"Seis, seis, vinte e três, já cá estamos outra vez. Se isto não mudar nós havemos de voltar". Os gritos dos professores fizeram agitar a cidade de Lisboa, que este sábado assistiu a mais uma manifestação em nome dos direitos dos profissionais da educação..Menos de um mês depois da manifestação nacional que uniu todos os sindicados do setor, a 11 de fevereiro, os professores voltaram a marchar em Lisboa e no Porto, caminhando desde o Rossio em direção à Assembleia da República e da Praça do Marquês até à Avenida dos Aliados..Com cerca de 80 mil pessoas reunidas pelas duas cidades, de acordo com Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, a recuperação do tempo de serviço continua a ser a principal reivindicação dos professores, que admitem "não parar".."Para quem achava que os professores estavam cansados e fartos de lutar, bem podem meter a viola no saco. Estão 40 mil professores aqui e outros 40 mil lá no Porto, o que quer dizer que temos a maior manifestação nas ruas", anunciou Mário Nogueira. Aliás, o representante dos docentes alertou que irão ser necessárias "mais formas de luta", inclusivamente no dia 9 de março, data em que os sindicatos se voltarão a reunir com o ministério para uma reunião negocial suplementar.."Qual é o caminho quer o Ministério para a Educação?", questionou o secretário-geral da Fenprof, admitindo que o futuro poderá "ser muito complicado" se não existirem mudanças significativas nas escolas.."Luta" , "decisão" e "incerteza" são as três palavras mais utilizadas entre os milhares de profissionais da educação para descrever o atual ano letivo, que se encontra a meio..Durante a manifestação em Lisboa, o professor de Biologia e Geologia Carlos Lopes, de 43 anos, disse ao DN que este tem sido um ano "conturbado", apesar de "os docentes tentarem minimizar os problemas e as desvantagens para as aprendizagens".."Desde o ano passado que temos tentado negociar com o Governo e nunca houve muita vontade. Não me parece que seja agora que se irá resolver, infelizmente. Ainda há muitos assuntos por se resolver e temos de encontrar um ponto de acordo entre os sindicatos e a tutela, mas não me parece que ambos os lados estejam dispostos a encontrar um meio-caminho", explicou..Já Cecília Dinis, 64 anos, considera que "os professores estão muito determinados a lutar pelo que pretendem" e que as manifestações continuarão por tempo indefinido.."Os professores estão a mostrar ao país que não podemos rastejar", sublinhou..Com 44 anos de carreira, a professora do primeiro ciclo também vê a situação com o "copo meio vazio" e defende que "o que o ministério considera que são cedências, não o são", acabando por agravar as condições da escola pública..Nesse sentido, "ainda há muito por fazer e por discutir" com os sindicatos: "O que queremos que seja discutido, não vai ser discutido. Apenas se falam nos concursos, mas há muito mais além disso"..Horácio Rodrigues, 55 anos, e Margarida Martins, 49 anos, são professores do primeiro ciclo de escolaridade e vieram de Setúbal para a sua quinta manifestação desde dezembro. "Enquanto isto durar cá estaremos para lutar pelos nossos direitos", disseram ao DN..Perante mais uma ronda negocial na próxima semana, Horácio não acredita que se chegará a um entendimento em breve "porque há muitas injustiças no acordo que o ministério propõe", não abrangendo grande parte das reivindicações dos docentes..Tendo em conta a imposição de serviços mínimos estipulados pelo tribunal arbitral que obrigam a três horas de aulas diárias no ensino pré-escolar e 1.º ciclo, estes dois professores admitem que "ficam impossibilitados de fazer greve", uma vez que os horários não permitem, o que gera uma grande "revolta" e "desunião".No entanto, confessam que sentem um grande apoio por parte dos pais e encarregados de educação, que "estão solidários com a luta".."Estamos a lutar também para melhores condições para os nossos alunos. E o ministério não parece pensar nos alunos. Os alunos sempre serão a prioridade dos professores", frisa Horácio Rodrigues..O Bloco de Esquerda (BE) questionou a Comissão Europeia sobre a imposição de serviços mínimos, querendo saber de que "mecanismos de proteção" dispõe a UE para levar os governos a "respeitar o direito à greve"..Os eurodeputados Marisa Matias e José Gusmão afirmam que "os serviços mínimos previstos para as greves de tempo indeterminado de um só sindicato", em referência ao Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (S.T.O.P), acabaram "por se estender a todas as convocatórias", dado que o ME está a "dar orientações" para que os serviços mínimos sejam cumpridos "para todos os estabelecimentos, independentemente do número de pré-avisos"..Nesse sentido, o BE questionou, tendo em conta Declaração dos Direitos Humanos, "pode um governo da União Europeia (UE) decretar serviços mínimos, especialmente com esta dimensão no exercício do direito à greve"..Com Lusa.ines.dias.@dn.pt