À caça dos Pokémons na Avenida da Liberdade
O Pokémon Go está aí por todo o lado. O DN desceu a avenida com Catarina Perez, uma fã do novo jogo, para ver como é
O jogo só tem uma semana em Portugal mas Catarina Perez já conseguiu apanhar 66 das 150 criaturas saltitantes, e atingir o nível 16. do Pokémon Go. Quando o número 16 apareceu com um pequeno plop no écran do telemóvel, ela não se conteve ."Yeah, já está".
Catarina, 22 anos, é uma fã de sempre dos Pokémons. A verdade é que não se lembra de aqueles bonecos coloridos não fazerem parte da sua vida. "Aos cinco anos deram-me um peluche e um poster com os Pokémons todos, são mais de 700, e à noite, antes de adormecer, em vez de livros de histórias, pedia à minha mãe que lesse os nomes dos Pokémons, um atrás do outro. Ao fim de um tempo, ela também já sabia aquilo tudo de cor. Agora, quando vou a casa, em Faro, vamos juntas para a rua à procura de Pokémons e às vezes o meu irmão também vai connosco", conta divertida.
Catarina não gosta muito da expressão caçar Pokémons. "Parece uma coisa de ir à caça, com tiros, ou assim, e não é nada disso. O objetivo é apanhá-los e guardá-los num arquivo virtual. Também há quem faça coleção de selos ou de outros objetos, não é?", justifica.
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Para "jovens" de todas as idades
O Pokémon Go, com a sua mistura de realidade e de bonecos coloridos e irrequietos parece ser o jogo pelo qual a Catarina e muitos outros jovens da sua geração, que cresceram com todas estas personagens endiabradas nas consolas e nos desenhos animados, estavam à espera. Mas não são só eles.
A febre parece ter apanhado "jovens" de todas as idades, que começa a ser fácil distinguir na rua: vão de telemóvel em punho, a olhar, ora o écran, ora em volta, absorvidos num enredo que só eles veem e conseguem entender.
Catarina Perez não gosta da palavra febre aplicada ao jogo. E no seu caso, "não é febre nenhuma", garante. Sim, joga todos os dias, quando tem oportunidade e quando lhe apetece, uma vezes sozinha, outras com os amigos. Saem, vão juntos a qualquer lado, e aproveitam para apanhar Pokémons, um aqui, outro além. "É giro", diz ela, mas garante que também conversam sobre outras coisas e riem juntos, divertem-se em grupo. Até porque não dá para estar sempre a sempre a jogar. Nuns sítios há mais Pokémons, noutros há poucos, às vezes nenhuns.
Na Avenida da Liberdade, haverá Pokémons? "Há com certeza, eles estão quase por todo o lado", diz . E se fôssemos ver?
Catarina aceita de imediato o desafio, e lá vamos, Avenida da Liberdade abaixo, num fim de tarde ventoso, em busca dos bonecos de que toda a gente fala, mas que só é possível ver com a aplicação certa no telemóvel.
Um ginásio no Marquês
O encontro ficou combinado no Marquês de Pombal, à porta do Diário de Notícias e logo ali o Pokémon Go já tem muito que se lhe dia, com uma série de pontos quentes, como os chamados ginásios ou as Pokestops. Nos primeiros há lutas entre Pokémons, ou melhor, entre jogadores, através dos respetivos bonecos. Nas segundas pode-se ir buscar as Pokebolas, que são essenciais para apanhar os Pokemons quando eles passam por perto.
No ecrã do telemóvel, onde está a estátua que nos habituámos a associar aos garridos festejos de vitórias futebolísticas, surge, não o Marquês imponente, ladeado do seu leão, mas um dragãozinho colorido, que de vez em quando dá uns saltos e abre as asas.
"Ali há um ginásio", aponta Catarina. "Aquele é o Pokémon de alguém que venceu a última luta neste local, por isso ficou ali", explica Catarina. E ela poderia ir ao ginásio, desafiar o dragão, e pôr lá um dos seus Pokémons? "Sim, podia. Mas tinha de ter um mais forte e eu já tenho alguns fortes, mas não dos mais fortes", esclarece.
Portanto, nada de ginásio. Com a aplicação ligada, Catarina varre o espaço, aponta o telemóvel aqui e ali e olha o écran. Se fosse antes do Pokémon Go, até podia parecer que estava a a tirar fotografias. Mas, não. O objetivo agora é outro: é reconhecer todo o espaço em volta, mas dentro do jogo, numa mistura de imagens e de desenhos que pode confundir quem não está habituado a caçar Pokémons. Não é o caso de Catarina. Ela trata o jogo por tu.
A realidade aumentada
Formada em Ciências da Comunicação na Universidade de Faro - nasceu na capital algarvia e viveu ali até há cerca de um ano -, Catarina Perez veio para Lisboa para estagiar numa empresa de videojogos. Gostou da experiência, e depois as coisas aconteceram de forma natural. "Participei numas filmagens para um anúncio na MTV e convidaram-me para colaborar no canal de televisão por cabo Nickelodeon", conta. Começou por participar em alguns eventos e agora é apresentadora deste canal destinado aos mais novos.
A Faro, agora, só vai mais ou menos de três em três semanas. E quando vai, não faltam os safaris em busca dos Pokémons. "Até o meu irmão agora já vai para a rua por causa da jogo. Dantes era o dia todo no computador, pouco saía".
Essa faceta de ar livre do jogo é um dos grandes seus grandes aliciantes, na opinião de Catarina. "Dantes jogávamos na consola, era tudo virtual. Agora não, temos esta realidade aumentada, o espaço real da cidade, onde encontramos os Pokémons, e eu sou a minha própria personagem. Estou ali", diz, e aponta no écran do telemóvel a sua figurinha, que vai deslocando no mapa, e sobre a calçada. Afinal, "este é o primeiro jogo de realidade aumentada", em que tudo se mistura, o cenário em volta, e os bonecos de cores intensas que de repente surgem no écran, a saltitar ou a esvoaçar, como se estivessem mesmo lá, na realidade. "É quase assustador", comenta Catarina com uma pequena risada. Isso ajudará a justificar o entusiasmo generalizado com o jogo.
Mais ginásios, menos bonecos
Caminhamos e a expectativa é grande. Mas antes, um novo ponto de interesse: o histórico edifício do Diário de Notícias, ex libris de Lisboa, que os autores do Pokémon Go decidiram assinalar com uma fotografia e a legenda "O jornal mais antigo de Portugal, com 150 anos". No jogo, ali está uma Pokestop, um daqueles pontos onde é possível recolher à borla - tudo virtual, claro - Pokebolas novas para capturar os Pokémons.
Catarina abasteceu-se e lá vamos, calçada abaixo, à procura dos bonecos. Ela aponta o telemóvel em várias direções -além, mais um ginásio, e mais Pokestops, quase uma cada estátua - e passados uns minutos lá surge um boneco azulado a esvoaçar no ecrã do telemóvel. O telemóvel vibra a avisar. "É um Zubat, dos mais comuns, a malta que joga até diz que é uma praga", explica Catarina, que decide capturá-lo na mesma, "para ganhar pontos de experiência".
Seguimos viagem, o telemóvel volta a vibrar. Desta vez é um ovo. O Pokémon está a incubar e isso significa que o jogador, se quiser apanhar aquele, vai ter de percorrer uns quilómetros a pé: três no caso de o boneco ser um dos mais comuns, cinco se for um pouco mais especial e 10 se for um dos difíceis, como os cromos difíceis das cadernetas de antigamente. Catarina espreita verifica o ovo e decide que não vale pena: são três quilómetros para uma banalidade.
Ar livre e algum exercício
Lá prosseguimos, então, a caminhada mas, até aos Restauradores, só aparecem mais dois ou três Pokemons, depois de Catarina ter usado um incenso virtual para tentar atraí-los. Isso traz-lhe um novo Zubat , logo a seguir um Clefairy, uma espécie de porquinho saltitão, e ainda um Colbet, um pássaro rasteiro que volta e meia abre as asas e dá uns saltinhos desajeitados.
"Uma das coisas que me agrada é que é preciso sair de casa para jogar, não se fica ali agarrado ao computador. Isso obriga as pessoas a fazer algum exercício", diz esta fã incondicional dos Pokémons. Tão incondicional que há dois anos tatuou no braço uma das Pokebolas com que se apanham os bonecos. "É como se tivesse sempre um Pokémon comigo", diz. Mesmo assim, ela vai continuar a apanhá-los no jogo. Já tem 66, ainda lhe faltam muitos para os 150. Mas não tem pressa, nem tenciona correr perigos para o conseguir. Aliás, ela não acredita muito em histórias de pessoas que caíram de penhascos porque estavam a jogar. "Penso que é mito, pode-se jogar e estar na mesma atento à realidade à volta", garante.