14 milhões para recuperar bairro social da Amadora
Paredes meias com um dos maiores centros comerciais da região metropolitana de Lisboa fica o bairro do Casal da Mira. Se de um lado da estrada as pessoas fazem compras, em lojas mais ou menos luxuosas, do outro há pobreza, desalento e degradação. “O bairro tem 21 anos e foi construído com material que não está preparado para aguentar tantos anos sem manutenção. Nas casas, há sempre humidade, por muito boa que seja a tinta com que se pintam as paredes”, começa por dizer Gonçalo Flores, que ali mora há 18 anos, “Vim em criança. De há dez anos para cá que o bairro tem vindo a degradar-se e a câmara não faz obras”, lamenta este lojista.
Face à degradação crescente dos edifícios, mas também do espaço envolvente e arruamentos, um grupo de 80 moradores entregou um abaixo assinado, no dia 14 de fevereiro, à câmara municipal da Amadora (CMA) e aos deputados municipais, denunciando a situação nas habitações camarárias e no espaço público, pedindo uma reunião urgente com a autarquia. O documento foi ainda assinado pela associação Mira Ativa e pelo movimento Vida Justa. “O bairro está horrível, é um bairro esquecido”, lamenta Gonçalo Flores.
As situações são muitas e afetam, todos os dias, quem ali mora. “Os elevadores, por exemplo, no meu prédio, estão degradados, apesar de haver ocasiões em que vem uma equipa de manutenção. Alguns não param em certos pisos e há outros que param com as pessoas lá dentro e tem de se ligar aos bombeiros para as ir resgatar”. Os prédios têm quatro andares e a falta de elevadores “dificulta muito a vida aos mais idosos mas também a pessoas que têm mobilidade reduzida”, acrescenta este morador.
Quanto aos elevadores, a CMA, que promete obras para o bairro em breve, responde que a degradação se deve, em boa parte, a atos de vandalismo. “As avarias registadas são de desgaste normal, mas importa também esclarecer que se registam avarias de origem negligente, tais como forçar/partir portas de patamar, urinar no elevador ou danificar botões”, avança a autarquia, ao DN. Gonçalo Flores contrapõe: “Claramente que há vandalismo mas os elevadores não estão degradados por causa do vandalismo. A ferrugem não aparecer por causa do vandalismo”. E dá outros exemplos de problemas no edificado do bairro do Casal da Mira: “Não deixa de funcionar a eletricidade do prédio por causa de vandalismo. Não há interruptores para ligar a luz no prédio e tal não é por causa do vandalismo. É porque os interruptores, com o tempo, avariam-se e não há manutenção”.
O movimento Vida Justa elenca, também, uma série de questões que estão por resolver neste bairro da periferia de Lisboa. “Nas habitações do bairro há graves infiltrações, provocadas por falta de manutenção das coberturas e empenas dos edifícios, colocando em perigo a saúde pública e provocando a insalubridade das casas”. Este movimento cívico conhece bem o bairro e adenda: “A estes graves problemas, acresce a inexistência ou avaria de portas de entrada, de caixas de correio ou campainhas, a falta de iluminação nas zonas comuns, tetos falsos e clarabóias destruídas que colocam em perigo os moradores e a falta de inspeção de instalações de gás”.
Face a esta situação a CMA promete que irá requalificar este bairro, que é da sua responsabilidade. “O município da Amadora vai intervir no bairro do Casal da Mira, em 39 edifícios, correspondendo a um total de 760 fogos e ao mesmo número de agregados familiares. A reabilitação visa melhorar as condições de habitabilidade, nomeadamente ao nível da segurança, saúde e bem-estar de segmentos populacionais generalizadamente carenciados e a redução da pobreza energética das famílias com baixos rendimentos que residem no bairro”.
Entretanto, o município candidatou-se a financiamento, para levar a cabo as obras, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), num custo total previsto de 14 milhões de euros. Servirão para reabilitar os prédios mas também o espaço público envolvente.