Admirar arte e respirar ar puro, na Quinta do Pisão
Considerada um caso de estudo em matéria de conservação da natureza, biodiversidade e desenvolvimento de turismo responsável, a Quinta do Pisão, localizada a norte de Cascais, a caminho da Malveira da Serra, no sopé da serra de Sintra, conta agora com uma nova instalação artística que visa sensibilizar o público para “a inteligência invisível do nosso ecossistema”.
O apoio a projetos defensores de causas ambientais que fomentem a ligação humana ao espaço natural, levou a Cascais Ambiente, a delegação da Câmara de Cascais que integra a Agência Europeia do Ambiente, a desafiar Sofia Barros, diretora de arte ligada a projetos ligados à natureza, arte, ambiente e educação, para desenvolver uma instalação artística que representasse e salvaguardasse estas causas.
Sofia Barros apresenta assim a intervenção “Uma Semente Cria Uma Floresta”, concebida pelo artista ambiental alemão Roger Rigorth. O ponto de partida da intervenção é um carvalho “Quercus Suber”, espécie protegida pela lei portuguesa. Sobre este foi aplicada uma espécie de “casulo” que nos remete para uma forma que se repete na natureza: uma semente (neste caso uma bolota) ou o ventre de uma mãe, e que nos traz uma mensagem positiva que gira em torno do conceito inerente da inteligência invisível do nosso ecossistema, que o capacita para a evolução, proteção e sobrevivência.
Na mitologia nórdica e celta, a bolota simboliza a interconexão da vida e dos ciclos da natureza. Cientificamente, as sementes contêm todas as informações necessárias para fazer crescer uma árvore inteiramente nova simbolizando assim a criação de algo muito maior – a sobrevivência.
A obra é executada com uma estrutura de ferro e com uma “tecelagem” de corda. O seu autor Roger Rigorth, inspira-se na sua observação atenta do ambiente que nos rodeia e na sua sensibilidade, notando que “a forma oval é uma estrutura recorrente. Se a observarmos com atenção percebemos que ela é perfeita: a partir de uma semente pode nascer uma floresta inteira. A cooperação está inscrita no ADN da natureza. Há um sentido de evolução, de continuidade, de proteção...”
Roger Rigorth considera que a natureza se tem tornado banal nos discursos globais e muitas vezes vazia de significado, apesar de se falar muito dela e das alterações climáticas . O que pretende com a sua arte - e com esta obra em particular, é que. mais do que falar sobre ela. Quer que “ as pessoas a sintam” porque “só através dessa ligação pode haver um regresso às raízes, à ligação efetiva com o mundo natural”, diz. E acrescenta: “Não sou um professor nem um guru, mas se conseguir que, através desta obra, as pessoas consigam reconectar-se com a essência e que a verdadeira regeneração aconteça, então ficarei feliz!”.
Para Sofia Barros, a diretora de arte do projeto, “todas as respostas estão escritas na natureza. Ela está à nossa frente sempre a contar-nos alguma história”. É com esta convicção que parte à procura de artistas com experiência, com fortes ligações à natureza e trabalho em ambiente outdoor para desenvolver projetos de arte ambiental.
“Não faço arte apenas pela arte. Para mim é essencial que tenha um propósito”, garante Sofia, para quem o papel fundamental do seu trabalho é “acrescentar valor às comunidades através de intervenções artísticas que provoquem discussões necessárias em relação a tópicos cruciais como as alterações climáticas, a ligação com a natureza, entre outros. Há um claro caminho pedagógico no âmago do meu trabalho”, conclui.
A Quinta do Pisão situa-se a norte de Cascais, no sopé da serra de Sintra, e está inserida no Parque Natural de Sintra-Cascais. Representa um património paisagístico de grande importância, quer pela diversidade da fauna e flora típicas desta área, quer pelas ruínas de valor cultural e arquitetónico.