Antifascistas agredidos pela PSP decidem hoje se apresentam queixa
Militantes antifascistas decidem hoje à tarde se apresentam ou não queixa à Polícia de Segurança Pública (PSP) pelas agressões sofridas numa carga policial no último sábado, que deixou seis pessoas feridas e a necessitar de cuidados médicos. A intervenção das forças de autoridade aconteceu na Praça do Município, minutos antes da chegada dos manifestantes nacionalistas, que desciam a rua numa “caixa de segurança” das forças policiais, contra os quais os agredidos se manifestavam . Conforme o DN atestou no local, à chegada do grupo liderado por Mário Machado, na praça já só restavam agentes no local e todo o perímetro estava encerrado ao trânsito.
“Vamos decidir em conjunto se avançamos ou não com uma queixa, porque não acreditamos que o órgão que nos agrediu nos vá dar Justiça”, explica ao DN Sara Gaspar, uma das agredidas. A bióloga de 30 anos estava na linha de frente de um grupo de aproximadamente “uma centena de pessoas”, próximo da Câmara Municipal de Lisboa.
“O nosso objetivo era fazer uma manifestação antifascista sem violência. Isto foi muito rápido, num instante a polícia chamou a força especial, que nos começou a empurrar. Não houve nenhum aviso, foi só violência. Quando disseram para recuarmos, já estávamos a levar com escudos e cassetetes”, conta. Também foi usado gás pimenta contra o grupo.
O DN teve acesso ao relatório médico de Sara em que estão registadas “duas incidências nas mãos, duas no joelho e duas no punho”. O documento também refere a presença de hematomas. Sara reitera que a linha dos manifestantes antifascistas era de “não-violência” e que apenas queriam marcar posição contra “um protesto que, num Estado de Direito nunca deveria ter acontecido”.
Um dos vídeos a que o DN teve acesso mostra um homem deitado no chão e a levar, pelo menos, duas bastonadas de um agente. E Constança Lobão, de 26 anos, acompanhou até o hospital um dos agredidos, que estava com um corte na perna, tendo acabado por levar pontos.
“Baixa potencialidade letal”
Ao DN, a Direção Nacional da PSP diz que foram “usados meios de baixa potencialidade letal, enquadrados pelo princípio da mínima intervenção necessária, proporcionalidade e adequação”. A polícia ainda afirma que, antes, os agentes presentes na Praça do Município “solicitaram a esse grupo de pessoas, pela via do diálogo, que se ausentasse daquela zona com o intuito de não ocorrer qualquer tipo de confrontação entre as duas ações de protesto” e que o motivo era “uma questão de segurança de todos os cidadãos”.
Ainda conforme a PSP, “existia elevado perigo de perturbação da ordem pública” o que, tendo em conta a “renitência desse grupo em ausentar-se do local”, obrigou à intervenção. Nos vídeos publicados nas redes sociais ainda se ouve um grito de alerta para a presença de um jornalista entre os manifestantes. O Comando nega que jornalistas tenham sido agredidos.
De acordo com Sara, três pessoas foram levadas pelos agentes e deixadas em outra rua, sem explicações sobre o motivo. Questionada pelo DN, a PSP apenas informou que “foram identificados três indivíduos e comunicado ao Ministério Público”.
O DN enviou pedido de esclarecimentos ao Ministério da Administração Interna (MAI) sobre a atuação dos polícias. A resposta foi uma “sugestão” de contactar a PSP sobre o assunto.
Sábado de protestos
As ruas da Baixa-Chiado, no fim da tarde de sábado, foram palco de uma manifestação do grupo 1143, contra uma alegada “islamização” do país. Inicialmente o protesto estava marcado para ocorrer no Martim Moniz, onde reside um grande número de imigrantes. No entanto, não foi autorizada pelo elevado risco de segurança.
O grupo não desistiu e marcou o ato para o Largo de Camões, com marcha até à Câmara Municipal, já perto do Cais Sodré. Mais de 100 pessoas desceram às ruas com tochas acesas, foguetes luminosos e aos gritos em homenagem ao ditador Salazar, contra os imigrantes que vivem em Portugal e a cantar o hino nacional português. No grupo, onde seguiam várias crianças, ainda se viram saudações nazis. Durante o caminho, os nacionalistas ainda ouviram gritos de oposição - com invetivas de “não passarão” -, mas não foram registados confrontos.
No Largo do Intendente houve um arraial multicultural, com a presença de diversos coletivos e entidades de apoio aos imigrantes. O ato teve apresentações musicais, discursos e confeção de cartazes. A polícia esteve presente, mas nenhum incidente foi registado.
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