Cerca de 50 alunos da Faculdade de Letras solidários com colegas detidos protestam contra diretor
Quatro estudantes e ativistas pelo clima foram detidos na sexta-feira na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e vão agora ser julgados, a 29 de novembro.
Cerca de meia centena de estudantes solidários com os alunos da Faculdade de Letras detidos na sexta-feira protestaram esta terça-feira em frente à instituição contra a decisão do diretor, que consideram inaceitável.
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"Tamen, estás a ouvir? temos direito a resistir", "Alunos ignorados são estudantes revoltados" ou "Sem estudantes, não és nada, mostra a cara na entrada" eram algumas das mensagens cantadas em coro por dezenas de alunos concentrados à entrada da Faculdade de Letras.
O protesto foi organizado por um grupo de alunos da faculdade em solidariedade com os quatro ativistas detidos pela PSP, na noite de sexta-feira, por recusarem a ordem de sair das instalações, onde três deles chegaram mesmo a colar as mãos ao chão, após uma semana de ocupação, que se repetiu por várias escolas em protesto contra os combustíveis fósseis.
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Iara Sobral, como os outros organizadores, não participou na ocupação, mas não ficou indiferente à decisão do diretor, que o próprio Miguel Tamen reconheceu ter "apenas três ou quatro precedentes na escola nos últimos cinquenta anos".
Não pedem, de forma perentória, a demissão do responsável, mas Iara Sobral disse que o diretor já não tem condições para se manter no cargo e pede que, pelo menos, venha a público assumir a responsabilidade, depois de ter enviado uma nota interna em que sublinha que a faculdade, como comunidade autónoma, não pode resolver reivindicações dos ativistas.
Recordando a semana de ocupação, organizada pela Greve Climática Estudantil no âmbito do movimento internacional "End Fossil: Occupy!" e que se repetiu em outras cinco faculdades e escolas de Lisboa, Iara Sobral sublinha que nada indicava aquele desfecho.
"Os nossos colegas não manifestaram qualquer comportamento violento ou de desrespeito para com a faculdade, que é também deles. Aliás, é sobretudo nossa e não de quem a gere", referiu.
Ana Carvalho foi uma das detidas na sexta-feira e quis também estar presente no protesto. Apesar de lamentar que tenha sido necessária uma situação extrema para que mais alunos apoiassem a luta pelo clima, agradeceu o apoio dos colegas.
À semelhança de Iara, também ficou surpreendida pela reação do diretor. "Sabemos sempre que há essa possibilidade, mas, sinceramente, não achei que a faculdade ia querer dar essa imagem", referiu, acrescentando que "agora (o diretor) tem de lidar com a escolha que fez e está aqui a resposta dos estudantes".
Apesar dos cânticos que entoavam, não pedem, de forma perentória, a demissão do responsável, mas Iara Sobral acredita que o diretor já não tem condições para se manter no cargo e pede que, pelo menos, venha a público assumir a responsabilidade.
Na segunda-feira, Miguel Tamen enviou para alunos, professores e funcionários, uma nota interna em que afirma que a faculdade, como comunidade autónoma, não pode resolver as principais reivindicações dos ativistas.
"Jamais se desculpa pela ação antidemocrática que teve, um atentado à faculdade livre e democrática que estamos a tentar construir", lamentou Iara Sobral, desafiando o responsável a responder se considera que deve manter-se como diretor "de uma faculdade que é marcada, na sua história, por uma luta estudantil intensa, democrática e livre". E acrescenta: "Temos sérias dúvidas".
Após mais de meia hora de protesto, alguns manifestantes acabaram por desmobilizar quando os ativistas do movimento "Fim ao Fóssil: Ocupa!" se retiraram, a caminho da manifestação junto ao Ministério da Economia e do Mar, mas outros 20 mantiveram-se junto à entrada da faculdade, repetindo as mesmas mensagens, sob o olhar de oito agentes da PSP.
Além da manifestação, os estudantes escreveram uma carta aberta dirigida ao diretor da Faculdade de Letras em que lamentam que o responsável se tenha colocado contra os alunos e instam Miguel Tamen a apresentar um pedido de desculpas. Segundo Iara Sobral, à hora do protesto a carta tinha já mais de 200 assinaturas.
Carta Aberta ao Director da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Leiam, e assinem: https://t.co/9yH0Kgat6o pic.twitter.com/7UuUxpKKGU