É possível arrefecer Lisboa? Um grupo de especialistas acredita que sim e vai propor soluções
Um grupo de peritos nas áreas do urbanismo e sustentabilidade vai apresentar ao Executivo municipal um plano de regeneração urbana para que Lisboa possa reagir às alterações climáticas, especialmente no combate ao aumento da temperatura da cidade.
O documento com as sugestões do grupo de trabalho, formado por 12 especialistas, vai sair do workshop multidisciplinar ReThink Lisbon: Climate & Regeneration Proposal 2030, que está a decorrer no âmbito da 9.ª edição do festival de arquitetura Archi Summit, no Hub do Beato.
O objetivo é olhar para formas de mitigar os efeitos do aquecimento global no dia a dia dos lisboetas. Entre os problemas identificados despontam as ilhas de calor, zonas da cidade onde as temperaturas são mais elevadas do que nas circundantes, geralmente devido à falta de árvores e espaços verdes e à concentração de estruturas com maior capacidade de retenção térmica.
"O vento fica cortado com os edifícios. Os edifícios aquecem a sua superfície exterior, refletem a radiação e, portanto, isso significa que há uma diferença de temperatura entre a cidade e as zonas que estão à volta da cidade. E essa diferença pode chegar a 6ºC", explica ao DN Filipe Duarte Santos, professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável.
"A zona do Parque das Nações é uma zona muito permeável, que tem pouca estrutura verde, por exemplo, é uma delas. As zonas mais altas de Lisboa, em que os ventos da zona ribeirinha não chegam lá, como a zona do Areeiro, a zona da Alta de Lisboa, por exemplo, não têm acesso à ventilação e muitas delas também têm pouco espaço verde para a população", afirma, por seu lado, ao DN o arquiteto Diogo Lopes Teixeira, co-fundador do gabinete 'hori-zonte', que é o responsável pela iniciativa do grupo de trabalho.
O arquiteto explica que os fenómenos climáticos, como ondas de calor, causam impacto direto à saúde das pessoas. "O conforto térmico é um termo um bocadinho mais técnico que é utilizado muitas vezes para o interior dos espaços, para as habitações, mas também para o exterior. Gera problemas graves, doenças respiratórias e, sobretudo, para uma população mais envelhecida e mais sensível. Isto gera até algumas tragédias, existem mortes associadas e doenças acrescidas. Portanto, aqui trata-se de trazer conforto à população e salvaguardar a sua integridade física, mental também, que é muito importante", completa Diogo Lopes Teixeira.
E como combater este fenómeno? Entre as solução que serão entegues à Câmara Municipal de Lisboa, a criação de mais espaços verdes estará incluída.
"A melhor forma de combater as ilhas de calor é haver mais árvores, mais vegetação nas cidades, mais zonas verdes e também mais massas d'água", explica o professor Filipe Duarte Santos.
"Massas d'água são lagos, zonas húmidas, porque a água tem uma maior capacidade térmica e, portanto, não aquece tão rapidamente como o ar. Durante a noite e também durante o dia, a água está numa temperatura mais baixa e isso tem um efeito refrescante. Portanto, esse é um aspeto que me parece muito importante, mas, sobretudo, árvores. A melhor proteção das cidades são árvores. Claro que é necessário encontrar também espaço para estes espaços verdes, não é? Mas isso é perfeitamente possível. É uma questão de prioridades", afirma o especialista.
O documento com os contributos do grupo vai ser entregue à Câmara Municipal de Lisboa na sexta-feira, 11 de julho.