Ana Jorge: "Não me revejo em nada do que a ministra disse"
Ana Jorge rejeitou esta quinta-feira as acusações da ministra do Trabalho, Maria do Rosário Ramalho, na gestão da Santa Casa da Misericórdia. "Não me revejo em nada do que a senhora ministra disse", afirmou a provedora exonerada pelo Governo, depois de ouvir as duras cíticas da governante na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão.
Em entrevista na SIC Notícias, Ana Jorge rejeitou, por exemplo, a acusação de inação na gestão da Santa Casa e de ter usado a bengala do Estado durante o tempo que esteve à frente da instituição, o que não chegou a um ano: "Não é essa a minha interpretação, nem da Mesa, nem da grande generalidade dos trabalhadores da Santa Casa. Antes pelo contrário".
"Ao fim de um mês de lá estarmos tomámos medidas reais de contenção de custos", começou por garantir, para depois criticar Maria do Rosário Ramalho. "A senhora ministra também disse que devíamos ter feito a venda de 60 milhões de património da Santa Casa para não termos um passivo tão grande. E eu pergunto se isso é uma boa medida de gestão?", questionou Ana Jorge, indicando que o património da instituição representa uma das fontes de rendimento da Santa Casa.
Na mesma entrevista, a provedora exonerada disse que tinha como objetivo "reestruturar a casa por dentro", porque "uma casa que tem mais de 6 mil trabalhadores e tem cerca de 400 chefias não é funcional". Ana Jorge lembrou que, a 12 de abril, levou à ministra um relatório, dando conta das medidas que começaram a tomar "em junho de 2023".
O objetivo era "reduzir custos com o pessoal" e aplicar "uma politica de contenção com gastos muito grande", referiu. "E conseguimos fazer isso", acrescentou Ana Jorge, que aproveitou para esclarecer que não foi contra a anterior Mesa, mas sim contra "os negócios ruinosos do Brasil".
"A primeira coisa que tivemos de fazer foi estancar a saída de dinheiro da Santa Casa para o Brasil", disse. "Nós não interrompemos os negócios do Brasil", reiterou Ana Jorge, explicando que, em maio de 2023, a Santa Casa recusou a ida de mais de 9 milhões de euros para os negócios do Brasil.
"A Santa Casa não poderia ser o banco dos negócios que estavam a ser feitos no Brasil", justificou. "Era uma rede de 11 empresas, era uma rede muito complexa. Nós suspendemos a ida de dinheiro, não suspendemos a atividade", repetiu.
Afirmando que não tem de saber de gestão para ser provedora, Ana Jorge assegurou: "Nunca agi em proveito próprio".
A provedora exonerada afirmou ainda que não sabe se vai avançar com uma ação judicial contra o Estado perante a forma como saiu da Santa Casa. "Não pensei nisso ainda. Eu não gostei. Não sei se o vou fazer. Preciso de refletir, de terminar as funções, de fazer a passagem da pasta".
Considerou também que a Santa Casa "pode ter um futuros risonho" com "uma gestão muito apertada".
Disse estar disponível para uma comissão parlamentar de inquérito sobre a gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, já pedida pela IL, Chega e BE, para que "toda a verdade possa ser falada".
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social está a ser ouvida na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, a pedido dos partidos Iniciativa Liberal e Partido Socialista, por causa da situação financeira da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), a internacionalização dos jogos sociais e a exoneração da Mesa da provedora Ana Jorge.
Maria do Rosário Ramalho reiterou que não se tratou de uma exoneração política, mas antes justificou que teve a ver com a "situação gravíssima" da instituição e o facto de a Mesa não ter tido a atuação adequada perante essa situação.
"A situação financeira muito grave da Santa Casa já vem da anterior Mesa, mas agravou-se com a anterior provedora [Ana Jorge]", afirmou a ministra.
A ministra apontou que, assim que tomou posse, procurou inteirar-se da situação financeira da SCML, tendo "confirmado" que, além de uma "situação gravíssima", havia "divergências entre os membros da Mesa", que levou à quebra da relação de confiança com a provedora.
"Quero deixar claro que a decisão de exonerar a provedora e a Mesa não tem quaisquer fundamentos políticos, como já foi dito, mas sim fundamentos de gestão a que se associa à perda irremediável de confiança", apontou a ministra.