Barreira linguística foi "uma das razões" pelas quais ex-CEO da TAP não foi ouvida pela IGF

Inspetor-geral de Finanças quer dar a oportunidade a Christine Ourmières-Widener de responder a algumas perguntas, com recurso a tradutor.

O inspetor-geral de Finanças admitiu esta quarta-feira que a barreira linguística foi "uma das razões fundamentais" para não ter existido uma audição presencial à ex-CEO [presidente executiva] da TAP, Christine Ourmières-Widener, no âmbito da investigação à indemnização paga a Alexandra Reis.

"Quando optámos por ouvir Alexandra Reis, o Presidente do Conselho de Administração da TAP, também o CFO e o ex-secretário de Estado das Infraestruturas, essas eram as pessoas de quem havia indícios suficientes que tinham envolvimento direto no processo. As restantes, não tínhamos essa informação e julgámos que seria adequado proceder a esclarecimentos por escrito", começou por explicar António Ferreira dos Santos, em resposta a uma pergunta do deputado socialista Carlos Pereira, na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP.

"A questão para nós também foi o facto de estarmos a falar em línguas diferentes. Percebemos da audição que a senhora teve nesta Assembleia que talvez isso tenha sido utilizado para não serem respondidas algumas perguntas, portanto, essa também foi uma opção que esteve presente", prosseguiu.

"Vamos ouvir, por escrito, fazendo as perguntas que alguém traduzirá como entender, em português, sem existir qualquer tipo de dúvida", garantiu, ainda assim, o Inspetor-Geral de Finanças.

Ferreira dos Santos admitiu que foi equacionado o uso de um tradutor. "Diria que acabamos por dar mais oportunidade à ex-CEO da TAP de expor as suas ideias a partir do momento em que lhe fizemos perguntas concretas, em português, dando-lhe a oportunidade de, utilizando a tradução que achasse adequada, fazer a sua resposta, assumir essa tradução e responder-nos igualmente em português", frisou.

CEO tentou retirar competências a Alexandra Reis antes da rescisão

O inspetor-geral de Finanças disse que a presidente executiva da TAP tentou inicialmente retirar competências à ex-administradora Alexandra Reis, tendo posteriormente considerado que não estavam reunidas condições para a manter na equipa, por "desajustamento de opiniões".

"Daquilo que conseguimos apurar, há uma conversa inicial em que a CEO tentou de alguma forma retirar competências à engenheira Alexandra Reis, e no momento seguinte entendeu que não estavam reunidas condições para continuar a trabalhar com ela", afirmou o inspetor-geral de Finanças.

Segundo António Ferreira dos Santos, Ourmières-Widener expressou que havia um "desajustamento de opiniões" com Alexandra Reis.

Questionado pelo deputado socialista Carlos Pereira, o inspetor-geral disse ainda que, nos esclarecimentos à IGF após ter sido noticiada a indemnização de meio milhão de euros, Alexandra Reis nunca referiu o e-mail enviado ao então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, a colocar o lugar em disposição, em dezembro de 2021, antes do acordo para sair da TAP.

O Governo anunciou a exoneração da presidente executiva da companhia aérea, Christine Ourmières-Widener, e do presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, em 06 de março, depois de anunciados os resultados de uma auditoria da IGF, que concluiu que o acordo para a saída de Alexandra Reis é nulo e grande parte da indemnização de perto de meio de milhão de euros terá de ser devolvida.

A polémica começou no final de dezembro, altura em que o Correio da Manhã noticiou que a então secretária de Estado do Tesouro tinha recebido uma indemnização de cerca de 500.000 euros para sair dois anos antes do previsto da administração da empresa.

O processo foi negociado ao abrigo do código das sociedades comerciais, quando a TAP está abrangida pelo estatuto do gestor público.

O caso motivou uma remodelação no Governo, incluindo a saída do ex-ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos.

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