Aura Miguel: condição do Papa é mais do que "meramente complexa e se calhar há coisas que não são ditas"
Aura Miguel, jornalista da Rádio Renascença e vaticanista, não tem dúvidas: a situação de saúde do Papa Franciso é mesmo grave mas pode ser "mais do que meramente complexa", como comunicou a Santa Sé.
Internado desde dia 14 de fevereiro, Jorge Bergoglio foi diagnosticado com uma bronquite, a que se juntou uma pneumonia bilateral. "O próprio Vaticano a define como situação complexa. Mentir sobre o estado de saúde do Papa não será o caso, mas se calhar há coisas que não são ditas na totalidade", explica Aura Miguel, que já acompanhou mais de 100 viagens papais.
Caso a situação se agrave e o estado de saúde de Francisco o impeça de continuar, deve o Papa renunciar? "Isso é na consciência e na vontade dele. Mas só o fará se perceber que é essa a vontade de Deus ou se vir que está francamente limitado", acredita a jornalista.
No entanto, essa é "uma hipótese". "Há, supostamente, uma carta" escrita por Francisco (tal como por outros Pontífices) "com indicações" sobre o que fazer caso piore. Mas abdicar por motivos de saúde é algo raro. Não obstante Bento XVI, o antecessor de Francisco ter abdicado, tal não acontecia há cerca de 600 anos.
"João Paulo II decidiu ficar até ao fim, mesmo com as limitações, e que Bento XVI não precisou da carta porque ele próprio tomou a decisão de resignar. Paulo VI, segundo se dizia, também teria uma carta desse género se estivesse completamente incapaz de governar", explica Aura Miguel, que, ao contrário do que disse "a entourage" do Papa, não acredita que "esteja em condições" de estar presente na Semana Santa (de 13 a 20 de abril).
No entanto, apesar da situação "mesmo complexa" e de a comunicação do Vaticano estar "blindada", Aura Miguel acredita que Francisco "ainda está bem". "Quando o Vaticano diz que o Papa acordou e que está bem disposto, acredito que Francisco esteja bem do ponto de vista anímico", diz. E, sublinha, a Santa Sé referiu que, apesar do internamento, Francisco ligou para a paróquia em Gaza. "Isso quer dizer que não estará entubado, mas tem as suas fragilidades, até pelo passado dele", explica a jornalista.
Caso o Papa morra, José Tolentino Mendonça será um candidato à sucessão? "Acho que é mais wishful thinking por parte dos portugueses. Ele tem um grande protagonismo, é verdade, mas são um leque de mais de 130 cardeais eleitores. O panorama é muito diversificado e há pessoas com outro tipo de experiências que poderão pesar também, como a experiência diplomática ou uma experiência mais alargada a outras questões que não é só a parte da cultura e da educação. A eleição é muito mais complexa do que parece", conclui Aura Miguel.