Das muitas sublinhagens do coronavírus descendentes da Omicron e identificadas em circulação nos últimos meses, há duas que parecem emergir como potenciais candidatas a substituir a atualmente dominante BA.5 e, eventualmente, provocar novas vagas de casos na Europa neste outono/inverno, alertam alguns especialistas..A BQ.1 descende da BA.5 da Omicron, e foi inicialmente identificada na Nigéria em meados de julho (tal como a BQ.1.1, que lhe acrescenta duas outras mutações), tendo entretanto sido detetada em cerca de duas dezenas de países da Europa, América, Ásia e Oceania - em Portugal não surgem ainda citadas no último relatório divulgado pelo INSA, esta sexta-feira..Em comparação com a BA.5, a BQ.1 tem cinco mutações, a maioria delas na proteína S do Sars-Cov-2, que além de ser aquela que o vírus utiliza como chave de entrada nas células é também a proteína que os anticorpos reconhecem para dar início à defesa imunológica. Quantas mais alterações nessa proteína, mais reduzida pode ser a eficácia dos anticorpos contra o vírus..Segundo um relatório da Agência de Saúde Pública do Reino Unido, citado pelo jornal espanhol La Vanguardia, as BQ.1 e BQ.1.1 têm uma capacidade de propagação 29% maior do que a atual BA.5, parecendo oferecer uma ameaça maior do que duas outras variantes detetadas nas últimas semanas: a BA.2.75.2 e BF.7, ambas também com maior capacidade de crescimento do que a BA.5, segundo o relatório publicado a 7 de outubro..Um estudo do imunologista chinês Yunlong Cao, da Universidade de Pequim, apresentado na plataforma BioRxiv, indica que a BQ.1.1 tem uma capacidade maior de iludir os anticorpos adquiridos por vacinação ou infeção do que a demonstrada até aqui por qualquer variante anterior, manifestando potencial para ser mais contagiosa em populações com alto nível de imunidade..A proteção oferecida pelas vacinas, baseada principalmente em anticorpos, é assim menor perante a BQ.1.1 do que face a outras variantes, segundo os resultados obtidos por Cao, cita o La Vanguardia. Mas a proteção que as vacinas oferecem contra manifestações graves da covid-19, as quais dependem principalmente de células imunes e não de anticorpos, provavelmente mantém-se, refete ao jornal catalão o epidemiologista Antoni Trilla, do Hospital Clínic de Barcelona: "Não há nada que sugira que uma infeção com esta nova variante tenha maior risco de causar complicações graves do que com a variante anterior, especialmente em pessoas vacinadas com o regime completo"..O que, sim, pode acontecer, é uma nova vaga de casos no hemisfério norte neste outono/inverno, "se as BQ.1 e BQ.1.1 se confirmarem como mais transmissíveis". O La Vanguardia cita o bioinformático Cornelius Roemer, da Universidade de Basileia (Suíça), que tem publicado alertas no Twitter sobre a BQ.1.1 desde 21 de setembro: "Está a ficar bem claro que a BQ.1.1 causará uma nova onda na Europa e na América do Norte antes do final de novembro."