Alunos mais "pobres" têm melhores resultados no Norte e Centro

Estudantes tendem a obter piores resultados nos exames da disciplina de Matemática, em relação a Português, especialmente ​​​​​​​no 9.ª ano de escolaridade.
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Por todas as regiões de Portugal, as condições financeiras das famílias continuam a ser um motivo que influencia as notas dos alunos. Ainda que já existam estratégias para criar igualdade nas escolas e promover a regionalização, as diferenças de salários dos pais ainda acabam por se refletir nos resultados finais dos mais novos, crescendo cada vez mais as desigualdades socioeconómicas na área da educação.

De acordo com o mais recente estudo do EDULOG (o think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo), as diferentes notas entre os alunos variam não só tendo em conta as possibilidades económicas, como também podem variar "consoante o município em que residem".

Neste contexto, as regiões do Norte e do Centro do país são aquelas onde os alunos mais "pobres" conseguem obter as melhores notas. Já na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e nos municípios da margem sul do Tejo, os resultados "tendem a ser pior".

O estudo "Da Desigualdade Social à Desigualdade Escolar nos Municípios de Portugal", feito em parceria com a Nova School of Business and Economics (NOVA SBE), confirma esta situação, dando o exemplo de um município em que apenas 8% dos alunos com estatuto socioeconómico baixo têm nota positiva no exame de Matemática do 9º ano, enquanto um outro município tem 65% dos alunos com o mesmo estatuto a obter a mesma classificação.

Aliás, tendo em conta os exames nacionais, esta investigação indica ainda que as notas da disciplina de Matemática são, no geral, piores do que as de Português, havendo ainda uma tendência para os resultados serem piores no 9.º ano comparativamente com os no 4.º e 6.º anos.

Esta situação pode ser explicada uma vez que as várias localidades são influenciadas pelo "segregação dos alunos entre escolas, a estabilidade das estruturas familiares, o capital social local e as condições de emprego e salariais em cada região". Isto porque nas áreas em que há mais emprego jovem, as notas tendem a ser mais altas.

"Nas regiões com melhores oportunidades no mercado de trabalho existe um maior investimento e pressão nos alunos para terem melhores desempenhos tendo em vista uma melhor valorização no mercado de trabalho, o que leva a uma maior desigualdade entre famílias com mais e menos capacidade de investimento na educação dos seus filhos", pode ler-se no documento.

Já quanto ao percurso escolar dos estudantes, existem também disparidades consoante os municípios. Em outros termos, a percentagem de alunos com menos possibilidades e que atingem o 9º ano sem chumbar varia entre 22% e 71% consoante a localidade, e a percentagem que consegue chegar ao 12º ano varia entre 42% e 88%.

A investigação aponta ainda para a existência de "a curva do grande Gatsby" - um fenómeno em que as áreas geográficas com maiores desigualdades de rendimentos tendem a ter menor mobilidade social. Logo, nas áreas em que existe mais população, os alunos "pobres" têm mais dificuldades em obter boas notas.

Este padrão pode ser explicado uma vez que as "famílias com um maior capital humano têm uma maior propensão para investir na educação dos seus filhos, pelo que as desigualdades são transmitidas de pais para filhos, e deste modo nas regiões com maiores desigualdades económicas tendem a existir maiores desigualdades nos resultados escolares", segundo o estudo.

Além disso, o resultado desigual dos estudantes "conduz a que alunos menos favorecidos estejam em escolas com menos recursos ou com menos ambições para os seus alunos, assim como menor exposição a colegas e a modelos de referência de sucesso", refere.

O estudo "Da Desigualdade Social à Desigualdade Escolar nos Municípios de Portugal" foi feito tendo como base os resultados dos exames nacionais e o percurso escolar dos alunos (desde o ensino básico ao secundário), entre os anos letivos de 2007/2008 e 2017/2018, do ensino nacional, público e privado de 278 municípios de Portugal Continental. Já o nível socioeconómico dos alunos foi obtido através da habilitação escolar, emprego e nível de rendimento dos pais.

ines.dias@dn.pt

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