Consumo de cocaína e drogas sintéticas a aumentar. Cartéis mexicanos atuam na Europa
O mercado europeu da cocaína está a registar níveis "sem precedentes" no que diz respeito ao tráfico, levando a que a disponibilidade desta droga esteja a atingir níveis "historicamente elevados". Ao mesmo tempo as investigações da Europol mostram existir cada vez mais uma colaboração entre os grupos criminosos europeus e mexicanos, com estes a participarem no tráfico e produção de drogas sintéticas em território do Velho Continente.
Estas são duas das conclusões apresentadas na manhã desta sexta-feira num documento do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (EMCDDA na sigla em inglês) onde são analisadas as tendências de produção e tráfico de droga no Continente.
Este relatório, que conta com a colaboração da Europol, incide sobre dois tipos de drogas: cocaína e metanfetaminas.
No caso da primeira refere que o mercado é "vasto e em expansão". Destaca ainda que a Europa é uma zona de trânsito deste estupefaciente para o Médio Oriente e Ásia.
As monitorizações e investigações detetaram, todavia, uma alteração: "Verifica-se um aumento da produção na Europa, o que indica mudanças no papel da região no comércio internacional de cocaína. Uma grande variedade de pessoas e de redes criminosas molda a complexa oferta de cocaína para, e dentro, da UE. O potencial para o aparecimento no mercado de novos produtos de cocaína que se podem fumar suscita preocupações em relação aos futuros riscos para a saúde."
O aumento da procura de estupefacientes está a deixar as autoridades preocupadas como frisa o diretor do EMCDDA citado no documento que acompanhar o relatório. "A nossa análise recente mostra que estamos agora perante uma ameaça crescente de um mercado de droga mais diversificado e dinâmico, impulsionado por uma colaboração mais estreita entre organizações criminosas europeias e internacionais. Esta situação resultou em níveis recorde de disponibilidade de drogas, aumento de violência e da corrupção e de maiores problemas de saúde", alertou.
Em relação a cocaína, o Observatório destaca que é a segunda droga mais consumida na União Europeia - a primeira é a canábis - estando estimado o valor no mercado retalhista, em 2020, em 10,5 mil milhões de euros.
Os dados recolhidos pelas autoridades mostram ainda que cerca de 3,5 milhões de europeus entre os 15 e os 64 anos assumiram ter consumido esta droga no último ano e 14 milhões responderam nos inquéritos efetuados que já tinham consumido cocaína ao longo da vida.
Quanto a apreensões, em 2020 três países representaram três quartos do total : Bélgica (70 toneladas), Países Baixos (49 toneladas) e Espanha (37 toneladas). Em Portugal terão sido apreendidas 10 toneladas.
De acordo com o Observatório a maior parte da droga apreendida chegou à Europa em contentores de transporte marítimo e a maior parte deles foram detetados nos portos da Europa Oriental e na Turquia.
Colômbia, Bolívia e Peru são referenciados como os maiores produtores.
Quanto às drogas sintéticas, o relatório do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência alerta para o facto de estar a crescer o mercado de metanfetamina. Esta droga sintética é produzida na UE e depois distribuída nos mercados internos e externos.
É destacado o facto de estar a aumentar a dimensão, sofisticação e produção nos laboratórios situados na Bélgica e nos Países Baixos, principalmente desde 2019.
Outro ponto relevado é a ligação entre grupos criminosos europeus e mexicanos pois têm sido apreendidas várias toneladas de droga oriundas daquele país da América Latina.
"A Europa é uma importante região produtora de drogas sintéticas, tanto para os mercados internos como externos. É cada vez mais um ponto de transbordo importante para drogas provenientes de outros locais e destinadas a outras partes do mundo. Quer no caso da cocaína como no da metanfetamina há provas de que grupos criminosos da América Latina e da Europa são parceiros na produção, tráfico e na distribuição", sublinha o diretor do EMCDDA Alexis Goosdeel.