Cão que atacou criança fica de quarentena e pode não ser abatido
O rottweiller que atacou uma criança de 4 anos em Matosinhos ficará em quarentena no canil municipal para despiste de doenças, cabendo ao veterinário municipal decidir se deve ser eutanasiado. Além da criança, que se encontra estável, o cão (que tinha chip ou seja estava registado), provocou ferimentos sem gravidade em mais duas pessoas. O dono do animal, que incorre em três crimes, terá de comparecer hoje no tribunal de Matosinhos.
Não é certo que seja eutanasiado. "O que o que o decreto-lei [315/2009] diz é que o animal tem de ser avaliado e será o veterinário municipal a fazê-lo", explicou ontem ao DN Anabela Moreira, médica veterinária. Numa situação destas, explica a professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, é necessário determinar se o cão "é um risco para a saúde pública", mas, "em termos legais, nada diz que tem que ser eutanasiado".
O rottweiler estaria a passear com o dono, junto ao Mosteiro de Leça do Balio, sem trela e sem açaime - obrigatórios por lei para raças potencialmente perigosas -, o que fez com que os populares chamassem o homem à atenção. De acordo com fonte da PSP, foi então que "o homem se insurgiu contra as pessoas" e o cão atacou pela primeira vez a menina. Após o primeiro ataque, o pai da criança terá começado a tirar fotografias e "o indivíduo insurgiu-se e agrediu-o", pelo que "o cão atacou novamente a criança". Segundo a mesma fonte, a menina ficou "muito maltratada", com ferimentos no couro cabeludo, ombro e numa mão, mas encontra-se estável no Hospital de São João, depois de ter sido assistida no Hospital Pedro Hispano.
A legislação diz que o animal que causa ofensas à integridade física será eutanasiado, "uma vez ponderadas as circunstâncias concretas, designadamente o caráter agressivo do animal". Ilda Rosa, professora de Comportamento e Bem-Estar Animal na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa, destaca que, não sendo abatido, "só pode sair do canil sob a responsabilidade de alguém que prove ser capaz de cuidar dele". Foi o que aconteceu em 2003 com o Zico, o pitbull entregue à presidente da associação Animal, depois de atacar mortalmente um bebé de 18 meses.
Segundo o DL 315/2009, o animal só é eutanasiado de imediato, se apresentar "comportamento agressivo", constituir "um risco grave à integridade física" e o seu detentor não o conseguir controlar.
No caso de ontem, a PSP adiantou que o dono do animal incorre em três crimes: de ofensa à integridade física negligente (por não ter o animal açaimado e com trela), ofensa à integridade física (por agressões ao pai da criança) e omissão do dever de auxílio (por ter abandonado o local após o ataque).
Ressalvando que desconhece as circunstâncias do caso, Ilda Rosa diz que os "qualquer cão tenta proteger o dono", sendo que há casos em que "basta começar a gritar para eles responderem". Ao aperceberem-se que o cão não tinha trela e açaime, destaca, os populares deviam ter chamado imediatamente as autoridades.
Cabe aos donos, destaca a especialista, "ensinar o cão para não atacar, sabendo que um dos instintos primários do animal é a defesa". Usar uma trela, sublinha, é uma forma de educar um canídeo. "A culpa é dos donos que deviam ter os animais contidos", frisa, acrescentando que "o ataque era evitável, se tivessem sido tomadas as medidas a que a lei obriga, se o dono tivesse o cão sob controlo".
Os cães que fazem parte da lista dos potencialmente perigosos, como o rottweiler, são os que devido às características, comportamento agressivo, tamanho ou potência de mandíbula, podem causar lesão ou morte. Dados da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária publicados em 2015 dizem que estão registados 19 382 cães potencialmente perigosos e 1606 cães perigosos em Portugal. "Um animal é considerado perigoso quando morde a pessoas ou animais" destaca Ilda Rosa, ressalvando que conhece muitos "rottweilers e pitbulls excecionais".