A Igreja de São José é uma igreja de Macau em estilo barroco.
A Igreja de São José é uma igreja de Macau em estilo barroco.

Centro Histórico de Macau: 20 anos de Património Mundial (II)

Além das conhecidas Ruínas de São Paulo, o Centro Histórico de Macau, inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO em 2005, inclui mais de uma dezena de edifícios de estilo ocidental.
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Na zona histórica de Macau existem várias igrejas, cada uma com o seu estilo e identidade. Entre elas, a Igreja de São Lourenço e a Igreja de Santo António foram ambas construídas em meados do século XVI, sendo das mais antigas da cidade e muito estimadas pela comunidade portuguesa. Dedicada ao padroeiro dos navegadores portugueses, em tempos, a Igreja de São Lourenço possuía um mastro de sinais que alertava para a aproximação de tufões, fornecendo assim informações de segurança aos que se faziam ao mar. Por essa razão, ficou também conhecida como “Feng Xun Tang”, Igreja do Sinal do Vento, sendo hoje vulgarmente chamada “Feng Shun Tang” (Igreja dos Ventos de Navegação Calma). Já a Igreja de Santo António é dedicada ao padroeiro dos casamentos, sendo um local onde os portugueses celebravam tradicionalmente o matrimónio. Como as noivas costumavam trazer ramos de flores, a igreja ficou igualmente conhecida como “Igreja das Flores”.

Além destas duas igrejas antigas, os jesuítas fundaram, em 1728, a Igreja e Seminário de São José, a que os chineses chamavam “Sam Pa Chai” (Pequeno São Paulo) por ser superado em dimensão apenas pelo antigo Colégio de São Paulo, situado onde hoje se encontra a fachada das Ruínas de São Paulo. O seminário destacava-se pelo ensino bilingue em chinês e português, tendo formado numerosas figuras que viriam a desempenhar papéis relevantes tanto na Igreja Católica como na sociedade civil. Em 2016, foi inaugurada a Galeria de Relíquias do Seminário de São José, onde os visitantes podem conhecer melhor a história do catolicismo em Macau e do intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente.

As paredes do átrio, do pátio central e do jardim do Instituto para os Assuntos Municipais estão revestidas com azulejos portugueses azuis e brancos.
As paredes do átrio, do pátio central e do jardim do Instituto para os Assuntos Municipais estão revestidas com azulejos portugueses azuis e brancos.

Para além destas igrejas, outras como a Sé Catedral, a Igreja de São Domingos e a Igreja de Santo Agostinho continuam hoje a acolher atividades religiosas e estão abertas aos visitantes.

O Teatro Dom Pedro V, construído em 1860, é um edifício de cor verde em estilo neoclássico, considerado o primeiro teatro ocidental na China. Este espaço emblemático desempenhou um papel importante na difusão precoce das artes cénicas ocidentais no Oriente. Na época, o teatro dispunha ainda de uma sala de baile e uma sala de bilhar, funcionando como um importante local de convívio para a comunidade portuguesa residente em Macau.

Hoje em dia, o Teatro Dom Pedro V continua a receber regularmente concertos de artistas locais e internacionais, bem como concertos de Natal e outros eventos culturais, desempenhando uma tripla função de palco cultural, património histórico e atração turística.

O Edifício da Santa Casa da Misericórdia é uma construção de Macau em estilo neoclássico.
O Edifício da Santa Casa da Misericórdia é uma construção de Macau em estilo neoclássico.JASSEN

Nas imediações do teatro, encontra-se o edifício da Biblioteca Sir Robert Ho Tung. Construído em 1894, a sua primeira proprietária foi uma senhora da aristocracia macaense - Dona Carolina Antónia da Cunha. A mansão, uma típica moradia europeia com jardim, foi posteriormente adquirida por Sir Robert Ho Tung, o magnata de Hong Kong, cuja família, cumprindo a sua vontade testamentária, doou o imóvel ao Governo de Macau.

Em 1958, o edifício foi adaptado para funcionar como biblioteca pública e permanece aberto ao público até hoje. Atualmente, o acervo da biblioteca ultrapassa os 70 mil volumes, incluindo obras raras e coleções especiais sobre a história e cultura de Macau.

Na movimentada Praça do Leal Senado, destacam-se dois edifícios portugueses de cor branca que chamam particularmente a atenção. Do lado da Avenida de Almeida Ribeiro, encontra-se o Edifício Sede do Instituto para os Assuntos Municipais, construído originalmente em 1784. Este edifício serviu como Câmara Municipal durante o período de administração portuguesa em Macau e, após a transferência de soberania, passou a acolher a sede da Direção dos Serviços de Assuntos Municipais, continuando atualmente a funcionar como edifício-sede do Instituto.

O edifício possui um jardim de estilo português aberto ao público, e no rés-do-chão existe uma galeria onde são realizadas exposições artísticas com frequência. A biblioteca do Leal Senado, situada no seu interior, foi concebida com base na Biblioteca do Convento de Mafra, em Portugal. A decoração e o mobiliário revelam um forte caráter clássico, e o acervo inclui obras raras em línguas estrangeiras publicadas entre os séculos XVII e meados do século XX.

Em frente ao edifício do Instituto para os Assuntos Municipais, encontra-se o Edifício da Santa Casa da Misericórdia. A organização de caridade foi fundada em Macau pelo jesuíta português Belchior Carneiro em 1569 e o edifício que hoje acolhe a sua sede foi construído em meados do século XVIII. Atualmente, o rés-do-chão continua a ser utilizado como espaço administrativo da instituição, enquanto o primeiro andar alberga um museu dedicado à sua longa história de beneficência.

A Santa Casa da Misericórdia mantém em funcionamento um lar de idosos, creches e outras valências, dando continuidade a uma missão de solidariedade que já dura há mais de quatro séculos.

As construções de estilo ocidental no Centro Histórico de Macau são testemunho da história da difusão do catolicismo para o Oriente, da administração portuguesa e do intercâmbio entre as civilizações oriental e ocidental. Atualmente, continuam a desempenhar funções religiosas, artísticas, de caridade e de serviço público, ilustrando de forma vívida o seu valor enquanto património mundial.

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