Casos de emergência na saúde mental têm aumentado nos mais jovens
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Casos de emergência na saúde mental têm aumentado nos mais jovens

Os dados do INEM indicam que nos primeiros nove meses do ano o CAPIC/CODU registou 5.444 intervenções/chamadas (menos do que no ano passado), mas as saídas das Unidades Móveis de Intervenção Psicológica de Emergência aumentaram, passando de 716 para 918 no mesmo período.
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As Unidades Móveis de Intervenção Psicológica de Emergência do INEM têm registado um aumento de casos que envolvem jovens, uma situação que os responsáveis dizem consolidar as preocupações sobre os efeitos negativos da pandemia.

"Na verdade, aquilo que assistimos é uma consolidação dos sinais de preocupação que tínhamos no ano passado", disse à Lusa Sónia Cunha, diretora do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC), um serviço do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) que garante apoio psicológico às chamadas telefónicas recebidas nos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).

Este serviço funciona 24 horas/dia e, sempre que necessário, desloca equipas aos locais através das UMIPE, que entre janeiro e setembro deste ano registaram 918 intervenções, abrangendo 2.391 pessoas.

Mais de 360 situações dizem respeito a incidentes críticos (casos com potencial traumático como, por exemplo, assistir a um acidente de trabalho) e 212 a comportamentos suicidários, mais 54 do que no mesmo período do ano passado.

Em declarações à Lusa, Sónia Cunha destacou a preocupação particular com as franjas da população - os mais novos e os mais velhos -- mas, sobretudo, com faixa etária entre os 11 e os 16 anos, lembrando a importância do reforço do envolvimento da comunidade escolar e do apoio de saúde mental nos cuidados de saúde primários.

A responsável insistiu na necessidade de investir na prevenção e lembrou que as UMIPE funcionam como "uma porta de entrada de pedidos de ajuda de situações que já escalaram".

"Somos o fim de linha e o ideal é que não cheguem aqui", reconheceu, chamando a atenção para não se falar apenas na saúde mental, mas aplicar no terreno medidas urgentes de prevenção da doença mental.

É igualmente importante não desvalorizar os sintomas e sinais de necessidade de ajuda, alertou, sublinhando: "Continua ainda a existir muita resistência a assumir-se a saúde mental como algo valioso".

Reconheceu que ainda há estigma quanto a esta matéria e insistiu: "Precisamos de continuar a trabalhar na desmistificação da saúde mental como algo menor ou como algo de fragilidade humana".

Os dados do INEM indicam que nos primeiros nove meses do ano o CAPIC/CODU registou 5.444 intervenções/chamadas (menos do que no ano passado), mas as saídas das UMIPE aumentaram, passando de 716 para 918 no mesmo período.

O comportamento suicidário é o mais relevante nos contactos para o CAPIC/CODU (2.219 de janeiro a setembro deste ano), seguindo-se a alteração emocional ou do comportamento (1.916).

Sónia Cunha destacou igualmente o reforço dos psicólogos das UMIPE, que são agora quatro equipas completas, num total de 31 psicólogos.

Quase 23% dos alunos de seis universidades em Portugal possui doença mental

Um estudo coordenado pela Universidade de Évora (UÉ) concluiu que quase 23% dos estudantes inquiridos em seis universidades portuguesas foram diagnosticados com uma doença mental, metade deles após a pandemia de Covid-19, revelou esta quinta-feira a academia alentejana.

Em comunicado enviado hoje à Lusa, a UÉ realçou que o estudo, coordenado pela professora Lara Guedes de Pinho, "revelou dados preocupantes sobre a saúde mental dos estudantes do ensino superior".

A investigação conduzida por Lara Guedes de Pinho, do Departamento de Enfermagem da UÉ e investigadora do Comprehensive Health Research Centre (CHRC) desta academia, envolveu recolhas de dados em 2022 e 2023, abrangendo um total de 2.136 estudantes universitários, de seis universidades portuguesas.

"Os resultados indicam uma prevalência preocupante de sintomas depressivos e ansiosos, com quase 23% [mais concretamente 22,9%] dos estudantes a referirem estar diagnosticados com uma doença mental", disse a universidade.

E, destes alunos, "49,7% referem ter sido diagnosticados após a pandemia de Covid-19", disse a UÉ, que divulga estes resultados na data em que se assinala o Dia Mundial da Saúde Mental.

De acordo com a investigação, a ansiedade lidera os problemas de saúde mental mais mencionados, com 19,4%, logo seguida pela depressão, com 13,3%.

"O estudo mostrou ainda que 38,9% dos estudantes sofrem de sintomas depressivos que variam de moderados a severos, com 7,2% apresentando sintomas graves", mencionou a UÉ.

E, "como agravante, 11,8% referem ter pensamentos acerca de que estaria melhor morto ou de se ferir a si mesmo de alguma forma".

Face a um outro estudo que já tinha realizado em 2022, Lara Guedes de Pinho referiu que a tendência mantém-se, "embora com um ligeiro aumento na gravidade dos sintomas".

A investigadora, citada no comunicado, reconheceu que "as universidades estão já a tomar algumas medidas, nomeadamente com atividades promotoras da saúde mental e reforço do apoio psicológico aos estudantes, mas é necessário um reforço externo às universidades".

"Muitos dos problemas surgem antes da entrada para a universidade, pelo que devem ser tomadas medidas também no ensino básico e secundário, bem como haver uma estratégia de promoção da saúde mental desde a infância, nos cuidados de saúde primários e nas escolas", defendeu.

Na investigação agora divulgada, quando questionados sobre o impacto dos problemas de saúde mental no desempenho académico e na vida pessoal, "31,5% relataram dificuldades significativas".

O estudo também concluiu que "o sexo feminino e os estudantes de menor nível socioeconómico, especialmente aqueles que vivem deslocados de suas casas, são os mais afetados" por problemas de saúde mental.

Questionados sobre a quem recorreriam se necessitassem de ajuda, a maioria disse que conversaria com os amigos (75,4%), seguida de psicoterapia (40%), porém, somente 26,4% dos alunos recorreriam ao aconselhamento psicológico oferecido pela universidade.

Para Lara Guedes de Pinho, atendendo a estes dados, é "de extrema importância capacitar os pares para a primeira ajuda em saúde mental e para o encaminhamento para especialistas em caso de necessidade".

A Universidade de Évora tem o seu próprio programa de saúde mental, designado Vagar(Mente), que "pretende monitorizar a saúde mental dos universitários anualmente e desenvolver programas que visam esta capacitação na academia".

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