Mulheres desempregadas sofrem mais que os homens

Trabalho do projeto Emprego Saudável ajudou a aumentar o bem estar psicológico de quem procura emprego. Também ficaram a saber mais sobre depressão e ansiedade
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As mulheres desempregadas sofrem mais que os homens, os desempregados com filhos têm mais conhecimento sobre a ansiedade e quem procura o primeiro emprego tem mais bem estar psicológico do que aqueles que já passaram por este processo. Estes são alguns dos resultados do projeto Emprego Saudável, um trabalho focado na promoção da saúde mental nos locais de trabalho e nos grupos mais afetados pela crise económica, e vai ser apresentado hoje.

O trabalho, que está a decorrer no Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e é financiado pelo mecanismo de fundos europeus EEA-Grants, incidiu sobre os desempregados e profissionais das instituições que lidam com eles, como centros de emprego, segurança social, serviços de saúde, autarquias e instituições de solidariedade social. A cada grupo foi dada uma formação específica sobre vários temas. Entre eles o que é a ansiedade e a depressão, o estigma ligado ao desemprego e doença mental, promoção da saúde mental, satisfação no trabalho e prevenção de burnout.

"Trabalhamos a promoção da saúde mental e a prevenção do sofrimento psicológico. O desemprego é um determinante para uma saúde mental pior. Dos vários resultados que encontramos neste trabalho um deles foi que as mulheres desempregadas têm menos bem estar psicológico que os homens. Existem duas possíveis explicações: a expectativa que o reemprego é mais fácil para os homens do que para as mulheres no geral, o que lhes dá uma perspetiva mais negativa, e as mulheres têm uma prevalência de depressão que é o dobro da dos homens. Também vimos que quem procura o primeiro emprego tem uma expectativa mais positiva do que os que procuram o reemprego. Para estes será quase um déjà vu e vão-se tornando menos esperançados", disse ao DN Maria João Heitor, coordenadora do projeto. Depois das formações foi feita uma avaliação ao grupo: metade dos participantes melhorou o bem-estar psicológico, mais de um terço ganhou mais conhecimentos sobre ansiedade e 47% sobre a depressão.

Por uma saúde mental positiva

Em resultado da informação recolhida na avaliação das intervenções feitas com os profissionais e desempregados o grupo está a elaborar um documento com recomendações dirigidas ao poder político e a outras entidades. "Podem ajudar na construção de uma estratégia de política pública saudável. Como por exemplo, a valorização do trabalho em equipa, melhorar a comunicação dentro das organizações com reuniões regulares para que todos possam ser ouvidos e envolvidos na tomada de decisões - os profissionais consideraram que esta medida pode aumentar a motivação e resiliência face ao dia a dia -, a criação de atividades que promovam o bem estar dentro das instituições - é muito importante ter locais de trabalho saudáveis pois uma boa saúde mental aumenta a produtividade - e desenvolver mecanismos para promover melhores transportes públicos - esta foi uma queixa comum a funcionários e desempregados", exemplifica.

As recomendações passam ainda pela criação de uma formação em saúde mental a dar aos desempregados inscritos nos centros de emprego, que permitirá terem mais capacidade para identificar sinais de alerta e onde procurar ajuda, e por um sistema de monitorização que use indicadores multissetoriais - saúde, emprego, segurança social, autarquias - que permitam ter uma visão geral sobre a dimensão de desempregados, que recursos utilizam e quais os que poderão ser criados. Por exemplo, disponibilizar mais formação em literacia para o bem-estar ou respostas de apoio psicológico nos serviços de saúde.

Minuto de pausa no telemóvel

A equipa apresenta também hoje uma aplicação para telemóvel dirigida a desempregados, pessoas em trabalhos temporários e profissionais que lidam diretamente com esta população focada em estilos de vida saudáveis. No imediato, a Happi, vai estar disponível ao grupo envolvido neste projeto, mas o objetivo é que fique disponível à população geral em breve. "Vai ter vários módulos como alimentação saudável, exercício físico e questionários sobre o bem estar para automonitorização. Vai ainda ter links de serviços úteis onde as pessoas podem recorrer. A app também tem Um Minuto de Pausa: música relaxante para ajudar a descontrair", diz.

Estudo

Quando foi feito: Trabalho teve início em abril de 2015 e termina a 30 de novembro. As formações (20 horas) junto dos desempregados decorreram entre março e abril de 2016 e junto dos profissionais (workshop de 8 horas) em maio deste ano

Desempregados: As ações realizaram-se em Loures e Sines. A amostra de desempregados tinha entre os 21 e 64 anos, em número quase igual de homens e mulheres, inscritos no centro de emprego há menos de um ano. 8% da amostra procurava emprego pela primeira vez. 129 desempregados participaram no estudo, de 87 recolheram dados antes e depois da intervenção

Profissionais: Participaram 176 funcionários dos centros de emprego, segurança social, instituições de solidariedade social, entre outras. Nem todos estavam em serviços de atendimento direto a desempregados ou trabalhadores temporários

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