Alerta mamíferos. Mais de 26% estão ameaçados
Foi na terça-feira. Velho e doente - tinha 45 anos, já não podia sequer pôr-se de pé, nem comer, tinha os músculos afetados e ferimentos na pele, por todo o corpo -, Sudan, o último macho de rinoceronte-branco-do-norte (uma das duas subespécies do rinoceronte-branco, a outra é a do sul) foi sujeito a eutanásia na reserva de Ol Pejeta, no Quénia, da qual era o animal mais emblemático. Apesar de já se esperar este desfecho há semanas, apesar de existirem ainda duas fêmeas vivas e de estar em projeto uma última tentativa de reprodução com o recurso a técnicas de fertilização in vitro, na prática, o que aconteceu foi que assistimos em direto à extinção de mais uma subespécie de grande mamífero, que era também um ícone.
Sudan representava, na prática, todos os mamíferos que hoje estão ameaçados no planeta, e que já são mais de 26% das cerca 5,5 mil espécies existentes a nível global, de acordo com últimos dados, de 2017. Ou seja, a situação já piorou desde 2015, porquanto, há dois anos, a taxa de mamíferos ameaçados era de cerca de 25%. E o que isso isso significa é que as ameaças, com a perda acelerada dos habitats, as mudanças abruptas causadas pelas alterações climáticas ou a caça furtiva não pararam de agravar-se, apesar de todos os alertas e de todos os programas e ações de conservação para estancar a perda de biodiversidade.
Orinoceronte-branco-do-norte tornou-se passado, mas há muitas outros mamíferos igualmente emblemáticos que, a breve prazo, estão ameaçados do mesmo destino. Entre os muitos que se encontram nessas circunstâncias no mundo, o DN selecionou alguns, pela sua carga simbólica. São primatas, um felino e um cetáceo, mas poderiam ser outros, que estão igualmente ameaçados. Eles aí ficam, bem como o essencial das suas histórias e das ameaças que enfrentam, mas também do que é possível fazer para que não passem um destes dias, também eles, a fazer parte da lista das espécies que já se foram.
Gorilas sob densas brumas
No continente africano há mais de duas centenas de espécies de mamíferos que entre as classificações de "vulnerável", "em perigo" ou "criticamente em perigo" estão considerados como "ameaçados". O elefante africano (Loxodonta africana), por exemplo, com populações em 37 países do continente, tem neste momento o estatuto de "vulnerável", o menos grave dos ameaçados, mas tal como para a maioria das espécies em perigo, os dados mostram que tem sofrido quebras acentuadas, sobretudo por causa da perda acentuada de habitat e e da atividade incontrolada dos caçadores.
Muito pior, porém, está a subespécie dos gorilas-das-terras-baixas (Gorilla gorilla gorilla), cujo estatuto de conservação é "criticamente ameaçado". Eles só existem hoje numa pequena área geográfica da costa ocidental africana, entre o sul dos Camarões, Guiné Equatorial, Gabão e Congo, embora o seu número de efetivos seja virtualmente desconhecido.
Estes gorilas distinguem-se das outras subespécies pelo seu tamanho um pouco menor, com uma altura máxima de 1,67 metros, e um peso a rondar os 180 quilos, e a sua população caiu em mais de 60% nas duas últimas décadas. A sua recuperação, mesmo que terminassem agora as ameaças que pesam sobre eles, como a perda de habitat e a caça furtiva, levaria 75 anos, segundo os biólogos.
Um leopardo no leste da Rússia
Com pouco mais de 60 indivíduos ainda no estado selvagem, refugiados na floresta temperada no extremo leste da Rússia e da China, o leopardo-de-amur (Panthera pardus orientalis) é considerado um dos felinos mais ameaçados do mundo. Medidas de conservação, como a criação recente de uma reserva na parte russa do seu habitat, parecem ter estancado, pelo menos por agora, a queda deste felino solitário, cuja principal ameaça é a dos caçadores furtivos - matam-mo para lhe retirar e vender a pele.
Orangotango no fio da navalha
Nas últimas seis décadas, a população do orangotango-do-bornéu (Pongo pygmaeus) - o nome, deve-o ao da própria ilha, uma das maiores do mundo, cujo território está tripartido entre a Malásia, a Indonésia e Brunei - ficou reduzida a menos de metade. Embora com cerca de cem mil indivíduos ainda em estado selvagem, a espécie está classificada como "criticamente em perigo". Os números mostram por que é assim. Levantamentos no terreno revelaram que só nos últimos 16 anos desapareceram cerca de 160 efetivos da espécie devido a perda acelerada de habitat, que no mesmo período caiu para menos de metade e, mais uma vez, por causa da caça furtiva. A este ritmo, e se nada for feito, a espécie corre para a extinção na próxima década.
Um pequeno cetáceo na América
Chamam-lhe Vaquita (Phocoena sinus), não excede 1,5 metros de comprimento e é considerado atualmente o mamífero marinho - trata-se de um pequeno cetáceo, aparentado ao golfinho - mais ameaçado do mundo, que se considera estar à beira da extinção. Descoberto apenas em 1958, vive numa zona costeira muito delimitada do Golfo da Califórnia, estimando-se que já só subsistam 30 indivíduos da espécie.