Combate às alterações climáticas está longe de ser uma prioridade na vida dos portugueses
Apesar de 71% dos portugueses reconhecerem que não agir contra as alterações climáticas é falhar com as gerações futuras, a crise ambiental está longe de ser uma prioridade nas suas vidas. Segundo o estudo “Clima de Mudança: Perceções sobre os Desafios Ambientais em Portugal”, apresentado esta quarta-feira, 25 de junho, na Fundação Calouste Gulbenkian, as alterações climáticas surgem apenas no 10.º lugar entre uma lista de 18 temas que mais preocupam os cidadãos em Portugal, atrás de áreas como saúde, desigualdade social e corrupção.
O inquérito traça um retrato preocupante da relação entre os portugueses e a sustentabilidade. Embora 83% dos inquiridos acreditem que poderiam fazer mais pelo ambiente, apenas uma minoria o faz efetivamente. Os principais obstáculos mencionados são os custos elevados e a ausência de alternativas viáveis. Para 52% dos inquiridos, adotar hábitos sustentáveis significa um esforço financeiro acima das suas possibilidades.
Entre os mais jovens (18-24 anos), a distância em relação às causas ambientais é ainda maior. Apenas 13% integram o grupo dos “Entusiastas” - cidadãos proativos e comprometidos -, enquanto a maioria se identifica com perfis de baixa ou nula participação ambiental. Ansiedade com o custo de vida e o desemprego explicam parte desse desinteresse ambiental.
A partir do universo de inquiridos e da relação que cada um mantém com o meio ambiente, o estudo permitiu traçar cinco perfis, dividindo os inquiridos por:
- Entusiastas (25%), indivíduos proativos e motivados, que já adotam práticas sustentáveis.
- Esforçados (27%), que correspondem a cidadãos comprometidos, mas frustrados com a falta de apoio coletivo.
- Recetivos (25%), cidadãos interessados, mas inconsistentes nos hábitos.
- Ocupados (15%), cujo envolvimento é limitado devido às exigências da rotina.
- Desinteressados (8%), perfil que corresponde a cidadãos sem qualquer interesse ou envolvimento com a causa ambiental.
Segundo a nota divulgada, "fazendo uma leitura mais fina dos dados, foi possível concluir que, enquanto os Entusiastas abarcam uma larga maioria de cidadãos entre os 45 e os 60 anos (60%), este perfil apenas abrange 13% de jovens entre os 18 e os 24 anos." Mais: "É o segmento dos Desinteressados que reúne o maior número de jovens, que revelam estar mais ansiosos com o aumento do custo de vida ou com o desemprego do que com a sustentabilidade ambiental."
O espaço público também falha em liderar pelo exemplo nas práticas ambientais: só 21% consideram que o espaço público reflete práticas sustentáveis, apesar de 65% considerarem que essa deveria ser uma referência.
O estudo revela ainda que abordagens punitivas são menos eficazes do que incentivos e recompensas para estimular comportamentos sustentáveis. Já quanto às organizações ambientais, os inquiridos consideram que estas continuam a enfrentar desafios na comunicação e mobilização da sociedade, embora o seu papel seja amplamente reconhecido.
A investigadora Filipa Dias alerta: “Não basta apelar à consciência. É preciso mostrar que viver de forma sustentável é, antes de tudo, melhor para as pessoas.”