Caretos saem à rua para chocalhar as mulheres

Em Macedo de Cavaleiros a tradição dos homens dos fatos coloridos resiste
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O ritual tem origens celtas e será um dos mais antigos em Portugal. Os caretos são homens e usam fatos coloridos, com máscara vermelha, e chocalhos. Saem à rua no Carnaval, até terça-feira, em Podence, a aldeia de Macedo de Cavaleiros, em Trás-os-Montes onde esta tradição resiste. "Eles, só os homens podem ser caretos, vão atrás das mulheres. Encostam-se e elas fogem", diz António Carneiro, um dos fundadores e presidente da Casa do Careto.

Ligado à agricultura e à fertilidade, este ritual carnavalesco tem hoje uma continuidade que se deve às pessoas de Podence, com os mais novos e os emigrados a serem decisivos. Foi em 2004 com a criação da Casa do Careto, com associação já constituída, que a tradição renasceu. Agora o entrudo chocalheiro afirma-se "o carnaval mais genuíno de Portugal." Os fatos e as máscaras são feitos pelos elementos da associação ao longo do ano. O fato, com franjas, é feito com linho e lã. As máscaras, em metal ou couro, são mais fáceis e são vendidas a turistas. O careto leva ainda os chocalhos à cintura, colares e um pau. Filipe Costa, 31 anos, professor, é um dos artesãos. "Levo duas horas para fazer uma máscara, as de couro só eu faço seguindo uma tradição do meu avô. Já um fato demora dois meses."

A preparação do carnaval é feita por "pessoal de todas as idades, todos ligados à aldeia de Podence". Hoje o entrudo tem um programa mais vasto. Apresenta gastronomia, com seis tabernas abertas na aldeia por habitantes, percursos pedestres e a cavalo e outras atividades, desenvolvidas em articulação com o município de Macedo de Cavaleiros

Num antigo curral a ser transformado em taberna, Rui Carneiro e Mário Félix trabalham na montagem do balcão. "Não faltará comida e bebida", garante Rui Carneiro. Nos quatro dias são esperadas 15 mil pessoas. "Muitas vezes temos visitantes italianos, espanhóis e nem sabemos. Só depois com as publicações que fazem, algumas de académicos, é que percebemos do valor que dão a isto", aponta José Luís Afonso, vereador da Cultura da Câmara de Macedo Cavaleiros, autarquia que tem liderado o processo de candidatura à UNESCO, depois dos caretos serem já considerados património imaterial nacional. Agora querem ser universal e o processo está na fase final da candidatura.

E parece Natal: os emigrantes regressam em massa à terra. "A maioria está em Paris e são eles que fazem aumentar o número de caretos - podem andar 50 nas ruas", diz António Carneiro, bancário cuja dedicação à promoção do careto já lhe valeram críticas de antropólogos por excessiva turistificação. "Os caretos precisam de público. Já tinham morrido sem esta dinâmica. Os jovens aderem porque também gostam de ir nas muitas saídas. Já levamos os caretos a Itália, França, Espanha, Alemanha, Macau.

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