Mesmo com a greve das empresas de handling Menzies (antiga Groundforce) e Portway, o movimento no aeroporto de Lisboa parecia típico da data festiva. Filas longas para os portões de embarque, mais filas para os que precisavam de renovar o passaporte à última hora e muitas pessoas à espera na zona de chegadas no dia seguinte ao Natal, atestou o DN. Quem programou viagem para este dia, geralmente movimentado em todos os aeroportos do mundo, já veio preparado para algum imprevisto. Foi o caso de Athos Moraes, 29 anos, que fez escala em Lisboa na sua primeira viagem à Europa, com destino a Varsóvia, na Polónia. “Esta época é sempre cheia e eu também sabia da greve, a companhia avisou, por isso estou de olho nas mensagens”, conta ao DN o brasileiro, que é empresário e nasceu em Recife. O turista estava a torcer para que não houvesse nenhum atraso, especialmente à chegada, para não correr o risco de perder a ligação aérea. “Felizmente o avião chegou até meia hora antes do previsto”, comenta o brasileiro, que diz ter planeado esta viagem há mais de um ano e meio. Mas há também quem não soubesse da greve. Carla Lopes e o filho de seis anos, que seguiam viagem para Cabo Verde, chegaram ao aeroporto com antecedência, mas não tinham conhecimento da paralisação. Ficaram apenas surpresos com a longa fila nos portões de embarque. .Athos Moraes estava atento.Leonardo Negrão.Nos painéis espalhados pelo aeroporto não se viam avisos de cancelamentos ou grandes atrasos nos voos, tanto nas chegadas como nas partidas. No entanto, Carlos Oliveira, dirigente sindical do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), assegura que há constrangimentos que não aparecem nos painéis, nomeadamente aviões de carga parados e também informações diferentes nas aplicações às quais os funcionários do aeroporto, que prestam assistência em terra (handling), têm acesso. “Nestas aplicações, como a FLIC, da TAP, não há manobras”, explica, enquanto mostra, à reportagem do DN, alguns atrasos que tem registados no telemóvel. “A nossa greve, de duas horas à entrada e duas à saída, causou constrangimentos operacionais”, frisa o dirigente sindical. No entanto, uma avaliação mais completa da greve nestes dias será divulgada esta sexta-feira pelo sindicato. O que Carlos Oliveira adianta é que a paralisação teve “grande adesão” dos trabalhadores. “A greve teve impacto. As pessoas aderiram porque estão infelizes e cansadas”, diz. No total, a empresa Menzies possui três mil profissionais que atuam em diferentes áreas. Ao mesmo tempo, afirma ter recebido relatos de funcionários jovens ainda não efetivados na Menzies que foram pressionados a não aderir à greve. “Isto é de uma manipulação selvagem que estão a fazer”, critica o sindicalista, que trabalha no aeroporto há 30 anos. O sindicato vai entrar com uma ação contra a empresa por violação do direito à greve.”Deram ordens diretas para pressionarem os trabalhadores, que só poderiam fazer um período de greve. Ou à entrada, ou à saída, ou seja, isto é uma grave violação à lei da greve”, alega. Além destas questões, na raiz da convocação da greve está a reivindicação do sindicato de que a empresa deixe de ter ordenados abaixo do salário mínimo nacional, de 820 euros neste ano e 870 euros a partir de 1 de janeiro de 2025. “Este valor de ordenado é proibido, é ilegal, a lei é explícita”, argumenta. Outras reivindicações são o pagamento de horas noturnas pelo valor previsto no acordo e o fim da cobrança aos funcionários pelo uso de parque de estacionamento quando levam carro próprio para trabalhar. Segundo Carlos Oliveira, os horários de entrada e saída dos turnos nem sempre são compatíveis com os dos transportes públicos da cidade. .Carlos Oliveira, dirigente sindical.Leonardo Negrão.O dirigente relembra que foram realizadas reuniões com partidos políticos - à exceção do Partido Social Democrata (PSD) e Bloco de Esquerda (BE). “Da esquerda à direita, todos concordam que não pode haver ninguém no mercado de trabalho a ganhar abaixo dos 820 euros”, ressalva, acrescentando que a reunião com os políticos não resultou em medidas práticas. O sindicato está a tentar na justiça a alteração do valor. No dia 18 de dezembro, o SIMA foi convocado para uma reunião por videoconferência com a empresa, mas afirma que não houve espaço para negociação. “Eu estava com esperança junto aos meus camaradas que se calhar íamos negociar e desconvocar a greve”, recorda. Questionado se para 2025 espera um ano melhor, o dirigente sindical não está otimista. “Não tenho esperanças, mas não abdicamos da defesa dos trabalhadores e sempre com a verdade pura e dura”, alega. O sindicato já está a planear novas greves para o ano, caso as reivindicações não sejam cumpridas pela empresa. Além dos trabalhadores da antiga Groundforce, também os da empresa Portway estão com greve marcada para este período do Natal e Ano Novo. A greve convocada pelos sindicatos abrange todo o trabalho suplementar, com início à meia-noite de dia 24 de dezembro de 2024 e até à mesma hora de dia 1 de janeiro de 2025. Há também um novo pré-aviso de greve de 24 horas, a partir das 00h00 do dia 31 de dezembro (tal como aconteceu esta quinta-feira). A paralisação abrange também o trabalho em dia feriado que seja dia normal de trabalho, até 2 de janeiro de 2025. O DN contactou a ANA e a Menzies sobre o impacto da greve mas não obteve resposta até ao fecho desta edição..amanda.lima@dn.pt