Em meados do século XVIII, quando a corte de Luís XV de França ditava modas a toda a Europa, coube à poderosa favorita do rei, Madame de Pompadour, decidir a sorte da nova bebida: "Le champagne é a única bebida alcoólica que torna as mulheres mais bonitas", terá proclamado. Sabendo-se que, para Madame La Favorite, a beleza era mais um instrumento de poder político do que uma concessão à vaidade, o champanhe passou a circular pela Europa com uma popularidade até aí reservada apenas aos melhores vinhos..Agradecido pela preferência, Claude Moët (súbdito francês de origem alemã), que em 1743 começara a distribuir em Paris os vinhos efervescentes da região de Champagne, aventurou-se na exportação quer para as cortes europeias, quer para as colónias americanas. Mesmo na Revolução Francesa, quando as cabeças rolavam como melões no Verão, o champanhe continuou a correr..No período Império, Napoleão, cujo chapéu bicórnio se conta entre as relíquias expostas na sede da Moët & Chandon, em Épernay, brindou às suas vitórias com esta bebida, mas também o fizeram os seus vencedores reunidos à sombra de frondosa árvore, ainda hoje existente: Nada mais mais, nada menos do que o Imperador da Áustria e seu chanceler, Metternich, o czar da Rússia e o britânico Duque de Wellington. Num mundo em tudo tão diferente, a Moët & Chandon não só continua a existir como a aura glamourosa do seu champanhe se mantém intacta, de tal modo que hoje a empresa faz parte da LVMH, o grupo económico mais importante do mundo em matéria de luxo. Ao lado da Dior, Givenchy, Louis Vuitton ou da Bulgari..Fiel a este legado bicentenário, a marca não descansa, todavia, à sombra de tal reputação. Neste princípio de Outono, convocou jornalistas de diversas partes do mundo para apresentar as suas novidades: as ingeríveis e as que as sustentam. Entre elas, o Grand Vintage 2015, nas variedades branco e rosé. Benoit Gouez, mestre de adega da marca, explica: "Cada Grand Vintage corresponde à minha interpretação dum ano específico, com a consciência de cada um deles é único e irrepetível. Não é um sumário do ano mas é a minha interpretação dele. Eu seleciono os vinhos que compõem o blend final." 2015 marca ainda, segundo Goez, um ponto de viragem: "Foi um Verão quente e muito luminoso, em que sentimos pela primeira vez, de forma palpável, o impacto das alterações climáticas. Foi nesse Verão que iniciámos um ciclo de colheitas cada vez mais prematuras. Este ano, por exemplo, começámos a fazê-las em meados de Agosto, quando tradicionalmente se começava no princípio de Setembro.".Este Grand Vintage branco tem uma composição de pinot noir (44 %), Chardonnay (32%) e meunier (24%) e é recomendado para acompanhar peixe, carne e vegetais. O rosé, por sua vez, deve à sua cor vibrante a uma composição em que o pinot noir combina harmoniosamente com um toque de amora, groselha e o figo que lhe foi acrescentado. Uma vez mais, pode ir à mesa e beneficia com a companhia de comida bem condimentada..O jantar servido no Château Saran (também propriedade da Moet & Chandon), assinado pelo chef Yannick Alleno (detentor de 6 estrelas Michelin), serviu também para dar a conhecer o novo copo 870, fruto da parceria de Benoit Gouez e da Lehman, que é como quem diz filho do casamento da Enologia com o Design. Cada vez mais apostada em fazer do champanhe uma bebida capaz de acompanhar com vantagem uma boa refeição (e não apenas algo que se serve para assinalar um feito público ou privado digno de nota), a Moet & Chandon procura, assim, criar uma alternativa às tradicionais flutes. Depois de testar o comportamento do champanhe em dezenas de protótipos de copos, com outras tantas formas e tipos de vidro (são tidos em conta parâmetros como o tamanho das bolhas, velocidade e trajetória do líquido), concluiu-se que o 870 da Lehman era o que garantia um melhor nível de efervescência. O que traduzido para números corresponde a 870 mil bolhas por copo, sensivelmente mais 40% do que nas flûtes..Neste mundo, feito de paixão mas também de Ciência (de Efervesciência, um neologismo assumido com graça pela Moët & Chandon), o champanhe é o protagonista de todo um conceito de lifestyle. Nos últimos anos, o Castelo de Saran (propriedade da empresa desde 1801) foi restaurado e reformulado pelo atelier de arquitetura parisiense, Cos. Mantendo a fachada original, que remonta ao século XVIII, foi dotado de amplas salas de jantar e estar e dum conjunto de suites todas temáticas e diferentes entre si: Christian Dior, Hollywood, Roaring Twenties, Russa, Japonesa... Na Suite onde o DN ficou hospedado (a "Americana"), tudo evoca o ambiente tradicional da Louisiana (região dos Estados Unidos que chegou a pertencer à França e foi perdida para a Inglaterra na Guerra dos Sete Anos), da colcha patchwork à cadeira de balouço, sem esquecer a Declaração de Independência emoldurada na parede. A decoração de interiores esteve a cargo do historiador de arte e cenógrafo francês Yves de Marseille..Este conceito de lifestyle faz-se acompanhar pela preocupação com a sustentabilidade na Agricultura. Com a maior propriedade da região de Champagne (1190 hectares de vinha), a empresa está a desenvolver o programa Natura Nostra que procura promover a agroecologia. Depois de ter plantado vários milhares de árvores no vizinho Fort Chabrol (onde funcionou no princípio do século XX a primeira Escola Prática de Viticultura em toda a França), a aposta passa agora pela eco-pastorícia e pela polinização dos solos de modo a atrair enxames de abelhas. Com determinação e sem pressas porque, na região de Champagne, há muito que se conhecem os méritos da paciência. Aqui há um tempo para semear, outro para colher, outro para deixar o líquido amadurecer e ainda um outro para saber que o inimigo que saqueia as caves, um dia, de regresso à sua terra, será um bom cliente. Assim o dizia um dos proprietários, em pleno século XIX, quando os trabalhadores desesperavam com a extensão dos rombos nas adegas feitos pelos soldados prussianos. A "colheita" da História dar-lhe-ia razão..O DN viajou a convite da Moët & Chandon