Coimbra recebe conferência para discutir benefícios da canábis medicinal
O Auditório da Unidade Central da Faculdade de Medicina de Coimbra recebe este sábado a 3ª Conferência Nacional de Canábis Medicinal, um evento que tem como objetivo de facilitar a partilha de conhecimentos científicos atualizados entre profissionais de saúde e debater os benefícios de terapêutica com canábis medicinal.
"Este congresso é importante para estruturar, de facto, quem são as pessoas certas para receber este tipo de tratamentos e perceber exatamente que tipo de tratamentos é que estão disponíveis", afirma Raul Marques Pereira, especialista em Medicina Geral e Familiar da Unidade Local de Saúde do Alto Minho e que irá participar na mesa-redonda “Canábis Medicinal: A importância de ter um produto avaliado e aprovado pelo Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde)”.
O médico relembra que até há pouco tempo não havia quase nenhum fármaco à base de canábis disponível em Portugal e que o facto de mais estarem a ser aprovados cria a necessidade de enquadrar e formar profissionais de saúde quanto às suas utilizações.
"É importante enquanto profissionais de saúde termos presente que estes fármacos existem, que há novos fármacos e formulações, e que será importante termos um consenso na gestão de doentes. Normalmente a canábis medicinal só é utilizada em segunda ou terceira linha, ou seja, nunca como tratamento inicial de patologias".
A canábis medicinal pode ser utilizada em várias situações, sendo as principais a dor crónica, a epilepsia e tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, e algumas situações ligadas à insónia. Entre as indicações para utilização destes produtos estão ainda esclerose múltipla, náuseas e vómitos causados por quimioterapia, estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes em tratamento oncológico ou com sida.
"É importante que os doentes recorram a produtos regulados que possam adquirir na farmácia, e não online em que os produtos não estão regulados".
O médico especialistas em Medicina Geral e Familiar explica que o grande benefício dos canbinóides se prende com o facto de estes produtos atuarem de uma forma fisiológica diferente de outros fármacos, ou seja, ativam uma série de recetores que certos medicamentos não conseguem.
"Com a regulamentação e escolhendo a dose certa para cada doente, nós conseguimos criar um efeito que não conseguimos com mais nenhum fármaco", explica o médico. "Estes fármacos têm um benefício adicional grande, principalmente para aquelas situações limite em que não há resposta com as terapias mais convencionais".
O Infarmed aprovou, esta sexta-feira, três autorizações de colocação no mercado de preparações à base de canábis para fins medicinais, passando a existir quatro produtos farmacêuticos à venda em Portugal. A utilização de canábis para fins medicinais é permitida em Portugal desde 2019.
O médico considera que esta aprovação foi fundamental. "Mostra claramente que há validade científica nesta classe terapêutica e temos que separar muito bem o que são os canabinoides para uso médico dos outros. Esta aprovação torna isso mais relevante", afirma.
Raul Marques Pereira considera que não haveria aprovação do Infarmed se não houvesse benefício para os doentes. "Para nós é todo um mundo que se abre".
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