Como alemão qual foi para si o impacto da queda do Muro de Berlim a 9 de novembro de 1989? Para mim, é uma história muito pessoal porque venho de uma família dividida. A minha avó materna e um tio ficaram no leste, enquanto os meus pais e os meus avós paternos foram em 1954 para a parte ocidental. Não havia Muro naquela época. Era uma época em que tínhamos o que chamávamos de fronteira verde. Eram setores diferentes, mas era possível passar. Então, para mim, o 9 de Novembro é muito especial. Em primeiro lugar, ninguém poderia imaginar que o Muro cairia. Foi uma surpresa completa. Claro que sabíamos que havia manifestações no leste e que a economia ia mal, mas que a reunificação iria acontecer no espaço de menos de um ano ninguém poderia imaginar. Se me tivesse perguntado a 8 de novembro de 1989 se durante a minha vida veria o Muro cair, eu diria que não..Ainda é possível ver em Berlim a diferença entre o oeste e o leste, ou todos os novos projetos arquitetónicos esbateram os contrastes na cidade? Ah, não, não, não, claro que se vê. As arquiteturas do final do século XIX, início do século XX, são mais ou menos similares no leste e no oeste. Mas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma espécie de competição no planeamento e construção no leste e oeste. Um bom exemplo na parte leste de Berlim é a antiga Stalinallee, que é meio estilo soviético. No lado oeste, tínhamos um conceito diferente, por exemplo, o Hansaviertel, edifícios altos de vários arquitetos muito conhecidos, como o brasileiro Oscar Niemeyer..E ainda é possível ver alguns restos do Muro, mas também o traçado se caminharmos por Berlim. Agora é um trilho para caminhadas e ciclismo. E eu recomendo muito. São 164 quilómetros ao redor de Berlim Ocidental. Por exemplo, no centro da cidade, há realmente a vida urbana. Mas se formos para o norte, por exemplo, temos dunas de areia. Para o sul, em direção a Potsdam, a capital do estado de Brandemburgo, há castelos. São mundos totalmente diferentes. E vale a pena vê-los..A 9 de novembro assinalam-se 35 anos da queda do Muro de Berlim. Há celebrações que podem ser interessantes para os turistas? Sim. O bom é que é um sábado. Teremos uma grande celebração no antigo traçado do Muro. Faremos uma espécie de exposição de posters onde as pessoas - estamos agora a recolher - podem expressar os seus sentimentos, as suas experiências com o Muro e sem o Muro, e a queda do Muro. Esta celebração do 35.º aniversário é um pouco diferente da dos 20, 25, 30 anos, porque a situação geopolítica mudou. E queremos simbolizar que a revolução pacífica é possível e que a democracia é o melhor sistema. E que temos de lutar pelos nossos valores democráticos..Christian Tänzler é porta-voz do Turismo de Berlim..Berlim recuperou o estatuto de capital da Alemanha após a reunificação de 1990. A cidade é capaz de atrair pessoas de diferentes partes hoje? Sim, claro. É uma cidade cosmopolita. É importante para os alemães porque é a história deles. É a obra-prima onde podem ver a história alemã..As Portas de Brandemburgo são o grande símbolo da cidade? Sim, mas para se perceber a nossa História, a mais recente, há o Memorial ao Povo Judeu perto das Portas de Brandemburgo. Também a East Side Gallery, que é uma parte do antigo Muro de Berlim pintada por artistas. E há o Memorial do Muro perto da Bernauer Strasse. Visitar Berlim é uma ótima maneira de lidar com a história, boa e má. É um turismo cultural diferente. Porque a nossa história não foi apenas brilhante. Também foi sombria. E queremos mostrar às pessoas, até mesmo às gerações mais jovens, aos próprios alemães, o que aconteceu no seu país. Nunca devem esquecer e devem valorizar o nosso sistema democrático e livre. Berlim é a cidade da liberdade, e sente-se essa liberdade ao visitá-la. Os turistas internacionais que vêm a Berlim valorizam muito isso. Dizem também que é muito tranquila. Tão verde. E pode-se andar pelos parques à meia-noite..Berlim é famosa pelos parques. Mas e quem quer ver museus? Temos o Pergamon e outros grandes museus na Ilha dos Museus, que é Património Mundial da UNESCO. E bem perto fica agora o Fórum Humboldt, que é um museu da história de Berlim, mas também é um museu das culturas do mundo. Pode ver o museu, mas também aproveitar os concertos, desfrutar de diferentes culturas nesse edifício. Tem uma fachada antiga, de um palácio prussiano, mas por dentro é muito moderno..E para quem gosta de música, sobretudo clássica, Berlim é única? Se gosta de todos os tipos de música, Berlim é especial. Mas para os amantes de música clássica há quatro casas de ópera. E durante o verão é possível até ver concertos gratuitos, no exterior. Por exemplo, Daniel Barenboim dá sempre um grande concerto de verão. E temos o Young Euro Classic. Também é fora. É onde jovens artistas de todo o mundo vêm mostrar a sua arte..Falemos de gastronomia. Além do Currywurst e do kebab reinventado pelos imigrantes turcos, o que oferece Berlim? Nos últimos 10 anos, tivemos um enorme desenvolvimento da gastronomia. Após a reunificação em 1990, Berlim tornou-se a capital da Alemanha. E as embaixadas, com pessoas de todo o mundo, quase 200 nações, vieram para Berlim para viver aqui e trouxeram a sua própria culinária. Então encontra comida do Azerbaijão ao Congo. Também somos a capital vegan da Europa. E também do desperdício zero, cozinhando e comendo sem desperdício. E há o regional radical. Temos um restaurante em Berlim que simplesmente não usa azeite porque não temos oliveiras. Produto local de verdade, 100%. E tem uma estrela Michelin. Aliás, temos 21 restaurantes com um total de 28 estrelas Michelin. Isso significa que Berlim é a capital das estrelas Michelin na Alemanha. E temos 7 estrelas Michelin verdes, o que mostra a importância que damos à sustentabilidade..E bebidas ? Cerveja ? Ou mais? Os alemães são amantes de cerveja, mas os berlinenses são amantes de cerveja e de vinho. E gostam de cocktails. Os bares em Berlim são de tirar o fôlego a qualquer um.