Chegámos aos 8 mil milhões. O que é que isto significa para o planeta?
O planeta atinge um novo marco significativo de habitantes: 8 mil milhões. Só por volta 1800 é que se chegou aos primeiros mil milhões de pessoas, sendo que a partir daí foi cada vez mais rápido o crescimento da população. Ásia e África são os continentes que mais contribuem.
O mundo tem a partir de hoje 8 mil milhões de pessoas. Foi há apenas 11 anos que se atingiram os 7 mil milhões de habitantes, o que se traduz num crescimento nunca atingido na História da humanidade. Até 2080, está previsto que o mundo atinja o pico de 10,4 mil milhões de pessoas, número que se estima que se mantenha até 2100. Ásia e África foram os continentes que mais contribuíram para o desenvolvimento populacional a que se tem assistido.
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"Este número, os 8 mil milhões, na verdade não é o limite. Seremos no final do século qualquer coisa em torno de 10 mil milhões", reforça Paulo Machado, presidente da Associação Portuguesa de Demografia (APD).

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Segundo as Nações Unidas, a população mais que triplicou entre 1950 e 2020. No entanto, atualmente já não está a crescer ao mesmo ritmo. A população mundial está agora a aumentar ao ritmo mais lento desde os anos 1950, tendo descido para menos de 1% por ano em 2020. A maior expectativa de vida também contribuiu para se chegar aos 8 mil milhões, num momento em que o número de pessoas que chega aos cem anos é cada vez maior.
Melhorias a nível da medicina, higiene ou progresso socioeconómico permitiram que a população crescesse num processo a que os demógrafos chamam de transição demográfica. "Na prática, a determinada altura da nossa história mundial e com as melhorias que se verificaram, o número de óbitos baixou francamente e o número de nascimentos não baixou tão rapidamente assim", explica Paulo Machado.
Para o demógrafo, o maior problema com que o mundo se depara neste momento é a concentração da maior parte da população junto à costa e as consequências que as alterações climáticas podem trazer como a deslocalização de milhões de pessoas. "Uma coisa é a deslocalização de um, dois ou dez milhões de pessoas, e outra é a deslocalização de mil milhões de pessoas. Não temos os recursos para isso".
Quanto à alimentação, Paulo Machado explica que a situação alimentar melhorou a nível mundial mas que é algo que de facto nunca se conseguiu atingir de forma plena em todos os lugares do planeta. "A grande questão que percebemos com a guerra na Ucrânia é que a segurança alimentar está muito dependente do fenómeno da globalização e que é possível interrompê-lo". O mundo apenas consegue produzir e distribuir alimentos em condições de normalidade política. O presidente da Associação Portuguesa de Demografia considera que para evitar este tipo de decisões unilaterais dos países mais poderosos do mundo é necessário haver uma regulação das Nações Unidas ou outra instância da governação desses países.
E o planeta?
A pressão sobre os recursos naturais do planeta sente-se cada vez mais. Muitos recursos do ecossistema, como a água potável e o ar que respiramos, estão a ficar comprometidos. Todos os anos se marca o dia de sobrecarga da Terra, que é o dia em que a pressão humana sobre os recursos naturais é superior à capacidade regenerativa dos ecossistemas em cada ano.
"O dia de sobrecarga da Terra está a acontecer cada vez mais cedo. No final dos anos 70, por exemplo, este dia era praticamente no final do ano, e este ano aconteceu a 28 de julho", diz Marta Leandro, vice-presidente da direção nacional da Quercus.
Os oceanos, florestas e solos, responsáveis pela absorção de muito do dióxido de carbono libertado a mais para a a atmosfera, são meios que estão perto da saturação.
A forma como as populações se alimentam também começa a ter consequências para o planeta. "No mundo desenvolvido comemos três vezes mais carne do que aquilo que é considerado saudável. Na Quercus consideramos que tornar o sistema alimentar mais saudável e reduzir consideravelmente o consumo de proteína animal pode ser uma forma de melhorar a capacidade do planeta para alimentar a humanidade", explica Marta Leandro.
As alterações climáticas também são uma grande pressão nos fluxos migratórios. Ou seja, em várias partes do mundo cidades e países estão a ser impactados pelo clima, o que obriga as pessoas a migrar para lugares mais seguros. "Têm de existir mecanismos de solidariedade com os países em que há mais pobreza, desigualdade e falta de comida e água. O norte rico tem de compreender que ser mais solidário com os países que têm menos responsabilidade no que respeita às alterações climáticas acaba por lhes trazer mais vantagens", entende Marta Leandro. Que defende ser melhor dar o apoio necessário a estes países [de onde as pessoas saem] do que assistir a ondas massivas de migrações.
O caso da China
É na Ásia que vive mais de metade da população mundial. A China deu um grande contributo ao mundo em termos de crescimento da população. "A China foi dos grandes países em termos populacionais que mais cedo arrefeceu o seu crescimento com a política do filho único", frisa Paulo Machado.
No final da década de 1970, a China implementou a política do filho único de forma a reduzir o crescimento populacional e facilitar o acesso a um sistema de saúde e educação de qualidade. Esta política está a provocar graves consequências como o aumento do envelhecimento da população. Porém, o país acabou por recuar nesta medida, mas a própria população continuou a abster-se de ter filhos.
Atualmente, a China é o país mais populoso do mundo mas pode ser ultrapassada no próximo ano pela Índia, de acordo com o relatório World Population Prospects 2022 divulgado pelas Nações Unidas.
Em 2021, o estado mais populoso da Índia, Uttar Pradesh, propôs uma política semelhante à chinesa, em que os casais apenas poderiam ter dois filhos. Para tentar atrair adeptos desta medida, a legislação oferecia benefícios como a redução de impostos, empréstimos para a construção ou compra de casa. As consequências a longo prazo com que a China se deparou complica a decisão de passar a lei esta decisão.
sara.a.santos@dn.pt
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