Associações militares manifestam "profunda preocupação" com futuro do Hospital das Forças Armadas

Associações profissionais de militares acusam o Governo de mostrar "desdém pela condição militar".
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As associações profissionais de militares organizaram esta sexta-feira uma vigília em frente ao Hospital das Forças Armadas para manifestarem "profunda preocupação" com o futuro daquela unidade de saúde e acusaram o Governo de mostrar "desdém pela condição militar".

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), António Lima Coelho, afirmou que o objetivo da vigília, que juntou cerca de 50 pessoas, foi o de alertar para o "mau funcionamento do hospital", recordando que o acesso à saúde é um "direito constitucional" e, no caso dos militares, um dever.

"A maior parte dos cidadãos não tem consciência de que os militares podem ser acionados disciplinarmente se negligenciarem a sua saúde. Ora, quem de nós exige esta prontidão, exige ainda que paguemos por essa saúde e, depois, não temos um hospital capaz para responder a essa saúde. Isto é qualquer coisa de absurdo", criticou.

Apesar de reconhecer que o Governo respondeu à situação de falta de profissionais que, segundo notícias divulgadas na semana passada, estariam a colocar o Hospital das Forças Armadas em "risco de rutura", António Lima Coelho defendeu que "os problemas estruturais da falta de efetivos estão longe de estar resolvidos".

O presidente da ANS sustentou que o Hospital das Forças Armadas precisa "essencialmente de recursos humanos" e alertou que aquela unidade de saúde não deve ser vista como "possibilidade de nicho de negócios".

"Imaginemos um hospital desta dimensão, que tem que ter uma lavandaria a funcionar em pleno e (...) uma lavandaria que deveria ter 14 ou 15 efetivos no seu trabalho, está a funcionar com três pessoas. Não é possível, não há capacidade de resposta. Qual é o objetivo? Externalizar? Estabelecer aqui mais um nicho de negócio? Não pode ser", alertou.

Questionado se, na reunião de quarta-feira que teve com o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marco Capitão Ferreira, sobre a situação no Hospital das Forças Armadas, sentiu que existe vontade política da parte do Governo para responder a esses problemas estruturais, António Lima Coelho respondeu que "houve vontade política para dizer que há vontade, é diferente de haver vontade política".

"Quando as responsabilidades se empurram para as Finanças, para a Defesa, para os militares que fazem a gestão das coisas, andamos aqui a fazer um jogo de passa culpas. E nós não andamos à procura de culpas ou de passar as culpas a ninguém, nós queremos é ver respostas concretas para os problemas concretos", vincou.

António Lima Coelho considerou que "a condição militar tem vindo a ser degradada há muitos anos" e vê na atual situação do Hospital das Forças Armadas "mais um passo num processo muito grave".

"É mais um passo num processo que, em determinada altura, apelidámos de comissão Liquidatária das Forças Armadas e que não se resume à saúde militar. Estamos a ver o que se passa com os efetivos, com o fardamento, com o sistema remuneratório. Há um desligar, uma menorização relativamente às Forças Armadas, e isso é preocupante", advertiu.

O presidente da ANS alertou que é o próprio futuro das Forças Armadas que pode estar em causa, sustentando essa tese com estatísticas segundo as quais, no final deste ano, "houve um turno de recrutas com apenas 144 efetivos, espalhados pelo país inteiro".

"Os planos que a senhora ministra repetidamente vai anunciando, de recrutamento disto e daquilo, manifestamente não têm resultados. (...) Quando a senhora ministra vem dizer que existem dez mil candidatos, isto não corresponde à realidade e à verdade. Nós sentimos que isso não é assim", acusou.

António Lima Coelho considerou ainda que existe uma "teimosia muito grande" em rever o "sistema remuneratório" das Forças Armadas, que considerou "fundamental" e que "está velho, obsoleto, caduco, elitista, classista, e que não atrai os mais jovens".

"Não querer ver esta realidade é não querer procurar soluções", assinalou.

Depois de ter participado numa vigília na qual vários participantes mostravam cartazes em que se lia "Temos dignidade e exigimos respeito" ou "Não à destruição da saúde e condição militar", António Lima Coelho garantiu que as associações militares vão organizar mais ações deste tipo.

"Nós somos muito imaginativos e vamos ter de encontrar cada vez mais ações, umas de maior dimensão, outras de menor dimensão, de intensidade e geometrias variáveis. (...) Vamos ter de continuar a fazer isto para que os militares de hoje, de ontem e os de amanhã não fiquem esquecidos", disse.

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