Colégios privados com inscrições esgotadas para o próximo ano letivo
A situação fragilizada do ensino público devido aos protestos e greves dos professores e pessoal não docente está a levar a um aumento da procura pelos colégios privados, havendo já mais inscrições do que o habitual para o próximo ano letivo. Esta é a perspetiva de Rodrigo Queiroz e Melo, diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), que adiantou ao DN que já se faz sentir alguma pressão nos estabelecimentos de ensino privado para 2023/2024.
"Neste preciso momento não estão a ocorrer muitas transições [do público para o privado] por nos encontrarmos a metade do ano e haver a preocupação por parte dos pais de não causar uma mudança repentina nos alunos. Mas para o próximo ano letivo, muitos colégios já fecharam as pré-inscrições", afirma.
Com a falta de aulas, avaliações e, no geral, a continuação de um ambiente escolar inseguro já desde o dia 9 de dezembro, é previsível que muitos pais e encarregados de educação comecem a procurar alternativas para as crianças e jovens no ensino particular.
Considerando as greves, Queiroz e Melo refere que esta "não é uma luta" do ensino privado, no entanto, "tal como todos os portugueses, temos o interesse de que o ano letivo possa voltar a decorrer de forma normal". Ainda assim, "está a haver alguma pressão no ensino privado" quanto à procura e às inscrições de novos alunos num futuro muito próximo, sublinha o responsável da AEEP.
Do ensino pré-escolar ao secundário, em Portugal existem 5587 estabelecimentos de ensino público, segundo os dados disponibilizados pela PORDATA face aos resultados dos Censos de 2021. Este número contrasta com os 2654 estabelecimentos de ensino privado - que representam quase metade.
Durante os últimos anos, o número de escolas públicas tem vindo a diminuir, perdendo quase nove mil estabelecimentos de ensino em pouco mais de 20 anos, de acordo com dados do Ministério da Educação (ME).
Por um lado contrário, os colégios privados têm crescido, assim como o total de estudantes que os frequentam.
A partir desta segunda-feira, prosseguem as greves por distrito, desta vez em Castelo Branco. Além disso, para os dias 28 de janeiro e 11 de fevereiro já estão marcadas duas "grandes" manifestações em Lisboa, que contarão inclusive com a presença da Federação Nacional de Educação (FNE).
As duas reuniões negociais entre o Ministério da Educação e os sindicatos do setor, que tiveram lugar na semana passada, terminaram sem um acordo entre as duas partes. E o fim da instabilidade nas escolas parece estar longe de ser alcançado sem haver cedências.
Os dirigentes do S.T.O.P (Sindicato de Todos os Profissionais de Educação), André Pestana, e FENPROF (Federação Nacional Dos Professores), Mário Nogueira - dois dos grandes rostos desta luta pela educação - consideraram insuficientes as propostas apresentadas pelo ministro João Costa.
Por sua vez, a tutela pediu "boa-fé negocial" e "bom senso" aos professores, garantindo um esforço para responder às reivindicações apresentadas e para haver entendimento.
Sem aulas, sem refeições e sem apoios para alunos com necessidades educativas especiais, muitas escolas de norte a sul do país continuarão de portas fechadas até data incerta, após o pedido do ministro por serviços mínimos ter sido recusado pelo S.T.O.P..
Por sua vez, os professores prometem continuar a marchar pela valorização da sua carreira, após anos de estagnação.
Já para os alunos, apenas se mantém a incerteza diária da realização de aulas e avaliações, bem como a esperança de que as consequências no percurso escolar sejam solucionadas quando se regressar à "normalidade".
ines.dias@dn.pt