Cerca de 150 tratores e carrinhas em marcha lenta em Vila Real
Cerca de 150 tratores, carrinhas e automóveis, seguidos de centenas de agricultores a pé, percorrem esta quarta-feira as ruas da cidade de Vila Real em luta pelo pagamento de preços justos à produção.
"Estamos muito mobilizados nesta luta", afirmou à agência Lusa Daniel Serralheiro, da Federação Nacional dos Baldios (BALADI), filiada da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) .
Em Vila Real juntaram-se esta manhã manifestantes provenientes de Chaves, Boticas, Montalegre, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real, Mesão Frio, Castro de Aire ou Amarante.
Nos tratores, de maior ou menor dimensão, carrinha ou carros, trazem faixas e cartazes onde se pode ler: "Agricultores não são subsidiodependentes! Trabalham por eles e para vocês todos", "Urgente exigimos a reprogramação do PEPAC", "Sem a agricultora e pecuária não há futuro", "Governo sem coração promove desertificação", "Deixem os meus filhos serem agricultores".
"Estes agricultores reclamam preços justos à produção. Os agricultores são sempre os mais prejudicados da cadeia toda. Outra luta que nos move é o roubo aos baldios. Cada ano que passa mais área de baldios fica indisponível para o pastoreio e isso significa que os agricultores vão começar a abandonar o Interior", frisou Daniel Serralheiro.
A manifestação partiu da zona do cemitério de Santa Iria e vai seguir pelas avenidas Aureliano Barrigas, 1.º de Maio até à praça do município.
Rubens Aguiar veio de Vila Pouca de Aguiar para marcar o ritmo, com uma campainha que normalmente se coloca nas vacas.
Também proveniente de Vila Pouca, Idalina Marques é produtora de vacas e realça as despesas cada vez maiores com a exploração, e o preço de venda de carne que não aumenta há vários anos, referindo que assim não é sustentável manter a atividade.
Domingos Gonçalves percorreu cerca de 100 quilómetros de Cabril, em Montalegre, até Vila Real, para protestar contra a injustiça que estão a fazer contra o povo serrano.
Produtor de cabras e vacas, as suas principais queixas são direcionadas à diminuição da área de baldio, que pode colocar em causa a sobrevivência.
Vitor Herdeiro, viticultor do Douro, reclama preços justos para a venda da pipa de vinho, referindo que os produtores estão a receber pela pipa de vinho do Porto 800 euros e 200 e 300 euros por pipa de vinho de consumo.
"Isto é incomportável para se manter a viticultura na Região Demarcada do Douro. Ou começam a pagar preços justos à produção, ou será incomportável nós continuarmos a granjear vinho nesta região", frisou.
Este viticultor e dirigente associativo destacou ainda a questão da Casa do Douro, cujo diploma que repôs a instituição como associação pública e de inscrição obrigatória está para promulgação pelo Presidente da República.
"Para que se façam eleições e, aí sim, que os pequenos e médios agricultores tenham uma voz de presença no Douro", salientou.
Protestos em Espanha continuam a bloquear estradas e porto de Málaga
Em Espanha, milhares de agricultores continuam a manifestar-se esta quarta-feira, pelo segundo dia consecutivo, em várias regiões, mantendo cortadas estradas e autoestradas, assim como o acesso a centros logísticos, como o porto de Málaga, no sul do país.
Na Catalunha, nordeste de Espanha, na fronteira com França, os agricultores mantiveram cortadas diversas vias durante toda a noite e iniciaram de manhã marchas lentas com tratores em direção ao centro de Barcelona, a segunda maior cidade espanhola.
Mantêm-se grandes vias cortadas também nas regiões da Comunidade Valenciana, Castela La Mancha, Andaluzia, Aragão e Múrcia.
Milhares de agricultores estão desde terça-feira em protesto por todo território de Espanha, com tratores e outros veículos a bloquear estradas e autoestradas e o acesso a centros logísticos, portos e cidades.
Na última semana já tinha havido manifestações de agricultores espanhóis, em linha com os protestos do setor noutros países europeus e que têm como alvo principal e comum as políticas da União Europeia (UE). No entanto, o número e extensão das manifestações nunca tinham tido a dimensão que alcançaram na terça-feira.
Estes protestos não foram, na sua maioria, comunicados às autoridades ou autorizados pelas entidades competentes e ocorrem à margem da organização das grandes confederações agrícolas de Espanha, que também anunciaram manifestações para os próximos dias e semanas.
Após uma reunião na sexta-feira com as grandes organizações agrícolas espanholas, o ministro da Agricultura de Espanha, Luis Planas, garantiu que o governo de Madrid só apoiará mudanças na PAC que estejam "em linha" com os interesses dos agricultores espanhóis.
Luis Planas considerou também que Bruxelas, com os anúncios da semana passada, "está a chegar muito tarde" e que avançou com uma proposta "muito ajustada às necessidades" do país que a reivindicou, numa alusão a França.
Bruxelas reconhece complexidade do problema e insuficiência dos apoios
A Comissão Europeia reconheceu esta quarta-feira que os problemas que afetam a agricultura na União Europeia (UE) são complexos e que os fundos da política agrícola comum (PAC) são insuficientes.
"Não devemos simplificar em excesso a situação que levou os agricultores às ruas, porque os problemas são complexos", referiu o comissário europeu que tutela o Pacto Ecológico, Maros Sefcovic, num debate sobre a situação do setor agrícola, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França).
O comissário e um dos vice-presidentes do executivo comunitário reconheceu que os fundos da PAC "não são suficientes" para lidar com desafios como alterações climáticas, preservação da biodiversidade, choques nos preços e também com mercados competitivos a nível global.
Muitos sentem-se encurralados e pelo facto das suas reivindicações não estão a ser respondidas.
Sefcovic reconheceu que há produtores para os quais "o sistema não está a funcionar", defendendo a necessidade de encontrar "soluções conjuntas, uma visão comum e encontrar novos consensos".
O caminho, considerou, é através do Diálogo Estratégico recentemente lançado e que junta as partes interessadas num debate sobre o futuro da agricultura na UE.
Os agricultores europeus, incluindo em Portugal, saíram à rua nas últimas semanas para exigir a flexibilização da PAC e mais apoios para o setor.
Bruxelas está a preparar uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos ministros da Agricultura da UE em 26 de fevereiro.
Por outro lado, na terça-feira, a presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, anunciou a retirada da proposta que apontava a redução para metade o uso de pesticidas na agricultura até 2030, parte central do Pacto Ecológico, a legislação ambiental da UE, que é também um dos alvos dos protestos dos agricultores.