A importância de ser irmão de ministro
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A importância de ser irmão de ministro

O regime dava tudo para evitar o isolamento internacional em que se deixara colocar pela sua teimosia colonial. O DN chamava-lhe “o problema africano”. Rui Patrício, MNE, andava por estes dias em Paris, ao serviço desse esforço.
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Cada vez mais isolado, e com a Guerra Colonial sem fim à vista - muito pelo contrário, sobretudo na Guiné-Bissau, onde o PAIGC, com os seus mísseis Strela 2-M, reduzira a nada a superioridade aérea da tropa portuguesa  -, o regime agarrava-se a tudo o que pudesse para se defender.

Se fosse um chefe de Governo ou um ministro estrangeiro a fazer uma declaração favorável tanto melhor. Mas se fosse apenas o irmão de um ministro então serviria à mesma. Foi assim que se fez a manchete da edição do DN em 8 de janeiro de 1974.

“Depois do que vi acredito na vossa política ultramarina”, era o título, a que se acrescentava um pós título explicativo: “Afirma o irmão do ministro dos Negócios Estrangeiros da Holanda depois de visitar Angola e Moçambique”.

Tratava-se do dr. Gaartbvan Loest, apresentado também como “presidente da comissão holandesa para a Educação”, que “durante uma semana visitou Moçambique, depois de ter passado três semanas em Angola”.

Numa notícia que o DN ‘picou’ da ANI (Agência Nacional de Informação), o dr. Loest era extensamente citado. Por exemplo, ao dizer que tinha saído de Moçambique “bem impressionado” apesar de só ter lá estado uma semana, pelo que, segundo ressalvava, ainda não lhe teria sido possível “assentar ideias”.

A isto o irmão do MNE holandês acrescentava que a “multiculturalidade” portuguesa era “um facto”, sendo essa a “mais eficiente arma” para o “combate” aos “inimigos” de Portugal. “Dentro de cinco anos creio que os vossos problemas quanto ao terrorismo estarão resolvidos. Para isso basta que a grande maioria de pessoas de Moçambique se consciencialize politicamente. Não posso deixar de afirmar, depois do que vi, que acredito na vossa política ultramarina e que ela é eficiente e dará bons frutos”, afirmou.

Loest falou também de Angola, onde ficou “bem impressionado” com tudo o que lhe foi “dado ver”. Angola, na sua opinião, caminhava “a passos largos para um bom futuro”. E o que mais o surpreendera naquele território fora o seguinte: “Nem os ricos não são muito ricos nem os pobres são muito pobres”.  Ou seja:  é um “bom sinal” de que “a riqueza existente está bem dividida”.

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