alexis Goosdeel, diretor do EMCDDA, chama a atenção para o facto de que "as drogas tradicionais nunca estiveram tão acessíveis e novas substâncias potentes continuam a surgir. Atualmente, quase tudo o que tem propriedades psicoativas pode ser uma droga, uma vez que as linhas entre substâncias lícitas e ilícitas são difusas".
Muito trabalho a fazer na recuperação e tratamento
No documento é chamada a atenção para o facto de os países não estarem a conseguir cumprir as metas de aumento dos serviços de tratamento e redução de danos na Europa para quem consome drogas injetáveis. Segundo os dados disponibilizados em 2020 apenas a República Checa, a Espanha, o Luxemburgo e a Noruega garantiram ter atingido os objetivos estipulados pela Organização Mundial de Saúde "de serem fornecidas 200 seringas por ano e por pessoa que consome drogas e de ter 40% da população de consumidores de opiáceos de alto risco em tratamento com agonistas de opiáceos, um fator de proteção contra a overdose de droga".
Recordando os problemas de saúde que o consumo de drogas injetáveis potencia, o Observatório frisa que na União Europeia poderão ter morrido 5800 pessoas por overdose envolvendo drogas ilícitas e que muitas destas, além dos estupefacientes, consumiam também álcool.
Situação internacional problemática
Há no documento um olhar mais atento a dois países e à sua situação: Afeganistão e Ucrânia.
No primeiro, o Observatório chama a atenção para o facto de apesar da proibição da produção, venda e tráfico de drogas ilícitas no país -- em vigor desde este ano --, continuam a existir plantações de papoilas.
Uma situação problemática e que pode ter implicações até na situação financeira do país pois às dificuldades sentidas por surgir como resposta a tentação de traficar cocaína para a Europa, podendo assim tornar-se uma fonte de rendimento.
Ainda neste país, está a ser detetada uma aposta na produção de metanfetaminas, o que poderá ser uma forma de abastecer o mercado europeu atualmente autossuficiente. O que aliado a apreensões efetuadas em zonas de rotas tradicionais de tráfico de heroína está a deixar as autoridades em alerta.
No que diz respeito à Ucrânia, os alertas vão no sentido da necessidade de apoiar os toxicodependentes do país que procurem refúgio na Europa, ao mesmo tempo que será necessário dar-lhes apoio ao nível dos cuidados de stresse psiológico.
cferro@dn.pt
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