Carros com ChatGPT, eletrodomésticos por subscrição e fogões com IA na grande feira tecnológica CES
EPA/Caroline Brehman

Carros com ChatGPT, eletrodomésticos por subscrição e fogões com IA na grande feira tecnológica CES

A feira CES abre em Las Vegas com promessas de Inteligência Artificial em todo o lado e mais de 130.000 participantes, uma das maiores convenções de sempre na sua história.
Publicado a
Atualizado a

Las Vegas será a capital da tecnologia esta semana com a primeira grande feira de 2024, um espaço maciço com 4.000 expositores e uma participação esperada de 130.000 pessoas. É um aumento considerável em relação à edição do ano passado, que demonstra a integração cada vez maior da tecnologia em todas as áreas. Este ano, e talvez sempre daqui para a frente, a Inteligência Artificial estará presente em todos os cantos. 

Foi isso que se viu logo no primeiro dia de conferências de imprensa, antes da abertura oficial de portas que acontece esta terça-feira. A LG foi uma das marcas que mais impressionou a audiência no arranque: introduziu o robô Smart Home AI Agent, uma subscrição para eletrodomésticos e uma televisão transparente, a OLED Signature T. 

O pequeno robô inteligente, AI Agent, irá gerir a casa inteligente, comunicar com o utilizador e até mostrar empatia, segundo descreveu o responsável Henry Kim, na conferência da LG. Dotado de múltiplos sensores para navegar pela casa, regista indicadores como temperatura e humidade e poderá mostrar “uma variedade de expressões faciais”, algo a que a empresa chama de “inteligência afetuosa.” A ideia é que o robô compreenda cada vez melhor o utilizador e o seu ambiente - por exemplo, alertando para medicações de manhã, dando as boas-vindas no regresso do trabalho e até fazendo chamadas de emergência em caso de acidente. 

Também com foco na IA, a LG introduziu uma subscrição de eletrodomésticos, a que Henry Kim chamou de “casa-como-serviço” para um “lar com zero trabalho.”

É a próxima geração de eletrodomésticos no conceito ThinQ 2.0., que se adaptam às necessidades dos clientes e incluem um sistema operativo especializado e o LG Appliance AI Chipset. 

“A LG está a expandir o seu negócio para os serviços”, resumiu Henry Kim, explicando que subscrever em vez de comprar eletrodomésticos permite poupar nos custos e dar aos clientes acesso a produtos sempre atualizados. “O lar zero trabalho oferece maior tempo de qualidade em casa”, afirmou o executivo. 
No segmento das televisões, Matthew Durgin revelou o processador Alpha 11 AI, com o quádruplo da performance, e a OLED Signature T espantou os visitantes por ser transparente. É algo que “liberta o espaço” e permite que a televisão desapareça na decoração da casa, em vez de a dominar. 

Volkswagen com ChatGPT

Ao mesmo tempo que a LG mostrava esta visão da casa do futuro, a Volkswagen fez a sua versão de um brilharete ao anunciar a integração do ChatGPT nos seus carros. 

“Juntamente com a Cerence, a Volkswagen abraça a IA”, declarou Kai Grünitz, membro do conselho de gestão da construtora para o desenvolvimento técnico. “Vamos adicionar Inteligência Artificial através do ChatGPT ao nosso inovador sistema de voz IDA”, revelou. A integração abrange veículos elétricos e de motores de combustão e estará disponível nos modelos ID.7, ID.4, ID.5, ID.3, e nos novos Tiguan, Passat e Golf.

“A Volkswagen sempre democratizou a tecnologia e tornou-a acessível a toda a gente, faz parte do nosso ADN”, justificou Grünitz. Por outro lado, “é relevante para os nossos clientes”, disse. “As necessidades mudaram nos últimos anos.”

A solução baseia-se no Cerence Chat Pro e torna a Volkswagen na primeira construtora de grandes volumes a oferecer ChatGPT nos seus carros, a partir do segundo trimestre. O assistente pode ser usado para controlar o sistema de info-entretenimento, navegação, ar condicionado e resposta a questões gerais e a IA irá adicionar mais capacidades. O ator Ewan McGregor protagoniza o anúncio que introduziu a novidade. 

Panasonic com IA na cozinha

De volta a casa, a Panasonic decidiu que o ato de cozinhar precisava de um assistente IA e apresentou isso mesmo na sua conferência. Através de uma parceria com a Fresco, uma plataforma usada por várias marcas, os eletrodomésticos de cozinha da Panasonic terão um assistente inteligente para ajudar nas tarefas. O forno HomeCHEF 4-em-1 será o primeiro. 

O intuito é auxiliar os ‘chefs’ caseiros com funcionalidades como adaptação de receitas de acordo com preferências dietéticas, substituições de ingredientes conforme o que haja na despensa, personalização de porções e outras. 

“A Panasonic sempre esteve na linha da frente da inovação tecnológica e ao combinar isto com as capacidades IA da Fresco vamos concretizar a promessa da cozinha inteligente”, disse o diretor de parcerias Walter Taffarello. 

A IA será incontornável no chão da exposição, tal como reconheceu o diretor de programas temáticos e futurista da CTA Brian Comiskey, numa sessão sobre as tendências do ano. Mas o ecossistema está a desenvolver-se muito para lá da IA Generativa, que desencadeou este frenesim. “A Intel e a Qualcomm vão falar sobre como extrair maior potencial da IA e a Microsoft vai fazer a maior atualização do seu teclado em trinta anos para integrar a ferramenta de copiloto IA”, frisou. A Siemens estará a promover o seu “metaverso industrial” com IA, a Maum.AI mostrará o seu AI Human M3 e a WIRobotics o exoesqueleto WIM. 

Curiosamente, apesar de toda a controvérsia que os avanços acelerados desta área têm gerado entre cientistas e analistas, a pesquisa da CTA  - que organiza a feira - mostra que os consumidores têm uma visão maioritariamente positiva dos desenvolvimentos. 

Nove em cada dez adultos têm noção do que é a IA, sendo que 42% a caracterizam como inovadora, 36% futurista e 35% inteligente. Conotações negativas, como “intimidante” (19%), “intrusiva” (14%) e “maliciosa” (5%) estão bem abaixo na tabela. 

Ainda assim, a maioria (74%) acredita que o governo deve regular as salvaguardas de segurança, devido a questões de privacidade (65%), desinformação (63%), segurança (60%) e perda de empregos (59%). 
A CES Las Vegas decorre até sexta-feira, 12 de janeiro. 

Tecnologia com sede em Portugal

A única empresa que aparece na lista de 4.000 expositores como proveniente de Portugal é a InVisionaryBox, uma especialista em experiências de realidade aumentada. A startup tem sede em Lisboa mas uma característica internacional: é uma inovação luso-ucraniana. Foi cofundada por Dina Kondratiuk, que já tinha apresentado a solução na Web Summit, em novembro passado. 

“A InVisionaryBox vai mostrar um construtor de marketing potenciado por realidade aumentada para envolvimento do cliente e aumento do reconhecimento da marca, que está prestes a revolucionar a publicidade dentro de lojas e levar a maior conversões de vendas”, disse Kondratiuk, numa nota enviada ao DN. 

A presença na CES 2024 - que será feita em integração com o pavilhão Ucraniano, sendo que não há iniciativa oriunda de Portugal - será um primeiro passo para avançar para o enorme mercado norte-americano. A sua expectativa é de mostrar como a tecnologia “está a ter impacto global no retalho e no marketing.” A empresa fará hoje um pitch no palco principal do pavilhão japonês. 

“O que me entusiasma mais é ver como a InVisionaryBox envolve as pessoas”, indica Dina Kondratiuk. “A nossa tecnologia relembra os adultos para que apreciem a simples alegria de jogar, algo que muitas vezes tendemos a esquecer.”

A solução consiste numa experiência gamificada para os clientes, que se olham a um “espelho” e interagem com elementos de realidade aumentada sobrepostos à sua imagem. Segundo a InVisionaryBox, estas experiências melhoram a interação com os clientes e obtêm um aumento de 400% na atenção, “o que leva a conversões em vendas mais elevadas.”

Os modelos de implementação são simples - funciona com qualquer câmara web e qualquer ecrã LED. Para eventos e conferências, usar o sistema custa cerca de 350 dólares por dia; para pontos de retalho, começa nos 900 dólares por mês. 

O sistema tem três passos: um anúncio interativo com efeito espelho, uma experiência de jogo de trinta segundos e uma “chamada à ação” que direciona o consumidor para o ponto de venda. 

A equipa conduziu estudos comportamentais que diz estabelecerem uma correlação direta entre experiências gamificadas e maior motivação para a compra, “devido a conexões emocionais intensificadas com as marcas.”

O CEO da InVisionaryBox, Anton Dembitsky, diz que os jogos sempre foram a sua paixão, mas que só pensava neles como lazer. “Agora, estou emocionado por ver o impacto alargado da nossa solução gamificada.” 

A startup autodescreve-se como estando “na linha da frente das tecnologias de realidade aumentada e Inteligência Artificial no marketing e publicidade.” Estabelece como missão revolucionar o envolvimento e reconhecimento de marcas para criar jornadas de clientes tanto em retalhistas físicos como online. 

Ao contrário de anos anteriores, não há mais nenhuma empresa identificada como vindo de Portugal nesta CES 2024. No ano passado houve três (duas das quais integradas na missão da União Europeia) e em anos anteriores à pandemia até mais. A ida a Las Vegas representa um investimento de milhares de euros e é procurada sobretudo por empresas que queiram lançar-se no mercado norte-americano. 

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt