Foi pelo “aumento do salário justo e necessário”, a pedir “paz sim, guerra não” e a salvaguardar “o direito à liberdade sindical, que é constitucional” que milhares de pessoas fizeram os 2,5 quilómetros entre a praça do Martim Moniz e a Alameda Dom Afonso Henriques, assinalando assim mais um 1.º de Maio (o 51.º em democracia).Com o cortejo a ser liderado pelo secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, que organiza anualmente o desfile e o comício que o encerra, foi em frente à sede do PCTP/MRPP, ali bem na esquina entre as ruas da Palma e de São Lázaro, que tudo se iniciou. E foi também aí que uma comitiva do PS (liderada pelo deputado Miguel Cabrita) se dirigiu ao líder da central sindical para endereçar votos de um bom 1.º de Maio, como manda a tradição deste dia. Ainda assim, os socialistas “não são incólumes às políticas que têm sido seguidas”, disse Tiago Oliveira ao DN. “Se passados todos estes anos continuamos a ter as mesmas dificuldades, isso é graças às políticas que têm sido seguidas”, isso significa que “é necessário relembrar: as políticas são sempre feitas na base da razão de que há um rumo que deve ser seguido. Se sempre foi assim até aqui, o que é que podemos concluir? Que aquilo que nos vendem há décadas é um logro, uma mentira”.Com isto, o secretário-geral da CGTP (que fez esta quinta-feira o seu segundo 1 de Maio na liderança sindical) deixou um “apelo muito claro”: a 18 de maio, quando os trabalhadores forem votar, “levem a farda de trabalho vestida. O patrão vai votar consoante os seus interesses, e esses são completamente opostos aos dos trabalhadores. É preciso romper com este rumo”..O desfile arrancou passados alguns minutos. A primeira de várias paragens foi poucos metros à frente, junto à sede do Bloco de Esquerda, onde a coordenadora do partido, Mariana Mortágua, bem como Fabian Figueiredo (líder parlamentar) e a deputada Joana Mortágua, se juntaram ao cortejo. Nas declarações que fez no local, a líder do BE considerou que há “muito caminho para andar” no que toca aos direitos do trabalho. O país é melhor, disse, se “for capaz de respeitar quem trabalha”, nomeadamente os trabalhadores por turnos, precários ou informais.Antes, já Rui Tavares, do Livre, tinha dito sentir-se “muito bem” neste dia, que tem “uma carga identitária muito forte” e que transporta para um “futuro que tem de ser de solidariedade”. Inês de Sousa Real, do PAN, destacou ainda que o país continua a “ter uma grande precariedade” e que “as famílias e classe média” não podem continuar a empobrecer.Com as bandeiras dos diferentes sindicatos no ar e ao ritmo da percussão do conjunto Batucando, entoavam-se os cânticos da ordem, exigindo melhores condições de trabalho e aumentos salariais. Entre miúdos (eles próprios a darem o mote para os ‘gritos de guerra’ da manifestação) e graúdos estava Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, que foi muito aplaudido quando apareceu a meio do percurso. Aí, o líder comunista olhou para a manifestação, disse ser uma prova de força e pediu “uma vida melhor, mais salários, mais pensões, menos precariedade e direito à habitação e saúde” para quem trabalha.No final do encontro, já sob o sol tórrido que acompanhou o percurso, e por entre sardinhas e bifanas das barraquinhas que ladeavam a Alameda, a CGTP fez o seu tradicional comício. Em frente à Fonte Luminosa, a central sindical aprovou a sua resolução, onde ficou plasmada a exigência de, entre outros, haver “em cada empresa e local de trabalho um aumento dos salários em 15% num mínimo de 150 euros”. E tal como já havia feito, Tiago Oliveira reforçou o pedido de rutura “urgente” com a política que se tem seguido, num rumo “que afirme um novo modelo de desenvolvimento, soberano, que promova a produção nacional, o aumento geral e significativo de todos os salários e pensões, a garantia e melhoria dos direitos dos trabalhadores”.UGT concentrou-se no JamorDe manhã, foi a vez de a UGT iniciar, no Centro Desportivo Nacional do Jamor, em Oeiras, as comemorações do 1.º de Maio (que terminaram com uma atuação do músico Toy).Nessa concentração, Mário Mourão, secretário-geral da UGT, relembrou os acordos feitos com o Governo na concertação social e defendeu que, não obstante as eleições, o foco deve ser cumprir o que está alinhavado. “Quem vier, terá de cumprir com os compromissos que assumiu connosco. Terá de cumprir os acordos assinados na concertação social”, afirmou o líder sindical, focando-se também no facto de existirem “40% de desempregados que são pobres” e que esse é um “problema” que deve ser resolvido pelo Executivo.Se pudesse, o que mudava hoje no trabalho em Portugal?Nesta manifestação do 1 de Maio, o DN perguntou a três pessoas de diferentes gerações o que dissessem o que mudariam, caso conseguissem, na legislação laboral.Mariana Fernandes (Consultora informática, 26 anos)A precariedade dos contratos de trabalho dos jovensTenho 26 anos e sou consultora de informática, e acho que se pudesse mudar algo seria a precariedade que vejo nos vínculos. Não que eu a sinta diretamente, mas vejo-a muito, há muita gente à minha volta com vínculos precários e isso é frustrante. A minha geração luta contra isso diariamente. Gostava que todos tivéssemos menos precariedade e mais segurança. Seria um bom sinal. Ou, pelo menos, que lutássemos todos juntos contra esta situação.Por isso, vim ao 1.º de Maio. Estou aqui pelos valores de Abril e pela defesa dos direitos dos trabalhadores. Sobretudo eu, que sou uma pessoa na iminência de subir de classe, sinto não posso deixar tudo para trás, nem posso trair quem me criou e me educou nem os valores que me deram..Raul Rasga (Professor de História, 54 anos)Melhor escola pública e um debate sobre o futuro da educaçãoÉ absolutamente necessário voltar a ter uma contratação coletiva que dê poder aos trabalhadores. Essa alteração que a troika trouxe e que não foi revertida, tem diminuído a capacidade de aumentar sálarios, por exemplo, ao mesmo tempo que tem reduzido muitíssimo a possibilidade de os trabalhadores lutarem pelos seus direitos. Tenho 30 anos de serviço, sou professor de História e considero que é, também, necessário repensar o que queremos fazer da Educação em Portugal. A reposição justíssima do tempo de serviço não foi um aumento salarial. Necessitamos de um debate sobre a escola que queremos. A escola pública está a morrer e é preciso mudar isso. Quando deixar de ser a escola de todos, ela morre. Aí passamos a ter uma escola para pobres e uma escola para ricos. É preciso atuar rapidamente para evitar isso..Arminda Brás (Funcionária pública, 68 anos)Mudar quase tudo e dar mais reconhecimento a quem trabalhaSou funcionária pública. Mas não fui sempre, por isso vivi noutros contextos. Trabalhei numa livraria primeiro. Depois passei para aquilo que, na altura, era a Misericórdia e depois foi um hospital público. Só aí fui integrada na função pública. Portanto, tenho experiência no setor. Posso dizer que, se conseguisse fazê-lo, mudaria quase tudo no mercado de trabalho em Portugal. E por acreditar nisso e defendê-lo, costumo vir ao 1.º de Maio. Acho que as condições dos trabalhadores são fracas e precárias. Quem trabalha tem pouco reconhecimento. Isso precisa de ser mudado e os trabalhadores precisam de ter mais reconhecimento, melhores condições de vida e de trabalho e a precariedade deve terminar. Mudava mesmo tanta coisa, enfim, quase tudo..Imaginação à solta. O que se leu nos cartazes do 1.º de Maio?.Secretário-geral da CGTP apela a que trabalhadores votem "com a farda vestida"