60 anos do Ispa, o instituto pioneiro da psicologia em Portugal

Nasceu como "uma pequena instituição no âmbito das congregações religiosas" e, seis décadas depois, é "a escola de referência da psicologia" em Portugal, responsável por formar várias gerações de psicólogos, realça a reitora Isabel Leal.

Com olhos postos nas gerações futuras, o Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (Ispa) celebra este ano 60 capítulos de história que acompanharam a mudança de perceção da saúde mental no país. Dividido entre as áreas da Psicologia, Educação e Biociências, o instituto orgulha-se de ser a primeira Instituição do Ensino Superior a introduzir o estudo da Psicologia em Portugal.

Em conversa com o DN, a reitora Isabel Leal conta que a área da Psicologia nem sempre foi encarada com a devida importância, ao contrário do que acontece atualmente. "Há 60 anos a Psicologia era uma coisa subversiva e revolucionária. Portanto, só foi consentida porque, quem a introduziu, fê-lo no âmbito das congregações religiosas", explica.

Seis décadas depois da sua inauguração, o Ispa celebra agora o impacto da instituição, que acompanhou os sinais dos tempos e o "trajeto da sociedade", que levou à integração desta área de estudos no país.

"Estes 60 anos foram o tempo da naturalização... de construir e afirmar uma disciplina que acompanha a sociedade. Antigamente as pessoas não sabiam o que faziam os psicólogos. Com o avançar dos tempos, a psicologia chegou a ser um fenómeno de moda e hoje é uma área perfeitamente adquirida, uma vez que as pessoas entendem que os psicólogos intervêm nos mais diferentes níveis sociais, desde a promoção da saúde à economia e ao ambiente", esclarece a reitora.

Segundo Isabel Leal, a "pequena instituição que nasceu no âmbito das congregações religiosas" é hoje um instituto universitário reconhecido e "a escola de referência da Psicologia no país", responsável por formar várias gerações de psicólogos.

Com "algumas licenciaturas, muitos mestrados e bastantes doutoramentos", o Ispa tem vindo a aumentar, ano após ano, o seu número de candidatos e conta, no atual ano letivo, com uma nova licenciatura em Ciências Cognitivas e do Comportamento. De acordo com a reitora, o mais recente curso "tenta aproveitar aquilo que é o conhecimento psicológico ligado à computação, investigação e às novas tecnologias. É destinado a um público jovem, up-to-date e que quer fazer carreira na investigação ou em áreas mais digitalizadas. É o primeiro curso deste tipo em Portugal."

Este novo curso comportamental visa abordar uma das muitas atuações da Psicologia. De acordo com Isabel Leal, a psicologia "não é apenas uma profissão, mas um conhecimento que está ao serviço de muitas profissões".

"A psicologia está ligada às mais diversas atividades - desde a comunicação ao marketing, à publicidade, aos recursos humanos, e até ao mundo digital. No Ispa, estamos agora a investir nestas áreas e esperamos que seja desafiante para os jovens que têm interesses de fusão", defende.

Tendo em conta os sinais dos tempos e as dificuldades mais recentes, como a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia, Isabel Leal congratula a "naturalidade" com que a psicologia é, nos dias de hoje, falada em Portugal: "Todos nós acabámos por perceber que, em contextos de trabalho, organizacionais e até educacionais, a psicologia faz parte da vida e é uma ferramenta para estudar um conjunto de fenómenos. A pandemia levantou muitas questões quanto à saúde mental e é curioso verificar como o mundo se psicologizou com a guerra através de fenómenos como o medo, que trouxeram uma centralidade àquilo que é a vivência psicológica dos indivíduos."

Nesse sentido, e tendo em consideração que "vivemos num mundo em constante mudança", a reitora considera que "é inevitável" o aumento da necessidade de orientação psicológica. "Quanto mais sofisticadas, informatizadas, digitalizadas, mecânicas forem as sociedades, maior necessidade têm de acompanhamento individualizado", diz.

Entre corredores, auditórios, na biblioteca e nas salas de aula... a arte está presente pela escola, sendo um dos principais motes da instituição. Malangatana é um dos artistas em grande destaque, havendo ainda várias obras feitas por psicólogos e uma exposição dedicada ao aniversário da instituição.

"Temos uma cultura muito ligada à arte e uma perspetiva humanista - priorizamos o lado humano da ciência, no sentido em que queremos ser científicos, mas tentamos conjugar isso através do cuidado com os nossos alunos. Tudo isto é o que nos distingue", diz a responsável.

Para assinalar 60 anos de história, o Ispa prevê algumas iniciativas científicas, culturais e convívios inseridos num "programa de festas que pretende reencontrar os antigos alunos da instituição". Os eventos, organizados maioritariamente pelos alumni, contemplam concertos, teatros, conferências, e almoços com as diferentes gerações, relembrando cada década da primeira Instituição do Ensino Superior de Psicologia.

ines.dias@dn.pt

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