O ex-diretor clínico do Hospital Santa Maria, Luís Pinheiro, afirmou esta terça-feira que não encontrou motivos clínicos, éticos ou deontológicos que justificassem rejeitar uma primeira consulta para as gémeas luso-brasileiras, após um pedido da médica Teresa Moreno."Perante a descrição clínica e a apreciação especializada que me foi transmitida, de práticas antecedentes por parte do Hospital Santa Maria e do SNS, relativamente a esta patologia, não encontrei qualquer motivo clínico, ético ou deontológico, que suportasse qualquer discordância com a observação das doentes em consulta", disse Luís Pinheiro, na comissão parlamentar de inquérito ao caso das crianças medicadas com Zolgensma em 2020. .O médico, um dos três arguidos no caso com Nuno Rebelo de Sousa (filho Presidente da República) e o ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales, indicou que a diretora do Departamento de Pediatria, Ana Isabel Lopes, em articulação com a neuropediatra Teresa Moreno, solicitou a sua "validação da marcação de consulta para as bebés".Todavia, o ex-diretor do Hospital Santa Maria esclareceu que a validação da marcação da consulta "não seria necessária, face à autonomia dos médicos para observarem os doentes que entendam haver motivos clínicos para o fazerem"."A consulta para as duas crianças veio a ser agendada por indicação de Teresa Moreno (neuropediatra) para 5 de dezembro de 2019. O agendamento para 6 de dezembro, de consulta com a mesma médica e para as mesmas doentes, num hospital privado [Lusíadas] de Lisboa, nunca chegou ao meu conhecimento até à sua divulgação", adiantou.O médico referiu que foi informado pela primeira vez da existência das duas crianças apenas em 20 de novembro de 2019 numa mensagem de SMS de Ana Isabel Lopes e que lhe foi "posteriormente reencaminhada a mensagem de correio eletrónico com origem na secretaria de Estado da Saúde do mesmo dia".O primeiro contacto que teve com Lacerda Sales ocorreu em 5 de novembro de 2019 aquando de uma reunião formal no Ministério da Saúde, na qual "não foi abordada" a situação das gémeas, disse, acrescentando que não teve "outros contactos" com o ex-governante até fevereiro de 2020."A partir desta data, mantive contactos no contexto da pandemia da covid-19. Nesses contactos foi-me pontualmente solicitada pelo secretário de Estado informação genérica relativa à evolução do processo de avaliação e aquisição do medicamento para as duas crianças", vincou.O médico garantiu não conhecer o filho do chefe de Estado, Nuno Rebelo de Sousa.Luís Pinheiro disse também que, perante a situação das duas crianças, foram enviados dois ofícios a Lacerda Sales e à secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, em novembro de 2019, sem resposta, manifestando preocupação com o impacto orçamental da compra do fármaco."Nas semanas subsequentes (...) o Conselho de Administração dirigiu novamente várias comunicações à tutela, mensagens de correio eletrónico e ofícios, que reforçavam o que havia sido transmitido nos ofícios iniciais de novembro de 2019. O Hospital, mais uma vez, não recebeu qualquer resposta a estas comunicações", indicou.Na comissão, o médico disse ainda que apenas viu mencionado o Presidente da República "numa mensagem de correio eletrónico de António Levy Gomes", que dizia ter questionado diretamente Marcelo Rebelo de Sousa, à qual não respondeu.No início da reunião, o presidente da comissão de inquérito clarificou que, sendo de caráter obrigatório, o requerimento do Chega para ouvir o Presidente da República dispensa votação.O pedido "vai ser reencaminhado para o presidente da Assembleia da República" e "em termos práticos o que vai ser feito é uma pergunta ao Presidente da República" se pretende responder às perguntas dos deputados, presencialmente ou por escrito, ou se não vai pronunciar-se no âmbito da comissão.