48% do país está em seca severa a extrema. Há um ano era 100%

O outono que se aproxima poderá ser marcado por temperaturas "acima do normal" mas também pela probabilidade igual de haver precipitação 40 a 50% acima do normal.
Publicado a
Atualizado a

Portugal tem 48% do território em situação de seca severa a extrema, contra 100% no ano passado nesta época do ano. Esta informação foi revelada esta sexta-feira pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, após uma reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca.

O ministro revelou que a situação mais grave se verifica no sul do país, com o litoral alentejano e a zona do Algarve, em particular o barlavento, a serem as zonas mais críticas e de "maior stress" no que diz respeito à seca. Lembrou, no entanto, que a situação há um ano era mais grave com 100% do país em seca severa a extrema.

Duarte Cordeiro afirmou ainda que as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para as próximas semanas apontam para alguma precipitação que "ajudará o país", mas que não será suficiente para alterar a situação de seca. O ministro acrescentou ainda que as previsões do IPMA indicam que no próximo outono as temperaturas poderão estar "acima do normal" embora haja igualmente probabilidade de ocorrer precipitação de 40% a 50% acima do normal.

Sílvia Moutinho, vice-presidente do Conselho Nacional da Quercus, reforça a falta de medidas da parte do Governo para mitigar as situações de seca que afetam Portugal. "Infelizmente há uma falta de medidas sérias para responder a isto. Enquanto continuarmos assim, continuaremos a caminhar para a catástrofe climática".

Quanto às albufeiras que são analisadas pela agência Portuguesa do Ambiente estão com 72% de capacidade. "Estamos numa situação melhor do que estávamos no ano passado, mas mais uma vez a situação é assimétrica no país", assumiu Duarte Cordeiro, acrescentando que em relação ao Algarve o contexto é pior do que no ano passado. O volume de água nas barragens do Algarve é 30% inferior ao verificado no ano passado, nesta época.

Segundo o ministro, as medidas de mitigação dos efeitos da seca resultaram numa redução de 14% no consumo de água para uso agrícola no sotavento algarvio. "Conseguimos também alargar a utilização de água reciclada a mais dois campos de golfe naquela zona do território", precisou. No total, a redução de consumo de água no Algarve foi de cinco hectómetros cúbicos face ao ano passado.

A redução foi especialmente no setor agrícola, de acordo com o ministro, que pretende reforçar a sensibilização para a redução do consumo urbano, "Há muito trabalho a fazer no setor urbano". Duarte Cordeiro deixou um apelo aos consumidores para moderarem o consumo nos serviços, na hotelaria, e de uma forma geral.

A seca prolongada em Portugal tem também afetado as explorações pecuárias no país. A falta de água e a escassez de cereais para alimentar os animais fez com que alguns produtores tenham diminuído o tamanho dos rebanhos e mesmo terminado a atividade neste setor.

Para mitigar a atual situação, o Governo vai decretar a suspensão temporária dos títulos de utilização e captação de águas subterrâneas no aquífero Tejo-Sado para uso agrícola, informou o ministro do Ambiente.

Esta será uma suspensão temporária para avaliar a recuperação do aquífero durante o outono; caso essa recuperação aconteça, a suspensão será levantada.

Sílvia Moutinho lembra que esta é uma zona em que existe agricultura intensiva com rega gota a gota. "Ninguém fala das escolhas da agricultura nesta zona, das escolhas feitas para a distribuição e uso de água e sobretudo, ninguém fala da adaptação às alterações climáticas", diz.

A vigilância deste aquífero faz parte de uma intensificação da vigilância destas formações geológicas por parte das autoridades, podendo resultar em processos de contraordenação e notificações de regularização administrativa.

Duarte Cordeiro disse também que será fiscalizado um novo aquífero no Algarve, o de Querença-Silves, com monitorização de todas as captações nomeadamente a fiscalização do uso indevido de furos.

"A Quercus espera que existam realmente respostas claras e efetivas de adaptação às alterações climáticas e não pequenos pensos rápidos que no final não são soluções estruturais", afirma Sílvia Moutinho.

sara.a.santos@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt