Comunidade surda quer fazer-se ouvir
Censos por apurar dificultam contabilização
Os dados estatísticos não são muito rigorosos no que respeita às pessoas surdas em Portugal. De acordo com o Inquérito Nacional de Incapacidades, Deficiências e Desvantagens - publicado pelo Instituto Nacional para a Reabilitação, em 1996 - existiam nessa altura cerca 115 066 pessoas com deficiência auditiva e 19 172 com surdez. Mais tarde, os Censos de 2001 registaram 84 172 deficientes auditivos, e dez anos depois eram ainda menos claros na área da deficiência e nomeadamente sobre as pessoas surdas, uma vez que distinguem apenas a população com dificuldades na realização de algumas atividades diárias como "ouvir" e que pode ser causado por motivos de saúde ou de idade. "Claramente isto não esclarece o número efetivo", sublinha Pedro Costa.
Cursos de Língua Gestual Portuguesa
Durante muito tempo apenas Setúbal era apontado no mapa como único local no país onde era possível frequentar o ensino da língua gestual portuguesa. Nos últimos anos Coimbra e Porto passaram a fazer parte do leque de opções, através das respetivas Escolas Superiores de Educação.
Língua sim, linguagem não
Um dos erros mais comuns no que respeita ao universo dos surdos diz respeito à forma como comunicam entre si, traduzindo para os outros, que designam por "ouvintes". Não raras vezes há quem diga e escreva "linguagem gestual", o que é "perfeitamente incorreto", como sustenta a intérprete Joana Sousa. O que está correto é a designação LGP - língua gestual portuguesa.
Associações espalhadas por todo o país
A falta de apoio nos serviços públicos é muitas vezes colmatada pelas associações de surdos que existem em todo o país, integradas na federação presidida por Pedro Costa. É lá que decorrem muitas vezes diversas atividades de integração da comunidade. Em Leiria está sediada a Associação de Surdos da Alta Estremadura, que encontra pares no Oeste, vale do Ave, Algarve, Porto, Amadora, Águeda, Cascais, Almada, Porto e Lisboa. No site da FPAS, em www.fpasurdos.pt, estão disponíveis todos os contactos das diversas associações espalhadas pelo país.
O exemplo que vem da Holanda
Está marcado para a próximo dia 1 de outubro o workshop "Futuro da Comunidade Surda - Seniores", uma jornada que promete debater um fator comum e transversal a toda a sociedade: o envelhecimento. Por isso mesmo a Federação das Associações de Surdos decidiu trazer a Portugal os promotores de um projeto inédito, situado na Holanda. Trata-se da De Gelderhorst, uma residência/lar de idosos exclusivamente para pessoas surdas. O Gelderhorst é o único centro em toda a Europa para surdos idosos, nestes moldes, composto por um lar e 81 apartamentos, com acesso a todos os cuidados médicos e de enfermagem.
Depois do testemunho dos representantes holandeses, haverá lugar para uma mesa-redonda com a eurodeputada Marisa Matias, Maria José Serôdio, presidente do conselho diretivo do Instituto Nacional para a Reabilitação, e Rui Pinheiro, secretário da direção da FPAS. Falta ainda confirmar a presença da secretária de Estado para a Inclusão e do ministro da Solidariedade.
15 euros por hora para poder ter um intérprete
Só o Ministério da Justiça e a Segurança Social dispõem de apoio na língua gestual, desde o início deste ano. Um intérprete custa no mínimo 15 euros/hora e é suportado pelos surdos, por exemplo, nas idas ao médico.