Cirurgia robótica vai combater cada vez mais o cancro digestivo
Aos 42 anos, Rogério Ribeiro Ferreira estava preparado para tudo menos para ouvir um diagnóstico de cancro. Nunca fumou, sempre praticou desporto, fazia uma alimentação regrada e por isso estranhou o desconforto intestinal que em fevereiro de 2016 o incomodava. Por ser jovem e não ter antecedentes familiares, o primeiro médico que consultou não viu necessidade de pedir exames, apenas medicação. Mas os sintomas persistiram e Rogério acabou por fazer dois exames: uma colonoscopia e uma endoscopia. "Logo aí tive o diagnóstico: tinha um tumor (maligno) no reto", conta ao DN, agora que "o susto passou", o cancro foi removido e as sessões de quimioterapia terminaram em agosto.
Um tumor que ainda provoca a morte a cerca de três mil pessoas por ano, segundo afirmou em julho o presidente da Europacolon Portugal, Vítor Neves, lembrando que surgem anualmente oito mil casos.
Depois desse exame, e de ter sido encaminhado para o IPO, Rogério preparava-se para iniciar um duro ciclo de radio e quimioterapia antes da cirurgia, quando uma amiga lhe falou de uma técnica desconhecida para a maioria dos cidadãos: a cirurgia robótica. "Pensei que não tinha nada a perder em ouvir uma segunda opinião e fui a uma consulta com o Dr.. Carlos Vaz, no hospital da CUF", recorda.
Agora, Rogério acredita que foi a melhor opção: conseguiu acionar um seguro de saúde que lhe permitiu experimentar essa técnica, que em Portugal só está disponível em alguns hospitais privados. A cirurgia não lhe deixou as sequelas que tanto temia (otomização - conhecida como "saco", incontinência ou impotência sexual), e está convencido que tal ficou a dever-se ao método pouco convencional: a cirurgia feita com auxílio de um interface digital, manuseada pelo médico através de uma consola.
O cirurgião Carlos Vaz lembra-se bem do caso. Responsável pela Unidade de Cirurgia Robótica da CUF e Coordenador da Unidade do Cólo e Recto do Instituto CUF de Oncologia, é considerado um dos maiores especialistas em robótica em Portugal. Dedica-se à cirurgia do colon e reto há cerca de 20 anos, é um adepto da laparoscopia, e nos últimos sete anos tem vindo a operar cada vez mais doentes com a ajuda da robótica. "Nem sempre é possível em todos os casos, mas é cada vez mais possível em mais casos", sublinha ao DN, certo de que, nos últimos anos, o método evoluiu muito e "aumentou muito também a complexidade do trabalho do cirurgião. Não ter o doente aberto durante algum tempo, evita muitos riscos. No entanto, as mãos e os dedos têm capacidades que aqueles instrumentos muito rígidos não têm". E é aí que a cirurgia robótica muda tudo. "É um sistema com um interface digital, que ajuda o cirurgião a usar os instrumentos que vão dentro do doente. Conseguimos utilizar instrumentos que tenham as mesmas articulações que a mão e punho, ir com esses instrumentos a sítios mais recônditos", explica o cirurgião, que acredita numa democratização da robótica, a exemplo do que sucedeu com toda a tecnologia que hoje utilizamos, como os computadores e telemóveis. Estamos a falar de um aparelho de última geração que custa dois milhões e meio de euros, acrescido de 1500 a 3000 mil euros por cada procedimento. Quando falou ao DN o cirurgião participava numa reunião em Bruxelas, onde algumas empresas apresentavam outros modelos de robô. "Quando estas companhias apresentarem os seus valores, os preços virão por aí abaixo", acredita. Para o doente, há muitos benefícios: "Quando se coloca na mão do cirurgião um instrumento que é muito mais preciso, corta menos vasos sanguíneos - tem menos sangue. Corta menos nervos - tem menos limitações funcionais. As suturas saem sempre perfeitas, porque a câmara dá imagem a três dimensões".