Aprender a cair para conseguir levantar. Conheça projeto que leva doentes de Parkinson a treinar em trampolins
Em 2019, a reformada Feliz Esteves passava por um momento duro. "Estava no início de saber que poderia ter Parkinson", relata ao DN. Naquela altura, entrou num projeto inovador, que investigava o uso de trampolins no tratamento da doença. "Para mim, foi libertador. Eu tinha saído de problemas de saúde graves, fiquei imobilizada quase um ano. Ajudou-me a recuperar fisicamente", conta.
Este projeto é o BounceBack e consiste em sessões de fisioterapia realizadas em trampolins. Os doentes seguem os comandos das profissionais de saúde responsáveis, executam movimentos diversos em que mexem os braços, pernas, caminham, jogam com bolas, dão pequenos saltos, e coordenam tudo isso com os balanços que a rede do trampolim traz.
"O projeto nasce de um desespero muito grande de termos uma melhor resposta para as quedas", explica ao DN a fisioterapeuta Josefa Domingos. "Nessa tentativa, trouxe alguns doentes de Parkinson para experimentar e consegui perceber, logo ao início, com duas ou três pessoas, que os resultados estavam a ser muito positivos. Em função disso, desenvolvemos então o projeto de investigação com a Faculdade Egas Moniz, no sentido de conseguirmos provar a sua segurança, que era possível aplicar a várias pessoas diferentes, e também mostrar que teria resultados em termos do equilíbrio e do convívio, satisfação e motivação das pessoas", completa a responsável.
Assista à reportagem
Passada a fase de implantação e investigação, com resultados comprovados, o BounceBack está estabelecido como um projeto de intervenção comunitária para a prática de exercícios. Conta com o apoio do Jump Yard, onde ocorrem as sessões, e da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson.
"Conseguimos mostrar que todas as pessoas que iniciaram o projeto e terminaram conseguiram mostrar melhores resultados em termos de equilíbrio e também na escala de evolução da doença em si", afirma Josefa Domingos. "O principal objetivo é nós conseguirmos criar ambientes saudáveis para o convívio e, ao mesmo tempo, fazer uma atividade que traga resultados clínicos na área do equilíbrio. Conforme a doença de Parkinson progride, este é vai ser um dos desafios principais que as pessoas vão ter, o risco de cair", completa.
Cair, nesta aula, não é um problema, pelo contrário. "Esta superficie permite-nos, ao mesmo tempo, aumentar a intensidade da intervenção, que já perceberam que estar um bocadinho aqui nestes trampolins, com toda esta instabilidade que proporcionam, torna um treino muito mais intenso em menos tempo, por outro lado dá uma sensação de segurança, diminuem a sua ansiedade com o medo de cair. Treinamos estratégias necessárias para o equilíbrio postural, por outro lado se a pessoa se vai ao chão treinamos como consegue se levantar", explica Catarina Godinho, fisiologista do exercício.
O exercício é, de facto, mais exigente do que se imagina quando falamos de ir aos trampolins. Mas se uma reportagem de uma hora neste ambiente nos faz cansar, também nos mostra a boa disposição de todos, ânimo camaradagem que têm um pelo outro. "E temos as melhores professoras" confidencia conosco o João, sem que Josefa e Catarina escutem.
"Estes trampolins cansam muito mais do que se o piso for plano", diz, a rir, o Luís. "Sinto-me mais seguro e mais facilmente consigo aplicar os ensinamentos que já tive de como cair. Noutro dia, tive uma pequena queda no jardim. Em vez de ir de cabeça, consegui torcer-me para chegar ao chão e não bater a cabeça", conta este antigo jornalista, diagnosticado há 15 anos. "Nós com Parkinson sofremos muito com desequilíbrios, uns mais do que outros. Também somos conscientes de que, como qualqer pessoa com mais idade, cair pode ser muito mal. Este aprendizado, aprender a cair, é muito importante", afirma.
As aulas acontecem semanalmente, são gratuitas e a abertas a qualquer pessoa que tenha interesse. O contato para participação pode ser feito pelos emails cgcgodinho@gmail.com ou domingosjosefa@gmail.com.