Pai de "bebé-milagre" quer pôr um fim à luta com os avós

Evolução do recém-nascido corre normalmente. Deve ter alta dentro de duas semanas. Pai está desejoso de lhe pegar e diz que conta com avós maternos para tomar conta dele
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"Ele é tão lindo. É o nosso orgulho e a nossa alegria." As palavras são de Miguel Ângelo Faria, 30 anos, pai de Lourenço Salvador, o bebé que nasceu no Hospital de São José, depois de ter estado 107 dias no útero da mãe, que se encontrava em morte cerebral. Ontem, no dia em que Lourenço saiu dos cuidados intensivos da Maternidade Dr. Alfredo da Costa, o jornal britânico Daily Mirror tornou públicas as primeiras fotografias daquele que já é considerado um "bebé-milagre" e que poderá ter alta dentro de duas semanas. Em declarações ao diário, o pai disse que conta com os avós maternos para cuidar dele.

"Agora só quero que o Lourenço tenha uma infância normal e seja feliz. Ele já nasceu com uma personalidade forte por causa da batalha que travou para chegar aqui", disse Miguel Ângelo ao Mirror. Enquanto está a lidar "com a tristeza pela morte de Sandra", Miguel contou como tem estado a viver a "alegria interior" de ter sido pai.

Sandra Pedro, 37 anos, sofreu uma hemorragia cerebral a 20 de fevereiro, quando se encontrava grávida de 17 semanas. Miguel recorda que os médicos pensavam que o bebé também estava morto, até fazerem um exame e detetarem um coração a bater. "Nunca na minha vida tive uma pessoa morta com um bebé vivo dentro dela", terá dito um dos médicos. As máquinas já não foram desligadas.

Após um parecer da Comissão de Ética e Direção Clínica do Centro Hospitalar de Lisboa Central, e numa decisão concertada com a família, os médicos decidiram manter a gravidez com recurso a suporte hormonal, nutricional e funcional. Lourenço nasceu às 32 semanas de gestação, no passado dia 7, tendo sido este o período mais longo alguma vez registado em Portugal de sobrevivência de um feto em que a mãe está em morte cerebral. E um dos mais longos a nível mundial, daí que o caso tenha tido um enorme destaque na imprensa internacional.

Os últimos quatro meses foram uma "longa espera" para Miguel Ângelo. Todos os dias temia que alguém lhe telefonasse a dar uma má notícia. Mas isso não aconteceu. Lourenço nasceu de cesariana, sem qualquer complicação, e tem estado a evoluir bem. Quando o viu, nem conseguia falar. "Estava pálido e a tremer. Ele estava deitado de lado e parecia realmente tranquilo", recordou ao Mirror.

Ontem, o CHLC informou que o bebé-milagre iria deixar os cuidados intensivos. "Está clinicamente estável e a sua evolução prossegue favoravelmente", disse em comunicado. Já no domingo, o centro hospitalar informou que o bebé estava com 2,210 quilos, tendo aumentado 50 gramas relativamente ao dia anterior. Ao que tudo indica, deverá ter alta dentro de duas semanas. Miguel Ângelo trabalha numa fábrica de peças para automóveis, mas está neste momento a gozar a licença de paternidade.

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Todos os dias, quando chega à maternidade, pergunta se pode pegar no filho. "Não estou autorizado a segurá-lo, porque ele ainda está na incubadora", explicou. Acerca da disputa da guarda da criança com os avós maternos, Miguel Ângelo garantiu que nunca rejeitou o filho. Colocaram-lhe a hipótese de o bebé poder ter problemas e "não sabia se tinha condições para cuidar de uma criança com uma deficiência. Mas ele é saudável e disseram-me que tenho direito a gozar a licença de maternidade e paternidade, portanto posso ficar a cuidar dele até novembro ou dezembro". Entretanto, Miguel, que diz contar com o apoio da sua família, já terá dito aos pais de Sandra que, quando começar a trabalhar, podem cuidar do bebé durante o dia. "Precisamos de acabar com esta luta, porque o Lourenço precisa de amor e de ser acarinhado por toda a família", sublinhou nas declarações ao jornal inglês.

Sobre o dia em que Sandra se sentiu mal, Miguel recordou que estavam em casa de uns amigos a jogar cartas, por volta das 05.00, quando ouviu a namorada a chorar na casa de banho. "Ela disse: "Vou morrer. Parece que a minha cabeça vai explodir."" Quando os bombeiros chegaram, "estava quase inconsciente". Segundo a publicação britânica, um problema oncológico nos rins, que já tinha enfrentado há dez anos, pode ter originado a morte, mas Miguel disse não ter conhecimento de que a namorada já tivesse estado gravemente doente no passado. Já a irmã, Anabela, de 39 anos, explicou que Sandra decidiu manter a gravidez, mesmo depois de descobrir que o cancro tinha reaparecido. "Ela não queria interromper a gravidez. Queria realmente essa criança. Ela deu a vida por ele", disse.

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