José Castelo Branco e Betty Grafstein quando tudo aparentava estar bem entre o casal.Jorge Carmona
Sociedade
Caso Betty/Castelo Branco. “Mulheres com estatuto mais elevado têm mais dificuldade em pedir ajuda”
José Castelo Branco foi detido por suspeitas de agredir Betty Grafstein. “Só em situação de desespero é que estas mulheres pedem ajuda”, diz Ilda Afonso, da UMAR.
Uma denúncia de cinco profissionais de saúde do hospital onde está internada Betty Grafstein levou ontem à detenção de José Castelo Branco por suspeitas de violência doméstica sobre a sua mulher. O socialite foi detido pela GNR na zona do Estoril e conduzido ao Tribunal de Sintra para ser presente a um juiz de instrução criminal, o que acabou por não acontecer devido à greve dos funcionários judiciais.
Assim, Castelo Branco passou a noite no posto da GNR de Alcabideche. “O meu cliente está de consciência tranquila e vai falar”, garantiu o advogado do antigo negociante de obras de arte, Pedro Nogueira Simões. Quando for ouvido terá de se defender da revelação de Betty Grafstein, de 95 anos, de que terá sido empurrada pelo marido e alvo de outros abusos físicos e psicológicos, ao longo dos anos.
O inquérito corre, agora, na Secção Especializada Integrada de Violência Doméstica de Sintra, do DIAP de Lisboa. Recorde-se que a milionária, que é casada com José Castelo Branco há 28 anos, chegou ao hospital no dia 20 de abril, com uma fratura no fémur e lesões nos braços.
“A violência doméstica é transversal a toda a sociedade, independentemente da classe social”, começa por explicar Ilda Afonso, coordenadora do Centro de Atendimento e Acompanhamento para Vítimas de Violência Doméstica da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) no Porto. Sublinhe-se que no ano passado a GNR e a PSP registaram 30 389 denúncias de violência doméstica, tendo morrido 22 mulheres.
Só que o caso de Betty Grafstein pode ter contornos particulares. “Muitas vezes, mulheres com um estatuto mais elevado, têm muita dificuldade, ainda mais dificuldade, em pedir ajuda pelo seu estatuto. Para que não se saiba, para não serem vistas como vítimas. É-lhes ainda mais difícil”, avança Ilda Afonso. “Muitas vezes acontece que só em situação de desespero é que pedem ajuda.”
O perfil dos agressores varia. “Temos aqueles agressores que são mal encarados com toda a gente, não é só em casa”, acrescenta a responsável da UMAR . Depois há os outros. Sem querer comentar o caso em concreto, Ilda Afonso frisa que há agressores “que aparentemente, e para a sociedade em geral, são muito simpáticos, agradáveis, educados. E em casa tornam a vida das suas companheiras um inferno”.
Ilda Afonso revela ter ficado “satisfeita que o hospital tenha agido como a lei nos diz para fazemos”. Até porque, segundo esta responsável da UMAR “a Saúde deteta milhares e milhares de situações de violência doméstica, ou devia detetar, e depois não se passa nada a seguir. Quando apresentam números, os hospitais centrais apresentam 20 casos de violência doméstica. Por favor! Nós, num centro de atendimento com uma equipa de meia dúzia de pessoas temos centenas de vítimas todos os anos e eles têm dezenas? Não pode ser.” E frisa: “As vítimas recorrem aos Serviços de Saúde cinco vezes mais do que as outras pessoas. Portanto, não pode ser assim. Depois de serem detetadas tem de haver uma ação a seguir.”
No caso de José Castelo Branco, Ilda Afonso afiança: “Se há uma denúncia e se o Ministério Público está a investigar a situação espero que seja feita justiça. E fazer justiça é averiguar os factos, saber se são verdadeiros ou não, e se é preciso proteger alguém.”
Devido à idade de Betty Grafstein, se vierem a confirmar-se as suspeitas que recaem sobre José Castelo Branco “estamos perante uma situação de uma vítima especialmente vulnerável. A lei agrava as penas assim”, finaliza.
Quem é, afinal, Castelo Branco?
José Alberto Castelo Branco da Silva Vieira nasceu em Tete, Moçambique. Veio retornado de África, com a família, e instalou-se em Santo António dos Cavaleiros, no Concelho de Odivelas.
À medida que foi crescendo foi descobrindo uma identidade muito própria. Jovem adulto tornou-se Tatiana Romanova, personagem feminina, fazendo espetáculos de transformismo e alguns desfiles de moda, sempre vestido de mulher.
Foi nesta altura, em plenos Anos 80, que conheceu outra manequim, Maria Arlene Pólvora, com quem se casou em 1986 e com quem teve o seu único filho, Guilherme, atualmente com 35 anos e que já deu uma neta a Castelo Branco. Aliás, foi o batizado da criança a motivar o regresso de Betty e o marido a Portugal, após uma temporada nos Estados Unidos, no início de março.
No início dos Anos 90, e à medida que foi contactando com o meio da moda e do social, tornou-se negociante de obras de arte numa galeria em Cascais. Conheceu, entre outros, o colunista social Abel Dias e a socialite Lili Caneças, que o catapultou para a fama e para as páginas das revistas de social. Foi numa festa que conheceu Betty Grafstein.
Em 2005, terá feito uma primeira agressão que se tornou pública. Castelo Branco espancou um empreiteiro que lhe fazia obras em casa e acabou condenado a 90 horas de trabalho comunitário pelo crime. Em 2011, agrediu o Relações Públicas portuense Daniel Martins e, no mesmo ano, viu-se envolvido num escândalo sexual com um empreiteiro de Famalicão.
No final de abril, já com Betty internada, apertou o pescoço a um homem, em confrontos, num restaurante no Bairro Alto, em Lisboa. “Perdi as estribeiras”, disse aos jornalistas.