Perto da estação de Santa Apolónia um mar de tendas abriga estrangeiros em situação de sem-abrigo.
Perto da estação de Santa Apolónia um mar de tendas abriga estrangeiros em situação de sem-abrigo.Mário Vasa/Global Imagens

Av. de Ceuta, Oriente, Santa Apolónia e Anjos são as zonas onde há mais sem-abrigo

Em Alcântara todos os dias são encontradas novas pessoas nesta situação e com problemas de dependências. Na Gare do Oriente há um misto entre dependentes e imigrantes. Nas outras duas áreas veem-se, sobretudo, estrangeiros.
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Renata Alves, diretora técnica da Comunidade Vida e Paz (CVP), identifica quatro zonas da capital  onde a população em situação de sem-abrigo tem vindo a aumentar bastante nos últimos meses. 


Uma certeza assente nas rondas que as carrinhas de apoio às pessoas que sobrevivem nas ruas fazem pela cidade, como explica ao DN. “Vamos ao encontro delas em cem pontos diferentes da cidade e, neste momento, estamos a dar apoio a cerca de 530 pessoas”, avança esta responsável da CVP, uma das entidades protocoladas com a autarquia lisboeta para dar resposta a este problema social.


Na avenida de Ceuta, em Alcântara, “todos os dias aparecem pessoas novas e, naquela zona, estão muito ligadas aos problemas com as dependências”, começa por explicar a diretora técnica da CVP. 


“Na Gare do Oriente também temos visto mais pessoas. Aqui vê-se todo o tipo de pessoas, desde idosos, a jovens, casais e também pessoas com dependências”. 


Entretanto “à zona da igreja dos Anjos, em Arroios, chegou um grupo grande de imigrantes, vindos sobretudo de África, de países como a Gâmbia e o Senegal. Estão em tendas, sem trabalho e sem documentação. No fundo, as pessoas chegam a Portugal à procura de uma vida melhor mas depois o que encontram não corresponde às suas expetativas e ficam numa situação de grande vulnerabilidade”, analisa a diretora técnica da CVP. 


A zona envolvente da estação de Santa Apolónia é o outro “ponto negro” de concentração de pessoas em situação de sem-abrigo na cidade de Lisboa: “Também vêm muitas pessoas da Ásia e do Brasil. Ali na zona de Santa Apolónia, por debaixo do viaduto, as equipas de voluntários têm-se deparado com muitos indivíduos, sobretudo homens,  nestas circunstâncias”.


Além de haver estes locais da capital, onde se concentram mais pessoas em situação de sem-abrigo, a responsável da CVP garante: “Tem havido um aumento de pessoas nestas condições, cerca de 25% em relação ao período homólogo do ano passado. Isto apesar de serem populações muito voláteis, que se vão movimentando por toda a cidade e nem todas as noites conseguimos encontrar as mesmas pessoas, nos mesmos sítios.”


Para lá dos cem pontos por onde passam as carrinhas, com voluntários da CVP, que distribuem lanches, todas as noites, há cinco freguesias entregues à equipa técnica desta instituição: “A nossa equipa técnica de rua apenas contacta cinco  freguesias, porque existem outras equipas técnicas que estão protocoladas, tal como a nossa, com o município de Lisboa. Estamos presentes, desta forma, em Alvalade, Santo António, Areeiro, Avenidas Novas e Arroios. A CVP tem a sua intervenção assente em três grandes eixos: ir ao encontro, que é onde estão inseridas as equipas de rua. Depois a reabilitação e o tratamento e a reinserção social”, prossegue a responsável por esta IPSS.

Tendo em conta as dificuldades em apoiar tantas pessoas, a CVP lançou a campanha Condomínio Olho da Rua, protagonizada por Nuno Markl e Eduardo Madeira, onde simplesmente pede aos contribuintes que façam a consignação de 0,5% do IRS à instituição, com o NIF 502310421.


A Câmara Municipal de Lisboa (CML), por sua vez, corrobora a existência de centenas de cidadãos estrangeiros a sobreviver nas ruas da capital. “As equipas técnicas de rua têm a perceção de um aumento de pessoas em situação de sem-abrigo de nacionalidade estrangeira, muitas em situação irregular”, avança o município ao DN. 


A CML frisa: “O aumento do número de estrangeiros indocumentados e sem meios de subsistência a viverem nas ruas resulta de opções políticas da Administração Central, entre elas, a demora na criação da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA) - com a extinção do SEF e do ACM - que deixou ‘pendentes’ 350 mil processos de regularização de estrangeiros’”. 


O município “assegura atualmente mais de um terço das respostas de acolhimento a pessoas em situação de sem-abrigo” e decidiu reforçar o investimento nesta área “dedicando 70 milhões de euros de investimento municipal ao longo dos próximos seis anos, o equivalente a mais de 10 milhões de euros anuais”.

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