Ana Jacinto: "O Alojamento Local está metido num grande sarilho, porque as medidas aprovadas são muito perigosas"

10 perguntas à queima-roupa, 10 respostas na ponta da língua. Nova rubrica do DN desafia personalidades a comentar assuntos quentes do país e do verão. Hoje é a vez da secretária-geral da AHRESP - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal
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Estado do país...
O estado do país podia ir melhor, pelo menos no que respeita às atividades que a AHRESP representa, que é o que mais me interessa, porque ao mesmo tempo que o turismo é reconhecido como o motor do país, da nossa economia, vamos sofrendo uns ataques desnecessários. Veja-se o que aconteceu recentemente com a aprovação do pacote Mais Habitação, em que se pôs em causa um setor importantíssimo do turismo, que é o Alojamento Local. Veja-se o que está a acontecer com as acessibilidades, designadamente com o novo aeroporto. Mais um adiamento.

Estado da hotelaria?
Tem estado bem. Sucessivamente a bater recordes. O turismo está a crescer, como sabemos. No que diz respeito ao alojamento, os números continuam a ser muito interessantes, no que respeita à restauração, também continuam a crescer, mas temos de estar cautelosos e atentos. A AHRESP fez recentemente um inquérito aos seus associados. Embora estejamos a crescer, toda a restauração que está mais dependente do consumo interno, por razões óbvias - porque o poder de compra do consumidor interno também está a diminuir -, essa restauração está a sentir alguma diminuição da procura. Portanto, temos de estar atentos a estes indicadores.

Alojamento Local?
Viva o Alojamento Local! Sendo que não é isso que o nosso Governo pensa. O Alojamento Local está metido num grande sarilho, porque as medidas aprovadas são muito perigosas: levam a que os empresários que investiram, criaram emprego, geraram riqueza, reconstruíram verdadeiros centros urbanos, regeneraram edifícios que estavam a cair... não tiraram habitação. A escassez de habitação, um problema que é gravíssimo, não se combate eliminando o Alojamento Local. Mais um erro que foi cometido e vamos pagá-lo bem caro. Porque, se houver procura, o Alojamento Local não vai desaparecer, vai continuar, só que vai cair na informalidade, que era tudo o que não queríamos.

Fator preço?
No que diz respeito à hotelaria, há de facto aqui uma evolução no preço significativa: tivemos uma inflação enorme e a hotelaria o que fez foi ajustar a inflação ao preço e conseguiu fazê-lo, porque tem um cliente muito internacional e conseguiu isso com alguma facilidade. Já a restauração não conseguiu fazê-lo com essa facilidade: subiu alguns preços, é um facto, mas andou a engolir, digamos assim, muito daquilo que foi a inflação.

IVA zero?
O IVA zero tem um efeito nulo para a restauração, como sabemos, porque o IVA zero é um IVA nas compras, é para o consumidor. Nós, o que precisávamos, e a AHRESP tem sistematicamente solicitado e insistido, é de baixar o IVA dos serviços de alimentação e bebidas. Tivemos, de facto, uma baixa do IVA dos 23% para os 13% no que diz respeito às comidas e a algumas bebidas, mas ficámos com a maioria das bebidas a 23% e, portanto, temos aqui esta nuance que precisávamos de uniformizar. Só as bebidas de cafetaria é que ficaram a 13%.

Esta medida constou de várias resoluções, como sabemos, e acabou por nunca ser concretizada. E era importante voltarmos a esta medida, além de outra que a ARESP tem defendido, que é, de uma forma temporária, reduzir mesmo a taxa dos 13%, nem que fosse por um ano. Para quê? Para dar tesouraria às empresas. Porque, numa fase em que as empresas ainda não se restabeleceram totalmente e porque o Governo insiste em não baixar a carga fiscal no que diz respeito ao rendimento do trabalho, era importante termos tesouraria para podermos, apesar do esforço e do aumento que temos feito sistematicamente no que diz respeito aos salários, teríamos ainda mais capacidade financeira para o fazer.

Talento...
É importantíssimo. Temos uma dificuldade tremenda em reter talento, em contratar trabalhadores. O turismo é a indústria da felicidade, temos de passar esta mensagem: o setor permite uma progressão na carreira como em poucos setores, mas é um setor que trabalha 24 horas por dia e que em contraciclo com outros: trabalhamos nos feriados, nas férias e, portanto, é normal que haja aqui um esforço que hoje o perfil do trabalhador e dos jovens sintam alguma dificuldade e pouca atração. Precisamos de encontrar soluções e mecanismos que criem atração, porque precisamos destes talentos e precisamos de reter talentos. Não passa só pela retribuição: é uma componente muito importante e temos vindo a fazer um esforço muito grande, fechámos contratos coletivos com aumentos significativos, perto de 18%. Mas atrair mais jovens e até temos de trazer imigrantes.

Local para um novo aeroporto?
Não temos nenhuma opção pelo local. O que queremos é uma decisão rápida.

Um destino de sonho?
Japão, porque tenho algum fascínio pelo Oriente, pela organização, pela disciplina, talvez.

O que não podia faltar nestas férias?
Mar, Sol e praia. Se em Portugal? Também.

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