Baleia Azul em Portugal: dois jovens internados
Autoridades estão a acompanhar o fenómeno e aconselham vigilância aos pais. Incitamento ao suicídio é crime, alerta a PJ.
São as primeiras duas vítimas conhecidas em Portugal da "Baleia Azul". Uma rapariga de 18 anos atirou-se de um viaduto para a linha férrea em Albufeira na madrugada desta quinta-feira, no que aparenta ser uma tentativa de suicídio. Tinha a palavra "sim" cravada na coxa e outros cortes que formavam a palavra "F57". Também um rapaz de 15 anos, de Sines, foi internado no Hospital de Setúbal depois de ter "desenhado" uma baleia num braço com um objeto cortante. O caso relatado pela Lusa aconteceu "recentemente" e foi confirmado à Lusa pela GNR de Sines mas não foram dados mais pormenores.
A "Baleia Azul" é um jogo online que terá surgido na Rússia e tem sido responsabilizado pelo suicídio (ou pelo menos a sua tentativa) de vários jovens em países como o Brasil, França, Inglaterra, Roménia e Espanha. Os alvos são sobretudo adolescentes e jovens que recebem uma mensagem nas redes sociais que é uma intimação a participar no jogo: "Podem dizer-lhes que sabem onde eles moram e que se eles não participarem no jogo e não cumprirem as ordens algo mau vai acontecer, como por exemplo vão matar os pais deles", explica ao DN a psicóloga Bárbara Ramos Dias. Durante o jogo, os participantes devem obedecer cegamente a um curador que os obriga a mutilarem-se e cumprirem tarefas como ouvir músicas psicadélicas, ver filmes de terror o dia inteiro e não falar com ninguém. A última das 50 etapas do jogo é geralmente o suicídio.
Bárbara Ramos Dias, que costuma acompanhar adolescentes, teve o primeiro contacto com a "Baleia Azul" há uma semana através de um paciente de 11 anos que lhe pediu ajuda, assustado, após ter sido abordado. Depois disso, um outro caso chegou ao seu consultório. "A primeira coisa a fazer é dizer-lhes que aquilo é mentira, que as ameaças não se vão concretizar", afirma. "Não é a primeira vez que aparecem este tipo de jogos. Mas este é muito mais assustador e por isso também mais perigoso."
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Na opinião desta psicóloga, todos os jovens a partir dos 10 anos, "quando têm telemóvel", podem ser alvos desta ameaça, pelo que é importante que, antes de mais, os pais lhes falem deste perigo, antes sequer de algo acontecer. "Os jovens mais frágeis, deprimidos ou com menos apoio estão mais suscetíveis", diz, acrescentando que é importante que eles - ou alguém por eles, como os pais ou os amigos - peça ajuda aos especialistas.
O inspetor-chefe da Polícia Judiciária Jorge Duque avisa que o "incitamento ao suicídio" e as "ameaças à integridade física" são dois crimes que podem estar a ser cometidos pelos responsáveis pelo jogo. Em declarações ao DN, Jorge Duque alerta os pais para a necessidade uma maior vigilância dos filhos e um maior acompanhamento das suas atividades online, de forma a evitar a sua entrada em jogos como o "Baleia Azul".
"Há que ter muito cuidado quando se entrega um smartphone ou um tablet a uma criança, sem primeiro o ensinar a navegar", refere o inspetor da judiciária, especialista na criminalidade online. "É preciso que os jovens entendam que quando um jogo ou desafio lhes dá uma missão, eles têm que pensar primeiro na sua integridade física e psicológica, só que por vezes podem estar mais vulneráveis e arriscam. Os pais devem estar atentos."
Por sua vez, a PSP também colocou a tónica na prevenção, aconselhando alguns "procedimentos de segurança em ambiente digital", aos pais e responsáveis legais por crianças e jovens, tais como o reforço da supervisão e monitorização da atividade dos filhos na internet e redes sociais. "Importa ainda que os pais alertem as crianças sobre os riscos de adicionar desconhecidos e recomendem que apenas a família, amigos e pessoas da escola façam parte da sua lista de amizades nas redes sociais", referiu a PSP.
Para esta polícia "não há necessidade de proibir o acesso" aos meios digitais. "O mais importante é incentivar o diálogo e o debate no seio da família sobre os assuntos relacionados com a segurança, perigos e privacidade na internet, de forma a promover um maior conhecimento por parte das crianças e jovens".
Caso os pais suspeitem que "as crianças ou jovens estejam a ser alvo de violência psicológica ou intimidação", devem efetuar uma denúncia na polícia.
No caso de Sines, fonte da GNR garantiu à Lusa que "se detetou a situação numa fase precoce" e o jovem não infligiu a ele próprio ferimentos muito graves. O caso está a ser acompanhado pela CPCJ (Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens) de Sines e não foi aberta uma "investigação criminal", uma vez que se trata de "atos voluntários". A jovem do Algarve está internada no Hospital de Faro e está "estável" e consciente.