Nascida em Nova Iorque em 1916, a geóloga Dorothy Vitalino mantinha em 2005 um papel ativo no seio do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Nas décadas anteriores, a investigadora servira a instituição fundada em 1879. Em paralelo, Vitalino nutrira o seu interesse pela antiguidade clássica. Em 1973, Dorothy entregou ao prelo o livro Legends of the Earth (Lendas da Terra), obra que se detém nos mitos e lendas gregas e romanas, entre outras, para lhes encontrar origens em fenómenos ou achados naturais, como terramotos, inundações ou fósseis. Para as páginas do seu livro, a geóloga falecida em 2008 levou o termo geomitologia. Também denominada “lendas da terra” ou “mitologia da paisagem”, aborda com carácter científico as tradições orais e escritas de culturas pré-científicas. Um campo de investigação abraçado no início do século XXI pela historiadora da ciência antiga e folclorista norte-americana Adrienne Mayor. Nascida em 1946 no estado do Illinois, a docente na universidade de Stanford, na Califórnia, assinou dezenas de trabalhos e livros, entre eles The First Fossil Hunters: Paleontology in Greek and Roman Times (Os Primeiros Caçadores de Fósseis: Paleontologia nos Períodos Gregos e Romanos)..Datado de 2000, o livro de Mayor investiga a descoberta de fósseis de dinossauros, mamutes e mastodontes na antiguidade clássica e sustenta que as observações de ossadas, na época, alimentou a crença de gigantes, heróis e grifos. Uma hipótese que não afasta uma dimensão fantástica. Tema que o escritor e historiador norte-americano Marc Aronson levou à literatura infantil em 2014 no livro The Griffin and the Dinossaur (O Grifo e o Dinossauro). Na época em que Aronson entregou à sua prosa a vida e a obra de Adrienne Mayor, a historiadora trazia um longo rastilho de livros publicados. Em 2005, a especialista em culturas pré-científicas dera um salto das civilizações mediterrânicas até as planícies da América do Norte. Fossil Legends of the First Americans (Lendas Fósseis dos Primeiros Americanos) entrega ao leitor os relatos de povos ameríndios, alguns deles, de acordo com a autora, sustentados em antigas descobertas de fósseis de dinossauros. Narrativas que navegaram nas tradições orais desde o período pré-colombiano. Contos que incluem misteriosas ‘pedras’ ovais. .Com o século XIX, o crescente interesse pelos vestígios fossilizados de um passado distante, desenterrou testemunhos de uma fauna de estatura hiperbólica numa Terra pré-histórica. A idade do passado alongou-se às dezenas de milhões de anos. Em França, um padre católico, Jean-Jacques Poech contribuiu para a ciência com um achado no solo da sua paróquia. Corria o ano de 1859 e, para memória futura, esta seria a data oficial do achamento do primeiro fóssil de ovo de dinossauro, embora não reconhecido como tal. Para Poech os ovos petrificados mais não eram do que vestígios de uma ancestral ave gigante. .Dez anos volvidos, o solo da paróquia de Jean-Jacques ofereceu ao geólogo e paleontólogo francês Philippe Matheron um novo testemunho das idades antigas da Terra. Libertando a sua veia criativa, Matheron chamou aos restos do animal fossilizado Hypselosaurus – um dinossauro saurópode herbívoro de pescoço longo – e viu-o como um primevo crocodilo. O geólogo também averiguou a presença de cascas de ovos fossilizadas. Na década de 1870, Matheron apresentou os seus fósseis ao diretor do Museu de História Natural de Paris. Paul Gervais tomou-os como semelhantes a ovos de tartarugas, embora sem descartar a hipótese de apontarem para outras criaturas..O dealbar do século XX aproximou a hipótese de Gervais da verdade e de dois outros continentes. Em 1913, o paleontólogo Charles W. Gilmore deparou-se com um depósito semelhante a cascas de moluscos de água doce no estado do Montana. O homem que montou o primeiro esqueleto de Triceratops tinha a seus pés um punhado de fósseis de ovos de dinossauro. Seis anos volvidos, em 1919, o naturalista Roy Chapman Andrews propôs ao Museu Americano de História Natural uma expedição à Ásia Central para testar a hipótese da origem dos primeiros humanos naquela região. Já na Mongólia, em 1923, dá-se o reconhecimento oficial da descoberta de ovos de dinossauro da espécie Protoceratops, um achado com mais de 70 milhões de anos de idade (na realidade os ovos eram de Oviraptor). Nas décadas seguintes, aquela que foi a ingénua primeira descoberta de um pároco francês, tornar-se-ia numa disputa de achados em vários continentes, protagonizados por paleontólogos russos, indianos, alemães, entre outros. Hoje, conhecem-se mais de 200 sítios arqueológicos associados a ovos fossilizados de dinossauro. Num outro quadrante, Adrienne Mayor continua a “desenterrar” do passado humano mitos em torno destes ovos. Nos Estados Unidos, descendentes do povo Navajo contam a história do roubo de ovos de monstros aquáticos. Um crime que mereceu a perseguição dos humanos por parte destas bestas míticas. Uma corrida através de vários mundos.