Boaventura Sousa Santos negou, esta terça-feira, através de uma carta aberta, as acusações de assédio sexual e moral feita por três investigadoras do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, noticiadas pelo Diário de Notícias. O sociólogo diz que está a ser alvo de "uma difamação anónima, vergonhosa e vil"..Na carta aberta com o título "Diário de uma difamação -1" afirma que nunca teve reuniões com Miye Tom e Catarina Laranjeiro e que teve duas reuniões com Lieselotte Viaene.."Apesar de o artigo estar centrado na minha pessoa, nunca tive reuniões com duas das autoras (Miye Tom e Catarina Laranjeiro) e com a terceira, a principal autora (Lieselotte Viaene), tive duas reuniões, uma como seu supervisor do estágio Marie Curie quando chegou ao CES e outra como director estratégico do CES, a pedido do director executivo, para tentar resolver os problemas do comportamento incorrecto e indisciplinado do ponto de vista institucional desta investigadora. O seu comportamento foi de tal ordem insolente e incorrecto que o CES acabou por lhe abrir um processo disciplinar e não aceitou que ela indicasse o CES como instituição de acolhimento num projecto de candidatura ao European Research Council", escreveu o professor..O comportamento terá levado a um processo disciplinar que resultou no despedimento de Lieselotte Viaene, em junho de 2018, nota..Para Boaventura de Sousa Santos, o capítulo, no que respeita à principal autora, "é um ato miserável de vingança institucional e pessoal"..A informação "caluniosa" que diz respeito ao sociólogo "é anónima e assente em boatos, ou seja, em 'factos' para os quais não é oferecida nenhuma prova ou modo de chegar a ela", critica.."Todas sabemos". Boaventura Sousa Santos entre acusados de assédio no CES/Universidade de Coimbra .O capítulo assinado pelas três autoras "é um texto que tem uma mistura entre um quadro teórico sólido, retirado da literatura que foi produzida no seguimento do movimento 'Me Too', à qual se sobrepõe uma informação empírica assente em referências anónimas, boatos e incidentes não identificados e não provados de maneira a poderem ser contestados", vinca..Boaventura Sousa Santos reconhece que possa ter desiludido a investigadora belga quanto ao pouco tempo dedicado à orientação do seu estágio, mas salienta que "nada dito justifica esta diatribe contra uma instituição e ainda por cima tão personalizada contra alguém que no máximo foi absentista na sua orientação"..Na carta, o sociólogo chama ainda a atenção para pedidos de ajuda de estudantes de doutoramento indígenas da universidade espanhola onde agora Lieselotte Viaene dirige um projeto de investigação, partilhando o teor de um e-mail de uma estudante guatemalteca que acusa a investigadora belga de exercer violência sobre a equipa local de investigação.."No que respeita às insinuações que me são feitas, quero afirmar que confrontarei qualquer suposta vítima com serenidade e sentido de responsabilidade", frisa Boaventura de Sousa Santos..Escreveu ainda que vai avançar com uma queixa-crime por difamação contra as autoras do artigo.."Independentemente dos procedimentos internos e judiciais que o CES vier a adoptar, quero informar-vos de que vou apresentar uma queixa-crime por difamação contra as autoras. Declaro-me disponível para dar todas as informações e prestar todos os esclarecimentos que me sejam pedidos, quer no âmbito do processo judicial, quer no âmbito dos processos internos, que o CES certamente vai pôr em movimento.".Para o diretor emérito, "o CES é uma grande instituição, que granjeou merecidamente prestígio tanto nacional como internacionalmente".."Os seus investigadores e as suas investigadoras continuarão a lutar por merecer esse prestígio, corrigindo erros, sendo rigorosos e transparentes para com todos os atos de violação de ética profissional e denunciando aqueles e aquelas que, ao ultrapassarem os limites da verdade e da reclamação justa, nos pretendem distrair da nossa missão maior, a de contribuir para a ciência cidadã", diz, no final de uma carta de sete páginas, escrita a partir do Chile, onde se encontra, de momento..A investigadora Catarina Laranjeiro não quis pronunciar-se sobre o assunto.