Apicultores em protesto: "O mercado está saturado de produtos fraudulentos. Não há espaço para o mel português"
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Apicultores em protesto: "O mercado está saturado de produtos fraudulentos. Não há espaço para o mel português"

O protesto decorre esta terça-feira em Lisboa, em frente à representação da Comissão Europeia, em simultâneo com outros de apicultores europeus, em Paris e Madrid.
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Os apicultores portugueses juntam-se esta terça-feira em frente à sede da Representação da Comissão Europeia em Portugal, no Largo Jean Monnet nº 1, em Lisboa, para pedir transparência no mercado do mel. 

“Nós estamos a chamar a atenção para a necessidade do mercado do mel ter mais transparência”, afirma ao DN o secretário-geral da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FANP), João Casaca. 

Segundo dados da Comissão Europeia, cerca de 46% do mel importado durante 2021 e 2022 era adulterado. “Desde que se conhece esse dados até agora nada mudou. Cada vez há mais importações de mel. Muito deste mel é fraudulento. Os nossos apicultores não conseguem vender o mel que têm no armazém”, acrescenta. 

João Casaca sublinha que os apicultores europeus passam por um sistema de rastreio e de análises, antes de venderem o mel, algo que não é imposto ao mel importado. “Este mel importado de terceiros países, como a China, entra e circula na União Europeia e chega ao consumidor sem qualquer tipo de controlo. Portanto, há falta de transparência”. 

Os apicultores europeus pedem para que seja criado um sistema de análises para todo o mel que está no mercado. 

Cada vez há mais importações de mel. Muito deste mel é fraudulento. Os nossos apicultores não conseguem vender o mel que têm no armazém.

João Casaca

A entrada do mel adulterado tem um grande impacto na vida dos apicultores portugueses, devido à sua diferença de preços. “Esse mel está a entrar cá a um euro e cinquenta e se o apicultor português não vender o seu mel a um mínimo de quatro euros e meio está a perder dinheiro”, ilustra. 

João Casaca referiu ainda que está a ser cada vez mais complicado manter a profissão de apicultor em Portugal, também graças aos efeitos das alterações climáticas, com a seca a afetar substancialmente a produção. “Nós passámos dois anos com pouca produção por causa da seca. E 2024 foi um ano de recuperação. Mas a produção, que foi recuperada, está no armazém, porque o mercado está saturado destes produtos de baixa qualidade e de baixo preço. Não há espaço para o mel produzido pelos apicultores portugueses”

Segundo a Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, o mel importado é muitas vezes feito de xaropes de açúcar, que não têm qualquer valor alimentar.

O protesto marcado para esta terça-feira acontecerá em simultâneo em Paris e Madrid, juntamente com a União Nacional de Apicultores Franceses (UNAF) e Coordinadora de Organizaciones de Agricultores e Ganaderos (COAG). Segundo o secretário-geral da FNAP, é na Europa que há mais profissionais do setores. “Nós decidimos organizar um protesto comum e procurar soluções em conjunto, porque pensamos que assim tem mais força. Temos a certeza que assim tem mais força e mais impacto”. 

A  Federação Nacional dos Apicultores de Portugal espera que haja uma reação da Comissão Europeia e o Governo Português ao protesto. O próximo passo é alargar o protesto a outros países da União Europeia.

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