841 novos casos de VIH. Muitos ainda são diagnosticados tarde
No ano passado dos novos casos notificados 161 já tinham critérios clínicos de sida. Três cidades portuguesas - Cascais, Lisboa e Porto - assinam Declaração de Paris para serem cidades Via Rápida na eliminação da doença
Entre 2000 e 2016 o número de novos casos de infeção por VIH desceu 73,5%. No ano passado foram 841, "o mais baixo dos últimos 15 anos" destacou o secretário de Estado da Saúde, Fernando Araújo, após a apresentação do relatório do Programa Nacional para a Infeção VIH, Sida e Tuberculose 2017. Apesar da melhoria, dos 665 casos em que havia resultados das células CD4 - que são as defesas imunitárias - 57% foram diagnósticos tardios.
Durante a apresentação dos resultados Isabel Aldir, a diretora do programa nacional, salientou que dos 841 novos casos notificados, 161 chegaram aos serviços de saúde já com critérios clínicos de sida. "Ainda chegam aos serviços pessoas com diagnóstico de doença em fase muito avançada", apontou, explicando mais tarde que este é um dos dados a que o programa "vai estar muito atento e monitorizar nos próximos meses" de forma a ter certeza se se tratam de diagnósticos tardios ou um efeito viés na notificação com os médicos a declararem primeiro os casos mais graves.
O número de mortes manteve-se semelhante à de 2015, na ordem dos 120 óbitos. Uns são situações de pessoas que viviam com a doença há mais tempo, outros "em que o óbito se verificou pouco tempo depois do diagnóstico". "É uma doença traiçoeira que se mantém sem dar sintomas durante muitos anos e isso faz com que as pessoas possam chegar ao sistema de saúde em fase já muito avançada da doença. E são pessoas que normalmente não se identifica como tendo um comportamento de risco. É mais frequente acontecer no grupo das pessoas que se infeta por transmissão heterossexual", explica Isabel Aldir.
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A médica defende que o teste do VIH "deve ser feito pelo menos uma vez na vida" pois "só assim podemos ter acesso aos cuidados de saúde que poderemos necessitar". No ano passado realizaram-se mais testes nos centros de saúde e nas unidades móveis das organizações não governamentais. Resultados, que a juntar aos restantes, fazem os responsáveis políticos e do programa acreditar que Portugal vai alcançar até 2020 a meta da ONUSIDA de 90% dos casos diagnósticos, destes 90% em tratamento e destes 90% com carga indetetável (reduz risco de transmissão). Segundo o relatório, os dois primeiros já estão.
Mais de 60% dos diagnósticos foram nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal. "Faz todo o sentido Portugal associar-se ao Fast Track Cities", destacou Isabel Aldir, referindo-se à assinatura da declaração de Paris feita ontem por Lisboa, Cascais e Porto. As três cidades irão estabelecer estratégias locais para reduzir a infeção e chegar mais próximo dos grupos vulneráveis. Para Luiz Loures, vice-diretor executivo da ONUSIDA, "Portugal pode começar a discutir o fim da epidemia", destacando a existência de legislação nacional contra a discriminação.
Taxa de notificação da tuberculose caiu quase 50%
No ano passado foram notificados 1836 casos de tuberculose, dos quais 1699 foram novos casos, deixando a taxa de notificação nos 17,8 por 100 mil habitantes. "Reduzimos em quase 50% das taxas de notificação e incidência", destacou Isabel Aldir, referindo-se aos dados de 2000. O relatório refere a notificação de 19 casos em crianças com idade igual ou inferior a 5 anos. Questionado sobre a vacina da BCG só ser dada a crianças de grupos de risco, o secretário de Estado da Saúde Fernando Araújo disse que "o número de casos está controlado" e que "a decisão foi tomada nos mais exigentes critérios técnico-científicos".